O que hoje se materializa em equipamentos públicos, estátuas e demais vestígios alusivos ao escritor José de Alencar tem relação direta com a história do País e como ela foi sendo reconstruída. O doutorando em Memória Social Tiago Coutinho remonta a influência europeia no trabalho de Alencar e na sua consequente permanência além-livro. "Na Europa, existe uma lógica de se contar a história e a tradição dos países. Depois da independência política, em 1822, o Brasil se coloca numa posição de não ter História, porque na narrativa oficial o País começa com a descoberta, ignorando a vida que existia antes. O Império brasileiro começa a se preocupar em narrar essa História", contextualiza.
Nesse cenário, José de Alencar publica Iracema, em 1865, apresentando a obra como um mito de fundação do Ceará. Com o sucesso alcançado pelo romance e pelo escritor, o percurso natural, como explica Tiago, é "continuar lembrando" do que a índia e seu criador representam, o que é reforçado nos diversos monumentos Capital afora. "Se as estátuas causam efeito de leitura, acho difícil. Mesmo sem ter lido a obra, os cearenses sabem que Iracema é 'a virgem dos lábios de mel', têm informações mínimas. Não é a estátua que vai fazer com que se leia Iracema", contrapõe, apontando que os rastros do autor não representam necessariamente vínculo com a sua obra. Assim como o Theatro e a Casa José de Alencar, que ganham outras significâncias no imaginário popular.
Essa presença viva no presente foi motivo de comemoração no passado. "O Ceará, que estava na periferia do Império, vê um escritor nascido no Estado ser consagrado nacionalmente. A gente nunca quer ser periferia, estamos buscando formas de nos aproximarmos do centro", aponta. O pesquisador ressalta que Alencar se firmou como "orgulho para a elite intelectual cearense". "Foi uma forma do Ceará tentar se inscrever na história nacional", explica. Orgulho que segue vivo e chega pulsante à Sapucaí a partir do desfile da escola de samba União da Ilha do Governador no próximo Carnaval. O cearense será, mais uma vez, canal para que a história seja reescrita.
Renato Abê e João Gabriel Tréz
Visita Guiada ao Theatro José de Alencar
Quando: terça a sexta, às 9h, 10h, 11h. 14h, 15h, 16h e 17h Sábados, às 14h, 15h, 16h, 17h. Domingos, às 14h, 15h e 16h
Quanto: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia)
Gratuito para grupos de instituições de ensino públicas e ONGs
Agendamento de grupos: (85) 3101 2567
Leia Amanhã
Encontros com Iracema. Como a Cidade se relacionada com as representações da principal personagem de Alencar