Com a estreia da 30ª temporada no Brasil, Os Simpsons já entraram para a história da televisão por conta de sua longevidade e influenciaram uma miríade de desenhos e seriados live-action. Mas o impacto não fica restrito ao entretenimento, e pode ser sentido em diversas áreas. A nova temporada da atração chegou ontem às TVs.
Por exemplo, diversos neologismos entraram em dicionários após terem ido ao ar no desenho. "Cromulent" (algo como "adequado") e "Embiggen" ("aumentar", em tradução livre), utilizadas pela primeira vez no episódio Lisa, a Iconoclasta (1996) foram adicionadas ao Oxford English Dictionary, tornando-se palavras oficial do idioma.
Existem poucos personagens semelhantes cuja presença na cultura pop se equipare à da família Simpsons. No Brasil, talvez o melhor paralelo seja a Turma da Mônica, que surgiu 30 anos antes dos Simpsons, em 1959, nos quadrinhos, mas migrou para a TV e outras mídias (seu filme com atores reais, Turma da Mônica: Laços estreia em 27 de junho). "Os Simpsons são um marco na história da animação", afirma o cartunista Mauricio de Sousa por e-mail. "Não necessariamente no estilo de desenho, mas com seus textos, tanto polêmicos quanto hilários. Uma sitcom bem elaborada e isso explica sua permanência na TV por tantos anos", acrescenta ele.
Ao longo de 30 temporadas, Os Simpsons já estrelaram 662 episódios com, em média, 24 minutos cada um. Ou seja, assistir à série inteira demora mais de 260 horas, ou cerca de 11 dias ininterruptos. Cada episódio tem um custo de produção em torno de US$ 500 mil, totalizando US$ 331 milhões para todas as temporadas.
E o retorno é certo: somente em 2008, no ano seguinte ao filme dos Simpsons, US$ 750 milhões foram consumidos em merchandising. Nas três décadas, mais de 500 empresas já licenciaram produtos dos personagens, desde o Burger King até o Corinthians. O custo de 30 segundos de comercial no intervalo dos Simpsons nos EUA, de acordo com uma pesquisa da Forbes, é de US$ 162 mil. Apesar disso, a audiência vem caindo consistentemente há anos. Enquanto a primeira temporada, em 1989, somava 27,8 milhões de espectadores em média, hoje os Simpsons são exibidos para cerca de 4 milhões.
Quanto às influências, Os Simpsons abriram espaço para que outras animações tratassem de temas mais maduros com a abordagem marcada pelo comentário social ácido. Dois anos depois da estreia da animação, Family Guy (no Brasil, Uma Família da Pesada), de Seth MacFarlane, passou a concorrer com Os Simpsons dentro da própria emissora. O desenho compartilha semelhanças temáticas e estéticas com seus primos amarelados, mas com humor mais direto e agressivo.
Talvez o impacto mais claro dessa popularidade tenha sido sentido em 2001, quando o Cartoon Network começou a exibir desenhos voltados para o público adulto nas madrugadas, aproveitando o nicho construído pelos Simpsons ao longo da década anterior. As atrações exibidas por esse canal alternativo, como Frango-Robô e Aqua Teen: O Esquadrão Força Total não raro descambavam para a violência explícita e o humor ferino.
Mais recentemente, com as plataformas de streaming, desenhos animados que visam a atingir um público adulto são cada vez mais comuns e diversificados, fugindo da dinâmica de sitcom e das temáticas do núcleo familiar instauradas pelos Simpsons, atingindo nichos específicos. BoJack Horseman mistura drama e comédia para tratar de temas densos como depressão e ansiedade; Rick and Morty utiliza elementos de ficção científica, como multiverso e viagens no tempo, para tratar da difícil relação de um neto pouco inteligente com seu avô, um cientista maluco; o recente e polêmico desenho brasileiro Super Drags narra as aventuras de três colegas de trabalho que se vestem de drag queens para combater o crime e o conservadorismo; e Gravity Falls é um relatório das férias dos irmãos gêmeos Dipper e Mabel na casa de seu tio-avô, em um pequeno vilarejo assombrado por forças sobrenaturais.
Séries com atores reais também foram influenciadas pelos Simpsons. The Office, de Ricky Gervais e Stephen Merchant, tem bastante inspiração no tipo de humor de Matt Groening. O cineasta Edgar Wright, diretor da adaptação do quadrinho Scott Pilgrim (2010) e do filme de ação musical Em Ritmo de Fuga (2017), dirigiu a série britânica de comédia Spaced entre 1999 e 2001, e já chegou a afirmar publicamente que sua ambição com o seriado era tentar fazer algo que se assemelhasse a uma versão live-action dos Simpsons. (André Cáceres/ Ag. Estado)