Há filmes tristes. Há filmes melancólicos. Há filmes tristes e melancólicos. E há O Vazio do Domingo (La Enfermedad Del Domingo, título original em espanhol), uma história de infelicidade e sofrimento, norteada pela desesperança profunda no porvir.

Anabel (Susi Sánchez) é uma senhora da alta sociedade espanhola, casada com um dos mais influentes empresários do país. Com ele, além de uma vida fútil, tem uma filha contestadora, mas quem surge durante um jantar filantrópico é Chiara (Bárbara Lennie), filha que Anabel abandonou aos oito anos de idade. Agora com 43 anos, o único pedido de Chiara - e para tanto faz a renúncia de todos os seus direitos - é passar 10 dias ao lado da mãe. E assim elas seguem para a França, numa casa de campo onde moraram décadas atrás.

Dirigido e escrito pelo espanhol Ramón Salazar, O Vazio de Domingo é daqueles filmes em que o silêncio diz muito. As tentativas de reconstrução da relação entre mãe e filha são angustiantes e misteriosas, até porque não fica claro imediatamente qual a real intenção de Chiara ao pedir para ficar perto da mãe tanto tempo depois, na mesma proporção que Anabel não consegue explicar o abandono da filha e do primeiro marido, Mathieu.

As interpretações de Susi Sánchez e Bárbara Lennie são estupendas, mérito de uma direção que faz questão de captar as expressões de ambas com detalhes (a cena da pequena montanha-russa entre a neve é marcante). Elas compartilham, ora com sutileza, ora com clareza, o desespero e a ironia de uma relação quebrada abruptamente e que agora, diante do reencontro, necessita de uma resolução.

A lentidão da narrativa é um trunfo da história e as escolhas visuais (Ricardo de Gracia é o diretor de fotografia) se encaixam perfeitamente no que precisa ser dito e sentido. O Vazio do Domingo é, sim, um filme triste, melancólico e desesperançoso. Mas é também brilhante e necessário. Está disponível na Netflix, que também ajudou a financiar o projeto.