A cara do pai, a voz da mãe. Comparações como essas são corriqueiras na cena artística brasileira, gerando expectativas sobre as novas gerações, seja de aproximação, seja de distanciamento do trabalho dos ascendentes. Em um mercado musical competitivo, estreantes com sobrenomes de peso, como Buarque de Hollanda, Caymmi e Veloso podem conseguir, de cara, abrir diversas portas, assim como gerar constrangimentos.
O Vida&Arte elencou alguns dos artistas da recente cena musical brasileira que tem grandes músicos na família e definem o rumo que querem tomar com suas carreiras a partir disso. Confira:
Velosso
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Força estranha
O primeiro foi Moreno, que já fez parte dos projetos 2, onde lançou seu primeiro disco Máquina de Escrever Música, e a Orquestra Imperial, além de ter lançado o disco solo Coisa Boa, em 2014, e participar da turnê Refavela 40 de Gilberto Gil. Antes disso, ainda criança, foi a voz infantil de Moreno que apareceu na gravação de Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê, de 1982.
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O do meio é Zeca, que já trabalhou com música eletrônica e é o autor de Todo Homem, música de abertura da supersérie da rede Globo Onde Nascem Os Fortes. Enfim veio Tom, que, segundo o pai, por um bom tempo nem gostava de música, mas desde 2011 compõe para a banda carioca Dônica. Estes dois últimos não tinham ganhado grande destaque até o início da turnê que reuniu os três filhos de Caetano Veloso com o pai no palco.
Estes shows vêm apresentando os filhos, em especial os mais jovens, para o Brasil e outros países. O espetáculo esteve em Fortaleza em janeiro deste ano, mostrando o encontro familiar que resultou no disco ao vivo Ofertório.
Para antes dos mais jovens, o ambiente dos Veloso é permeado de música. Moreno, por exemplo, é filho da atriz Dedé Gadelha e afilhado da cantora Gal Costa. Tom e Zeca são filhos da produtora musical Paula Lavigne, com quem Caetano é casado desde meados dos anos 1980. Também fazem parte das influências familiares as tias Nicinha, que gravou Alguém Cantando em 1977 ao lado de Caetano, e Maria Bethânia, um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Eller
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Pequeno grande coração
Francisco Ribeiro Eller foi inicialmente apresentado como Chicão, na interpretação da mãe, da música 1º de Julho, de Renato Russo. Mas atualmente ele se identifica com o nome artístico de Chico Chico.
Depois da morte de Cássia, em 2001, o jovem foi criado pela sua outra mãe Maria Eugênia, companheira da roqueira em vida. Com quase 25 anos, Chico Chico sempre manteve certa distância da imprensa e das inevitáveis comparações da voz e aparência com a famosa intérprete de Malandragem.
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Seu primeiro trabalho autoral foi o disco 2 x 0 Vargem Alta,em 2015, com a banda de mesmo nome. Hoje, prepara um novo CD com a atual banda 13.7. Na agenda está o show gratuito no próximo sábado, 28, na Praia dos Crush.
Buarque
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Paratodos
A caravana dos Buarque de Hollanda é enorme. A história desta família praticamente atravessa o Brasil, saga que Chico Buarque não consegue abarcar nos quatro primeiros versos de Paratodos.
O mais recente membro da família a surgir na cena musical brasileira é Chico Brown. O rapaz de pouco mais de 20 anos na verdade se chama Francisco Buarque de Freitas, mas escolheu como nome artístico a junção do "Vô Ico", apelido de infância dado pelo neto, com o pai, Carlinhos Brown, que foi casado com Helena Buarque de Hollanda até 2011. Foi em Caravanas, disco mais recente de Chico Buarque lançado em 2017, que o garoto ganhou destaque, assinando o instrumental da faixa Massarandupió com o avô. Logo em sequência, o disco tem outra parceria familiar, agora com a irmã de Chico Brown, Clara Buarque, que canta Duetos.
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Também é recente que o herdeiro viaja pelos palcos do País. Ainda sem nenhum disco lançado, Chico Brown esteve em Fortaleza no segundo domingo deste mês, em um show acústico, no estilo voz e piano, no Cineteatro São Luiz, apresentando um repertório que reverencia as suas influências familiares. Para além da MPB, ele também passeia por ritmos como o reggae, rock progressivo e jazz.
O jovem músico chega ao público com a forte recomendação do avô, que identificou em Chico Brown o raro fenômeno "ouvido absoluto", onde a pessoa identifica uma nota musical só de escutá-la. Além disso, Chico Buarque ainda arrisca a declaração que o neto é "o melhor músico da família". Aposta ousada, tendo em vista que o garoto "disputa" com nomes como Ana de Holanda, Cristina Buarque e Miúcha, tios-avós de Francisco.
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Caymmi
Alegre menina
Neta de Dorival, filha de Danilo, sobrinha de Nana e Dori. Alice carrega consigo, além do sobrenome Caymmi, a voz poderosa da família. Começou a compor ainda menina, aos 10 anos, e aos 12 participou pela primeira vez de uma gravação profissional, na música Seus Olhos do disco Desejo, de Nana. Dali pra frente apareceria diversas vezes em apresentações da tia e do pai, inclusive, no encerramento dos Jogos Pan-americanos do Rio, em 2007, cantando O vento de Dorival. Os primeiros passos solo resultaram no disco Alice Caymmi de 2012. Nele, a artista já mostra se diferenciar da MPB e do samba dos antecessores, mas sem deixar de referenciar o avô com uma releitura de Sargaço do Mar.
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Este distanciamento do estilo característico da família viria com mais força logo depois. Em Rainha dos Raios, de 2015, a preferência pelo pop fica mais evidente, como na releitura de Iansã, de Gilberto Gil, e o Princesa, do MC Marcinho. Mas é em Alice, disco lançado em janeiro deste ano, que a artista finca os pés nesta linguagem popular. Além de deixar de lado o Caymmi do primeiro CD, a carioca, hoje com 28 anos, apresenta parcerias com Rincon Sapiência e Pabllo Vittar, lançando, inclusive, um remix de Sozinha no último dia 12.
Alice Caymmi esteve em Fortaleza em junho desde ano, participando do Festival Vida&Arte.
Gil
Tempo rei
A prole de Gilberto Gil é grande, mas não foram todos que se destacaram na música. Logo de cara, dos sete filhos, a mais lembrada é Preta Gil que mistura os ritmos baianos que são marca do pai com batidas eletrônicas e mixagens modernas. O resultado, que pode ser visto nos seus quatro discos já lançados, é muito mais próximo do pop do que da MPB. Como exemplo, a música Decote, do CD Todas as Cores, parceria com Pabllo Vittar.
Bem Gil, cantor, produtor musical e multi-instrumentista, também tem uma vasta produção, desde parcerias com o pai, como nos shows de Refavela 40, até projetos como Mãeana, encabeçado pela esposa Ana Cláudia Lomelino, e a banda Tono, também com a presença do casal. Mesmo independentes do patriarca, a sonoridade das duas empreitadas de Bem é parecida com o samba, MPB e bossa nova do pai.
Nara Gil, a mais velha, também é cantora, participando de alguns trabalhos ao lado do pai. O destaque, porém, veio como atriz, interpretando o DJ Black Boy no seriado Armação Ilimitada, de 1985, da rede Globo. Pedro Gil, outro dos filhos de Gilberto, também trabalhou com música, mas morreu em um acidente de carro em 1990.
Camargo Mariano
Aos nosso filhos
A relação conturbada entre Maria Rita e seu berço de ouro na música brasileira é largamente conhecida. Hoje, a cantora fala abertamente sobre as dificuldades que sofreu no início da vida e da carreira ao ser comparada com a falecida mãe.
Elis Regina morreu de overdose quando a filha tinha ainda quatro anos. Irmã do cantor Pedro Mariano, do baixista Marcelo Mariano e do produtor João Marcello Bôscoli (filho do primeiro casamento de Elis, com Ronaldo Bôscoli), o que mais se esperava era que a voz que encantou o Brasil naquela época fosse herdada pela filha.
E foi, mas ao invés de dádiva, o talento foi motivo de constrangimento para Maria Rita. Quando o pai, César Camargo Mariano, precisou viajar para fora do País, a menina, na época com 16 anos, precisou ir junto. Acabou estudando Comunicação Social nos Estados Unidos e foi só lá, longe das pressões e da fama no Brasil, que ela começou a arriscar passos na música.
Hoje, com oito discos lançados e diversos prêmios acumulados, Maria Rita não carrega mais o peso, falando abertamente sobre o assunto e a relação com a falecida mãe. Sua discografia inclui ainda o CD da turnê Redescobrir, feita em 2012, marcando os 30 anos de morte de Elis.