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Desconstruindo padrões e opressões, Silvania de Deus celebra 20 anos de sua marca autoral
Vida & Arte

Desconstruindo padrões e opressões, Silvania de Deus celebra 20 anos de sua marca autoral

| PERFIL | Comemorando 20 anos de marca autoral, a estilista Silvania de Deus se dedica à autoestima feminina, convida as pessoas para a rua e promove encontros
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 03.06.2019: Perfil de Silvana de Deus e os 20 anos da marca dela. Praia de Iracema.   (Fotos: Fabio Lima/O POVO) (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima FORTALEZA, CE, BRASIL, 03.06.2019: Perfil de Silvana de Deus e os 20 anos da marca dela. Praia de Iracema. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

Quando criança, Silvania de Deus vivia imersa nas costuras de Dona Mundica, sua mãe. Criou-se na Fortaleza do bairro Carlito Pamplona, por entre máquinas de costura, linhas e cores. Aos 12 anos, fez sua primeira roupa, orientada pelos olhos, pelas mãos experientes e pelas ideias da mãe. Começava a formar ali uma identidade muito própria, desenhando o prefácio do que seria sua vida anos à frente. “Depois disso, eu sempre fiz todas as minhas roupas, eu andava com uma bolsa de roupas, vendendo para as amigas”, lembra Silvania sobre o seu começo, hoje nome importante e pioneiro na moda do Ceará.

Neste 2019, a estilista comemora 20 anos desde a estreia como marca autoral, na primeira edição do Dragão Fashion Brasil (DFB). A artista abriu sua primeira loja na década de 1990, chamada Odisséia, que já ficava cravada na Rua dos Tabajaras, 660, onde está até hoje, mas com o nome de Ateliê da Sil. Em 1999, produziu uma coleção para o DFB, intitulada MiscigeNAÇÃO Brasileira, que subiu ao palco com cerca de 30 looks, segundo contabiliza a estilista, dispensando a precisão. No último DFB, em maio deste ano, Silvania celebrou as duas décadas, apresentando Imersa, a nova coleção do Ateliê da Sil, que foi o ponto de partida para os festejos. “Eu nunca pensei em levar isto à frente, quando menina. Comecei a estudar e pensei em pedagogia. No meio do caminho, um anjo, meu marido, entendeu o que eu fazia com a costura e apostou em mim, me apoiou”, segue contando. “Eu só tinha vontade de fazer. Havia uma ideia, eu tinha um estilo próprio”.

Pioneira e com ideias faiscando na cabeça, Sil foi moldando suas peças à medida em que percebia as individualidades das clientes: cada corpo é tão único quanto uma peça que produz. “Eu fui entendendo que eu poderia atender a vários corpos. Comecei a fazer uma pesquisa por uma modelagem que atendesse a vários perfis. E isto eu aprendi foi na lida com o meu cliente”, percebe. “Meu processo criativo é de observar muito os corpos com os quais eu lido. Minha modelagem é muito inspirada nisso e acho que, por isso, é tão certeira. Observo muito as mulheres, inclusive, aquelas que têm dificuldade de se enquadrar em um padrão. Tenho uma relação muito forte com a beleza, mas não com essa beleza padrão que está aí posta”.

O que fascina Silvania é trabalhar a auto-estima e mudar a forma como as mulheres se relacionam com a própria imagem. “No Dragão Fashion, eu até falei: é para se despir de opressão e se vestir de auto-estima”, celebra. A estilista é certeira e generosa ao reconhecer que a moda é “muito violenta, muito cruel, cria ciladas”. “Às vezes, é muito ruim para uma mulher entrar no provador de uma loja. É tão ruim com esse corpo que é todo marcado, que desde cedo é tão marcado por opressões. Acho que é por isso que me dedico mais ao feminino”.

Silvania é um dos nomes pioneiros na produção autoral de moda feita no Ceará, assunto que nem se falava há 20 anos, mas que virou tendência nos últimos tempos, com eventos, novas marcas e novos projetos emergindo. Este diálogo com a Cidade e com as formas de consumo e produção são muito parte do dia a dia da estilista. Morando e trabalhando na Praia de Iracema, Sil abre as portas de casa e do ateliê (espaços que, por vezes, se confundem) para a Cidade, em tom de discutir os espaços públicos, a relação das pessoas com a rua e de dar espaço para outros marcas autorais circularem. Há cinco anos, o Fuá da Sil nasceu como reflexo disto, sendo um momento para as pessoas acessaram a loja, a casa e a rua. “O Fuá foi um convite, é, sobretudo, um ato de resistência. A ideia era todo mundo junto, um jeito de juntar os meus e dar potência aos afetos. É um convite para ocupar a rua, e acho que é porque eu não tenho medo. E o que eu sou é isso, essa simplicidade”.

Hoje, Sil produz em escala que abarca outras lojas de Fortaleza, vendendo ainda em espaços como Romã e Carandá. Saindo da Cidade, ela expande seu mercado para Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Teresina, Brasília e Belo Horizonte.

Ateliê da Sil

Onde: Rua dos Tabajaras, 660 - Praia de Iracema

Funcionamento: de segunda a sexta, de 13h às 19 horas. Sábado, das 10h às 16 horas

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