Um futuro não tão distante. É nele que Joana, personagem interpretada por Dira Paes, tenta salvar casais que estão prestes a entrar com processo de divórcio. Movida por uma fé exacerbada e capaz de chegar até consequências extremas, a protagonista do filme Divino Amor é o grande trunfo da produção. Mas Joana - portadora do sentimento de um crença que se alinha e se confunde ao mesmo tempo - também possui seus problemas particulares. Para conseguir estabelecer o conceito de família em sua própria vida, ela precisa completar o ciclo de geração de uma outra vida. E é nesse ponto que a personagem se sente falhar: como uma pessoa dotada com tanto sentimento de fé não consegue alcançar a cadeia familiar em completude?

O longa-metragem é assinado por Gabriel Mascaro, que classificou Dira Paes como "uma figura muito mágica". "Ela traz algo muito pessoal para o filme. A capacidade de acreditar na fé da personagem. Se ela não conseguisse fazer isso, seria um filme caricato. Eu queria atentar para quão sofisticada é essa religião que se constitui como projeto hegemônico no Brasil. Diferente do que a gente imagina de uma religião sem graça, ela é tratada com muita seriedade", explica o diretor em entrevista ao O POVO, por telefone, durante preparativos para a série de estreias do filme que acontecem nessa semana. Em Fortaleza, Divino Amor tem sessão especial de lançamento na sexta-feira, às 20 horas. Haverá exibição do Cinema do Dragão, seguida por uma conversa com a presença do diretor. A entrada para o circuito de exibição acontece após o longa ter participado de uma série de festivais nacionais e internacionais - chamando atenção por onde passou.

Aos 35 anos, o cineasta pernambucano Gabriel Mascaro, inclusive, acumula prêmios em seu currículo. Sua produção mais famosa  - Boi Neon, filme de 2015 - levou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em duas categorias e o Prêmio Especial do Júri da Mostra Orizzonti. Mas o realizador audiovisual não está muito preocupado com as premiações ou com os títulos. Gabriel elege o processo criativo e a concepção da obra como os caracteres mais importantes dos seus processos. E isso se revela na estética de Divino Amor. As condecorações e as opiniões públicas vêm depois. "Eu acho que é um filme muito honesto. E, pelo contrário do que as pessoas podem pensar, ele qualifica o debate sobre como o evangelismo é um fenômeno muito forte. Várias doutrinas no Brasil tem práticas distintas. E o filme atenta para qualificar o debate em uma religião que é qualificada e complexa", explica o cineasta - que também assina duas outras produções que ganharam destaque no circuito nacional: Ventos de Agosto, lançado em 2014, e Doméstica, de 2013.

Para acompanhar a trajetória de Joana e endossar os acontecimentos, há a voz de Calum Rio. O narrador possui uma fragmentação quase infantil e colabora em momentos decisivos para contar a história e reforçar o comportamento da protagonista. O recurso, amplamente usado na produção, elucida Gabriel Mascaro, foi pensado e executado ao beber das escrituras sagradas. "A própria bíblia é feita por vários narradores. Eu quis me apropriar dessa tradução. Os anjos completam a história. Então, eu queria me apropriar um pouco e que através das parábolas a história fosse narrada", diz o diretor, que estará em Fortaleza na sexta-feira.

Divino Amor - Sessão com Debate em Fortaleza

Com presença de Gabriel Mascaro

Quando: 28, sexta-feira

Onde: Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81)

Quanto: R$ 14 (inteira)