A 68ª edição do Salão de Abril, em 2017, foi tomada pelos artistas após a ausência de concretização do evento por parte da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). Chamado Salão de Abril Sequestrado, o evento foi feito sem recursos públicos, e se espalhou por diferentes pontos da Cidade. Em 2018, a mostra voltou a ser realizada pela Prefeitura e ocupou a Casa do Barão de Camocim, esboçando - desta vez oficialmente - extrapolamentos geográficos a partir de intervenções que criavam diálogos entre o casarão e o entorno. Neste ano, na 70ª edição, o espírito "em movimento" se estende ainda mais, distribuindo as 30 obras selecionadas em cinco espaços oficiais - seis em cada -, além de contar com atividades paralelas pela Cidade. A abertura oficial acontece hoje, às 14h30min, no Minimuseu Firmeza, no bairro Mondubim.
O local escolhido vem da homenagem que o evento faz a Estrigas e Nice Firmeza, casal referência nas artes plásticas na Capital, levando o tema "À Sombra do Baobá", citação à árvore que fica no minimuseu. "Temos a coincidência feliz de que, neste ano, seriam os 100 anos do Estrigas, figura importante na articulação artística da Cidade. Percebemos que precisávamos, a partir do aniversário, expressar a perspectiva da Cidade como um todo", explica Gilvan Paiva, titular da Secultfor. Jacqueline Medeiros, uma das curadoras deste ano - ao lado de Solon Ribeiro e Herbert Rolim, sob consultoria de Carlos Macêdo -, reafirma e relaciona os papéis de articulação dos Firmeza e do Salão. "A ideia (de espalhar o evento) veio a partir dos homenageados e dessas articulações por toda a Cidade. A Prefeitura nos procurou com a ideia da homenagem e, a partir disso, pensamos em ampliá-la em uma programação paralela, criando um grande mapa das artes visuais em Fortaleza. Propusemos mostrar ateliês de outros artistas que também têm esse papel de receber pessoas", afirma. Estão na lista os espaços criativos de Roberto e Lúcia Galvão, Hélio e Efimia Rola, Acidum Project, Sérgio Pinheiro e Sérgio Lima, em bairros que vão do Vicente Pinzón à Lagoa Redonda.
O secretário destaca o intuito de formar um evento "aberto". "O Salão é esse movimento que vai se arrumando, incorporando perspectivas. Não tenho dúvidas de que o Salão de Abril é um somatório de experiências", considera Gilvan. Jacqueline, que foi também curadora na edição sequestrada, comemora o diálogo estabelecido entre a gestão atual da Secultfor e a classe. "Nós curadores vimos claramente que a escolha pela nossa participação já é uma sinalização. Há um reconhecimento do Sequestrado, não se pode negar. A edição (de 2017) conta na sequência do número de edições", aponta.
Dentre os trabalhos selecionados, Jacqueline destaca a produção do interior e de artistas historicamente estabelecidos. "O Cariri mandou bastante trabalho, uma produção boa e potente. Há ainda a presença de artistas de longa estrada, como o Zaquira, o Nauer (Spíndola) e o Eduardo (Frota). É importante o Salão trazê-los apresentando trabalhos conectados com o que acontece hoje", discorre. "Muitos trabalhos potentes falam do momento atual e a seleção foi muito guiada por isso: o feminino, questões raciais, LGBT, antropológicas, da cultura, da memória", avança.
Com 40 anos de trajetória artística, Eduardo Frota apresenta a instalação Pau Brasil (nome provisório). "O Salão tem muitos trabalhos que pensam a Cidade, então é importante que ele aconteça em vários locais", considera. Também selecionada, Rogeane Oliveira apresenta a videoarte Genealogia, obra com influência familiar. Para a artista, a descentralização oficial "amplia" a mostra a partir "do pensamento de democratizar". "Temos que pensar, porém, em direcionar isso para outros públicos, por exemplo, nos espaços formativos. Me preocupa como a gente pode levar ao Salão pessoas que não tem o hábito como uma primeira experiência", sugere.
Abertura do 70º Salão de Abril
Quando: hoje, às 14h30
Onde: Minimuseu Firmeza (Via Férrea, 259, Mondubim - Fortaleza/CE)
Visitação: até 30 de junho. De quinta a sábado, de 8 às 17 horas
Mais infos: 9 9989-4009
Outros espaços
Sem Título Arte
Quando: visitação de 2 de maio a 30 de junho. Segunda a sexta, de 14 às 19 horas
Onde: rua João Carvalho, 66, Aldeota
Mais infos: 3037-0008
Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
Quando: 11 de maio a 30 de junho. Terça a sexta, de 9 às 19 horas; sábado e domingo, de 10 às 17 horas
Onde: rua General Sampaio, 1632, Centro
Mais infos: 3252-1444
Espaço CEGÁS de Cultura
Quando: 16 de maio a 30 de junho. Segunda a sexta, de 13 às 17 horas
Onde: av. Washington Soares, 6475, Edson Queiroz
Mais infos: 3266-6900
Centro Cultural Banco do Nordeste de Fortaleza
Quando: 25 de maio a 30 de junho. Terça a sábado, de 10 às 18 horas
Onde: rua Conde d'Eu, 560, Centro
Mais infos: 85 3209.3500