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Espectador que perde
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Espectador que perde

| Sierra Burgess is a Loser | Novo longa juvenil da Netflix peca em vários aspectos e não consegue se amparar sequer no carisma individual de Noah Centíneo e Shannon Purser
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Uma piada infeliz feita no filme Sierra Burgess is a loser gerou críticas na última semana. A protagonista finge ser muda para não entregar sua verdadeira identidade para outro personagem e uma sequência de falas desnecessárias e toscas é disparada - ofendendo a comunidade surda. A cena é lamentável e, apesar disso, não é o maior problema da nova comédia romântica juvenil da Netflix.

 

Depois do sucesso de Para Todos os Garotos que Já Amei e A Barraca do Beijo - que agradaram não apenas o público juvenil, mas espectadores de várias idades e estilos - o longa era a promessa de continuidade do sucesso. Mas Sierra Burgess is a loser, na realidade, pode ser considerado uma sucessão de erros. O filme reforça os piores estereótipos da adolescência, criando dualidades que não se aplicam. Sierra é uma aluna de ensino médio, com talento para arte, filha de pais famosos e focada na universidade. Mas sofre com a baixa auto-estima por ser gorda e, ao longo da produção, o corpo dela é tratado como um obstáculo para a beleza e o progresso.

 

Por engano, um estudante chamado Jamey - que é o quarterback do time de futebol americano da escola vizinha - começa a trocar mensagens de texto com Sierra achando que está falando com uma popular líder de torcida. O argumento até poderia ser bom, mas a execução falhou. Em pleno 2018, temos uma cena da líder de torcida, Veronica, retirando pelos das sobrancelhas de Sierra. Mas desde quando pessoas gordas não são vaidosas? E por qual razão o peso de uma garota a impediria de fazer depilação? Esse tipo de cena pode ter convencido os espectadores em décadas passadas. Hoje não mais. E é apenas um exemplo do tom utilizado em todo o filme.

 

Para a personagem Veronica, vivida pela modelo norueguesa Kristine Frøseth, ficou a condição de ser extremamente bonita, magra e desejada - mas não conseguir entender conceitos fundamentais de Platão e de Nietzsche, apesar de todo o esforço feito pela adolescente nas aulas particulares com Sierra. Ora, novamente, desde quando a beleza é impedimento para uma estudante de ensino médio interpretar um texto? Não podemos negar que Kristine é uma boa atriz - que arranca algumas risadas insossas com sequências engraçadas - mas interpretações individuais não salvam o filme.

 

O longa, aliás, uniu dois queridinhos da Netflix: o ator Noah Centíneo, que ganhou notoriedade pelo papel de Peter Kavinsky em Para Todos Os Garotos Que Já Amei, e a atriz Shannon Purser, a eterna Barb de Stranger Things. Os intérpretes são engraçados e têm até certa química. Mas a relação deles não é suficiente para sustentar a narrativa. Para além disso, os textos são fracos. Sierra não comove ao se indignar por crescer "à sombra dos pais"; Veronica enfrenta a mãe, uma mulher obesa abandonada pelo marido, mas não empolga; Jamey não consegue estabelecer a relação de afeto prometida com irmão caçula.

 

Sierra Burgess is a loser é um exemplo de filme que une atores queridos, tecnologia e recursos para execução, cenários interessantes, figurinos bons, campanha de divulgação seduzente - mas, mesmo assim, não vale a pena as duas horas investidas para assistir.

 

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