Conta Mário de Andrade que Macunaíma foi escrito “em seis dias ininterruptos de rede, cigarros e cigarras”. Estando o autor de férias na Chácara de Sapucaia, próxima a região de Araraquara, no interior de São Paulo, deu-se a rabiscar um livro por “pura brincadeira”. Após o término da primeira versão, várias outras foram sendo aprimoradas até julho de 1928, quando o livro foi finalmente lançado. Ali, nascia uma rapsódia, um conto, uma epopeia - ou seria um “sarapantar” de sons e cores?
"Como cansa escrever deitado!", diria o protagonista e anti-herói. Meio epopéia, meio história picaresca, ainda hoje uma espécie de folclore ronda a obra do autor modernista. Nessa jornada que Oswald de Andrade chamou de “nossa Odisseia”, Mário reuniu os termos que encontrou nas suas muitas andanças pelo país, onde conheceu de perto o folclore para fazer nascer uma narrativa singular, que não se filia e nem se limita.
“Como pesquisador etnográfico, ele realizou diversas viagens ao norte e nordeste do País e tomou contato com diversas culturas”, lembra Rodrigo Marques, do Departamento de Letras da UECE. Com um rico material nas mãos, o autor imergiu nas muitas camadas, facetas e sons da língua vernácula. Encontrando seu deleite no popular e na sua “língua certa do povo” ele recria, em diversos ângulos, uma narrativa completamente avessa às definições óbvias.
Inventividade Linguística
Ubá: Canoa “cantacantando”
Curumim: Criança indígena “mexemexendo”
Icamiaba: Mulher guerreira “justiçadores”
Aimará: Traíra (peixe) "gavionou”
Xispeteó: Ótimo “pensamentear”
Urupema: Cesta “talqualmente”
Cunhatã: Mulher resistente “liberdosas”
Maloca: casa de residência fixa