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Cinco sentidos de um filme
Vida & Arte

Cinco sentidos de um filme

|AOS MEUS PÉS | Curta-metragem roteirizado, dirigido e produzido por alunos da escola Porto Iracema das Artes foi exibido na 12ª Mostra de Cinema de Belo Horizonte (CineBH)
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A engenhosidade de Aos Meus Pés está em utilizar um elemento simples para explorar a existência de dois personagens. Em um bar, local pouco identificado, há o encontro de Wesley, 18 anos, que adora futebol, e Raymundo, 40 anos. Durante o flerte insosso, os dois trocam cervejas e falam uma série de amenidades. Segundos depois, entretanto, passam para o apartamento de Raymundo - que tem séria obsessão por pés. Conhecido como podolatria, esse fetiche está presente em indivíduos que amam pés. Sim, pés, este elemento pouco explorado sexualmente, mas que, no curta-metragem, se torna objeto central da trama.

 

"A podolatria veio com mais firmeza só depois de um processo de escuta. Tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas que são podólatras ou que já se relacionaram com podólatras, recebi depoimentos e alguns deles eram bem engraçados. Mas não era o tom que eu queria. A tensão do primeiro encontro entre dois homens, um bem mais velho que o outro, me interessava mais", explica Giovanna Damasceno, responsável pelo roteiro. O texto foi fruto do Curso de Férias de Roteiro da escola Porto Iracema das Artes, ministrado por Marcelo Muller em 2017. Das 14 histórias criadas pelos alunos, três foram selecionadas em pitching para alimentar as produções que seriam incluídas no Programa Preamar de Audiovisual do órgão.

 

Um longo caminho foi traçado da aprovação do roteiro até a exibição do curta-metragem durante a 12ª Mostra de Cinema de Belo Horizonte (CineBH), evento de audiovisual que aconteceu na capital mineira. No sábado, 1º de setembro, aproximadamente 50 pessoas ocuparam a sala do Sesc Palladium, tradicional centro cultural da cidade, para assistir a primeira exibição do filme. 

 

"A maioria das pessoas que está na equipe do curta-metragem são alunas do Porto Iracema e vieram dos Cursos Básicos de Audiovisual. Ou seja, eles todos passaram seis meses aprendendo juntos e experimentando juntos, e a realização do curta-metragem tornou-se uma espécie de fechamento desse ciclo", aponta a roteirista Giovanna Damasceno.

 

O filme causa estranheza do começo ao fim. E boa parte da carga está na interpretação de Murilo Ramos e André Ximenes. Isolados na maioria das cenas, os dois conseguem sustentar a curiosidade do espectador pela narrativa e pela obsessão dirigida aos pés. Ao fim, o espectador é surpreendido. "Eu participei mais como um observador dessa interação, entre os dois atores em cena e a intimidade momentânea da narrativa. Daí dessa relação foi feita a decupagem, que tenta capturar os pontos de interesse de cada pedacinho do todo. Algo bem particular né, porque talvez façamos o máximo pra preparar ou controlar, mas que assume vida própria nos momentos da filmagem", explica Felipe Saraiva, diretor de Aos Meus Pés. 

 

Ao longo do filme há, também, diversos detalhes que podem passar sem a percepção do espectador- uma fotografia, um gato atravessando o bar, uma sujeira na parede, a capa de um disco de Belchior. "Gosto um bocado dos espaços do filme, pelos elementos, às vezes pequenos, inseridos. Alguns filmes agregam um pequeno trabalho de detetive ao espectador, para conhecer as personagens, ou quem as concretizou, mesmo se conhecê-las não for o foco", finaliza Felipe.

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