A figura de Machado de Assis tem aparecido com frequência nas redes sociais. O escritor está sendo rememorado por meio de levante na busca por representatividade do movimento negro. A hashtag #machadodeassisreal foi destaque nas redes sociais, principalmente no Twitter e no Instagram. As postagens variam entre dois tipos: a primeira compara duas versões da mesma foto de Machado de Assis, em uma ele aparece com a pele branca e a outra como realmente era, negro; a segunda mostra livros com a foto real do escritor sendo colada sobre a imagem embranquecida presente nos volumes da vasta obra do autor.
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Esta segunda ganhou fôlego nas redes a partir de um projeto idealizado na Faculdade Zumbi dos Palmares, por alunos do curso de Publicidade e Propaganda. Na iniciativa do site homônimo à hashtag, foi disponibilizada para download a verdadeira foto de Machado de Assis para que seja impressa e colada sobre as fotos impressas nos livros. "A ideia veio do intuito de buscar a retratação do Machado de Assis como realmente era. O projeto é uma luta pela eliminação do preconceito racial", define a coordenadora da iniciativa Enisete Malaquias.
Ela - que é coordenadora de extensão, cultura, esporte e ação comunitária da faculdade - explica que o propósito da ação é conseguir mudar o máximo de capas. "O que a gente quis foi corrigir e retratar uma situação de preconceito vivida lá atrás. E, para nós da raça negra é motivo de orgulho que um dos maiores nomes da literatura brasileira era negro", acrescenta.
Segundo Enisete, a ideia de promover o projeto online foi pensada para fazer a iniciativa atingir o maior número de pessoas nesse processo de retratação. A coordenadora ressalta esta fase de difusão nas mídias como a mais importante. "Apesar do projeto ter começado em 23 de abril, agora é o momento mais importante, de fazer com que o maior número de pessoas conheça o projeto. O resultado é que vai nos mobilizar e motivar para entender o que precisamos daqui pra frente", adianta.
O racismo aplicado historicamente ao retratar Machado de Assis com a pele clara vem sendo sentido durante toda a vida por Enisete. A profissional se afirma como negra e condena as frases tradicionais de que o racismo não existe. "Eu passei e passo por muitos momentos de preconceitos racistas e costumo dizer que: as pessoas que falam que hoje não existe mais racismo é porque não vivem com ele todos os dias", justifica.
Durante entrevista, a coordenadora relembra momentos em que sofreu julgamentos prévios por conta da cor da pela. Em um dos relatos, Enisete contou das várias vezes em que está no elevador social e é confundida com uma empregada doméstica. "Quando estou no elevador, as pessoas perguntam se tenho algum dia livre para fazer faxina", reconta.
O fato de morar em um condomínio de luxo não a exclui de ser evitada por alguns moradores quando está acompanhada da filha, de pele branca, que foi adotada por ela. "Quando estou no elevador junto com ela, as pessoas perguntam pela mãe dela", completa.