Da janela do carro, já comecei a entender porque a família real escolheu a região de Cotswolds como refúgio de campo. Não se trata só da calmaria, dos pastos ao longe, dos tons de verde da grama. O charme está nas vilas. As casinhas feitas de calcário em tom dourado, os comércios pequenos e geridos por famílias que se desenvolveram com a história do lugar. Conseguem ser singelos e luxuosos ao mesmo tempo. Únicos.

A região não tem fronteiras oficiais. Seus vilarejos fazem parte de mais de um condado. É pela cor mel dos prédios e histórico de cada um deles que se distinguem quais fazem ou não parte do círculo de Cotswolds. Próximo à vila de Tetbury, a expectativa dos aficionados pela família real é de encontrar o príncipe Charles andando casualmente pelas lojinhas. É possível, dizem. Uma de suas famosas propriedades está nas redondezas. Recém-casados, Meghan Merkel e príncipe Harry também possuem uma casa na região.

"Houve um tempo em que Cotswolds não estava boa. Muito caída. Mas agora, começaram a comprar casas aqui. As pessoas vêm de longe ver nossos chalés e a igreja construída com o dinheiro da lã, que era a de melhor qualidade. Tem muito turista inglês e americano", conta Janet Walter, idosa que mora no vilarejo de Northleach há 21 anos. O chalé na rua curva e calma é somente para ela e seu gato ruivo.

Na época vitoriana, enquanto o resto da Inglaterra se industrializava, puxada pela revolução do maquinário em Londres, Cotswolds permaneceu isolada. Historicamente, a economia se baseia no agronegócio e na fabricação de lã de primeira linha. Os prédios escaparam da influência do século XVIII. Sobreviveram às máquinas e permanecem na cor e no estilo em que foram concebidos. Muitas das casas e palácios da região foram usadas como abrigos, hospitais e orfanatos nos períodos das guerras mundiais.

Santuário de veados selvagens, o parque Dyrham Park, concebido no século XVII, abriga também a casa de um antigo funcionário da Coroa, William Blathwayt. Ele conseguiu sobreviver em meio à guerra religiosa de reis e rainhas anglicanos e católicos e fez fortuna nas colônias. Dentre tantas obras de valor inestimável expostas na casa, uma das preferidas, que ficava um cômodo particular, mostra as plantações de cacau na Bahia. Um detalhe: quanto mais íntimo o cômodo, mais importante é a obra.

Para quem gosta de miniatura, a Model Village (themodelvillage.com) em Bourton on the Water é imperdível. Mesmo quem não é fascinada por mini réplicas, como eu, acaba se rendendo aos detalhes precisos da mini cidade a céu aberto. Por enquanto, ela só pode ser visitada de dia. Construída em 1937, as fiações elétricas não eram fáceis de conseguir. Há ainda uma exibição na parte interna com modelos preciosos.

Apesar da crescente busca turística, Cotswolds ainda é um lugar pouco explorado para os brasileiros. Ao contrário de Londres, não encontrei nenhum compatriota ou cearense por lá, por incrível que pareça. Chegou nossa vez de fazer o movimento inverso ao de 500 anos atrás e descobrir esse mundo antigo.

*A jornalista viajou a convite da Visit Britain

Guia rápido

Transporte: Carros ainda são a maneira mais prática de chegar na região. Há uma linha de trem que circula no coração de Cotswolds, partindo de Oxford. A região fica a oeste de Londres, entre Bristol, Birmingham e Oxford. Nos vilarejos, praticamente todos os percursos podem (e devem) ser feitos a pé. As ruas são antigas, um tanto estreitas e repletas de paisagens.

Hospedagem: Durante minha estadia, estive no Old Bell, o hotel mais antigo do Reino Unido, erguido em 1220. Por motivo de preservação, não possui elevador, e tem apenas 34 quartos, cada um deles com o nome de alguém importante na história do lugar. Também passei uma noite no Kings Head, em Cirencester, que tem ótima localização e badalado restaurante. O último hotel da região foi o belíssimo Eynsham Hall. Mais afastado da cidade, possui propriedade de campo enorme. Opção de ar puro para quem quer fugir do clima de cidade.

Planejamento: Para mais informações sobre o destino, vale conferir o site costwolds.com, que traz ainda datas de festivais e roteiros completos do que fazer. Também há dicas, em português, no site da agência de promoção de turismo do Reino Unido

visitbritain.com/br/br-pt

Highgrove Garden

A propriedade privada do príncipe Charles, Highgrove Garden, fica aberta a tours gratuitos entre 31 de março e 31 de setembro. O local conta com produção de produtos orgânicos, muitos dos quais são vendidos no supermercado de luxo Fortnum and Mason.

Site: www.highgrovegardens.com

O vilarejo de Northleach

Apesar de não estar entre os mais badalados, o vilarejo de Northleach tem um das sete igrejas construídas pelos barões da lã. A região de Cotswolds foi o local de nascimento e hoje abriga o túmulo do ex-primeiro ministro Winston Churchill.

A Cama da Rainha

Na mansão dentro do Dyrham Park, há uma cama feita especialmente para a rainha Ana e jamais usado, nem por ela e nem por ninguém. O objeto feita com materiais nobres e muita seda chinesa foi deixado intacto mais de 150 anos.