Na mitologia, Fenix foi uma ave que, após viver 300 anos, queimou em brasas e ressurgiu das cinzas. Na vida real, José Guedes deu novo fôlego à lenda e decidiu buscar inspiração nesta história para sua nova exposição, que abre as portas amanhã, 28, na Casa D'Alva. Com 36 obras expostas e criadas nos últimos dois anos, a mostra chega a Fortaleza como o trabalho mais desafiador do artista até então.
Fenix surgiu a partir da desconstrução. Guedes apropriou-se de obras de artistas vanguardistas (Henri Matisse, Pablo Picasso, Piet Mondrian, Tarsila do Amaral puxam a lista) para dar início ao trabalho. A construção aconteceu da seguinte forma: após selecionar imagens impressas em boa qualidade e imprimi-las em uma folha de papel A3, o próximo passo foi amassar as gravuras. Assim, as imagens se transformam objetos tridimensionais gerados de forma manual e descomplicada. Já com um formato definido, a próxima missão foi encontrar o jogo de luz adequado para que os objetos fossem fotografados por uma câmera no alto de um tripé. A imagem registrada é adaptada a um monitor 49 polegadas. Assim, surgiu, nas mãos de Guedes, a inspiração principal para Fenix.
"Esse processo foi o início de tudo. Foi a partir do papel amassado que eu fui criando minhas obras. É desconstruir para reconstruir. Todas as obras da exposição têm por base algum artista que eu admiro e que de alguma forma fez parte da dos meus 46 anos de carreira, mesmo que de forma indireta. É questão de você se reinventar e de uma maneira simbólica e romper com tudo aquilo que você já viu", explica o artista.
Neste novo trabalho, de acordo com Guedes, está um resumo de tudo o que viveu na sua trajetória. É uma descrição do momento no qual se encontra atualmente, sendo destacado por ele como uma mistura de poesia e arte. Fenix, além de tudo, é também descrito como um círculo de angustia que o abraça nos momentos de reflexão.
"Essa questão de desconstruir para reconstruir também fala muito sobre como o mundo está hoje em dia. É uma angústia, uma certa inquietação com o que está acontecendo. Tudo é muito desumano e eu acho que o artista tem que fazer alguma coisa contra isso. Cada um usa a linguagem na qual pode se fazer representar melhor. Esse trabalho é quase um resumo de tudo o que estou fazendo e já fiz", pontua o artista, que também dá voz ao discurso de que a arte e a poesia precisam de apoio e, com esse gesto, ele dá sua contribuição para a melhoria do cenário no Brasil.
Guedes também reafirma que seu novo trabalho tem uma questão estética muito bem resolvida. Entrega cores e formas inusitadas que despertam curiosidade, ao mesmo tempo que sai do tradicional. Comparado a suas últimas criações, como a série Fendas, que também apresenta uma identidade com obras que entregam ilusão tridimensional, Fenix ainda consegue ser mais desafiador por ter uma proposta conceitual intrigante, que envolve os anseios do mundo de uma forma geral.
Os próximos passos do artista giram em torno de abrir diálogos para suas novas criações. "Estou muito focado neste novo trabalho que estou apresentando e acho que ele ainda rende muitos frutos. Quero explorá-lo de muitas formas. Vem coisas boas por aí", finaliza.
Junto à abertura da exposição, Guedes também lança o livro Fenix, que tem texto da historiadora, crítica e curadora de arte contemporânea e novas mídias Daniela Bousso. Nascida na cidade do Cairo, Egito, e radicada em São Paulo, a profissional entrega à obra literária sua leitura dos trabalhos de Guedes e da sua construção como profissional.
Exposição Fenix,de José Guedes
Abertura: 28 de Junho
Local: Casa D'Alva (Rua João Brígido, 934 - Joaquim Távora).
Horário: 19h30
Informações: 32526948
A exposição permanece em Fortaleza até 10 de Agosto. Entrada gratuita