Na 514ª noite casada com o regente da antiga Pérsia, o Rei Shariar, a rainha e narradora dos contos de As Mil e Uma Noites Sherazade começou a contar a história de Aladdin e a Lâmpada Maravilhosa para "atravessar o serão da noite". Clássica obra da literatura árabe composta por uma coleção de contos escritos entre os séculos XIII e XVI, a coletânea guarda em suas páginas a lenda do jovem pobre e arruaceiro que encontra um gênio mágico e se apaixona pela filha do sultão, a Princesa Jasmine. Popularizada no ocidente pelo orientalista francês Antoine Galland, a aventura de Aladdin já foi adaptada para séries televisivas, musicais, óperas, desenhos animados, peças de teatro e filmes — agora, o sucesso de público volta às telonas em um live-action produzido pela Walt Disney Pictures e dirigido por Guy Ritchie. Aladdin (2019) estreia nas salas de cinema brasileiras nesta quinta-feira, 23.
Um dos remakes live-action da Disney mais aguardados após Alice no País das Maravilhas (2010), Malévola (2014), Cinderela (2015) e A Bela e a Fera (2017), o longa-metragem de Aladdin reconta o mito conhecido por seus tapetes voadores, sultões, gênios, lutas e intrigas. Filho de um alfaiate, Aladdin é narrado como um indolente ensinado pela vida nas ruas da cidade de Agrabah. Apaixonado pela independente Jasmine, o protagonista encontra um gênio aprisionado em uma lâmpada mágica que concede-lhe a realização de desejos — uma oportunidade para conquistar o coração a moça. Ele só não sabe que ela é uma princesa e essa história será atrapalhada por Jafar, um feiticeiro maligno. O elenco conta com nomes renomados: o personagem-título é interpretado pelo ator egípcio Mena Massoud (Jack Ryan); a britânica Naomi Scott (Power Rangers) como Jasmine e o veterano norte-americano Will Smith (Independence Day) no papel do Gênio da Lâmpada. Marwan Kenzari dá vida a Jafar e Navid Negahban ao pai da princesa.
Diretor da bem-sucedida franquia Sherlock Holmes, o cineasta inglês Guy Ritchie comentou sobre a escolha do elenco em entrevista à revista Variety ainda em 2017 — reiterando a importância de respeitar as singularidades de uma história vivida longe das sociedades europeias tão destacadas em produções cinematográficas. "Decência é decência. Humanidade é humanidade. Acho que o filme vai ditar o tom que precisa ter e quem deve estar nele. Não é para você se sentir forçado, ou intimidado. O filme será o que precisa ser, porque precisa disso. Terá sua própria voz autêntica", adiantou Ritchie. Filmado durante seis meses, o set de gravação do musical foi dividido entre estúdios localizados no sul da Inglaterra e em paisagens na Jordânia.
Aguardada no mundo inteiro, a estreia de Aladdin movimenta também os fãs cearenses. O professor de Inglês Antônio Kleber Gomes acompanha a trama desde a primeira versão do filme lançada pela Disney em 1992 e dirigida por John Musker e Ron Clements. "Aladdin é o meu filme favorito da Disney. O que me interessa na história é esse ambiente tão exótico para o ocidente. A gente sempre vê uma representação muito forte da Europa no cinema. Em Aladdin, existe uma romantização muito intensa da cultura árabe, mas os pontos positivos estão lá: a grandiosidade, a riqueza social... Eu adoro a Jasmine sair do castelo e experienciar ser súdita, é uma personagem inconformada", aponta. Para Kleber, um dos acertos da Disney é a iniciativa de produzir filmes para a família inteira: "Tem coisas que as crianças não acessam ainda e, independente disso, o filme é para todo mundo. O Aladdin, por exemplo, é um criminoso. No enredo não justifica o crime, mas se compreende matar a fome. Eu aplaudo essas adaptações", conclui.
Protagonista de números musicais no longa, o Gênio da Lâmpada de Will Smith é um dos personagens mais aguardados pelos fãs. Na animação da década de 1990, quem dublou o personagem foi Robin Williams, falecido em 2014. Nas imagens de divulgação, Smith apareceu em duas caracterizações: azul, como ficou conhecido mundialmente, e na forma humana camuflado na sociedade. A escolha gerou uma série de ataques racistas nas redes sociais. Para Kleber, a situação reflete um problema social: "Eu vejo isso com muita tristeza. O Will Smith é o caso da vez, mas existem comentários racistas toda vez que atores negros são escolhidos para adaptações. É o caso da Estelar em Novos Titãs. Nos filmes de Harry Potter, diferente do livro, a Hermione é branca. Eu fico muito consternado com isso, é preciso atenção", relembra.
A jornalista Rebeca Nolêto, que começou a assistir aos filmes da Disney por causa de Aladdin, também acompanha a expectativa mundial para a estreia do musical. "Eu acho interessante o fato do par romântico, no início do filme, não estar satisfeito com suas vidas e como as coisas se resolvem para eles, de maneira geral, por causa do amor, da confiança e da amizade e como, sem isso, as coisas podem dar errado. Vi poucas imagens do live-action de Aladdin para aguardar as emoções pro cinema, mas, pelo pouco que vi, estou esperando cenários com muitas cores, muitas riquezas de detalhes e que tenha um astral bom porque apesar do Aladdin enfrentar dificuldades e querer melhorar de vida, ele é um personagem alegre, divertido, uma pessoa de 'grande valor interior, um diamante bruto'", encerra.
Comentários do elenco
Aladdin
Vivido por Mena Massoud, Aladdin é um dos personagens mais rentáveis da Disney. "O que me deixa animado com o filme é que ele possui um bom balanço de tudo e Guy (Ritchie) faz um trabalho excelente nisso. Se você assistir qualquer filme do Guy, verá que ele possui um bom equilíbrio entre momentos de comédia e drama", garantiu o ator.
Jasmine
Par romântico de Aladdin, a Princesa Jasmine é reconhecida por sua independência na trama. Em entrevista ao jornal britânico The Independent, a atriz Naomi Scott elogiou as posturas da personagem que interpreta. "Ela luta pela liberdade de escolha do seu povo. Isso é feminismo."
Gênio da Lâmpada
Grande expectativa do filme, Will Smith interpreta a música Prince Ali, conhecida canção do filme original de 1992. "É sempre assustador toda vez que você faz coisas que são icônicas", afirmou Smith em entrevista à revista Entertertainment Weekly