Logo O POVO+
A falta que faz um Pasquim na vida do Messias
Vida & Arte

A falta que faz um Pasquim na vida do Messias

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Pena que o Pasquim não existe mais. Nem a própria imprensa escaparia das reuniões de pauta de Marta Alencar, Jaguar, Henfil, Ziraldo, Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Miguel Paiva, Carlos França, Luís Carlos Maciel, Ibrahim Sued e companhia. E vamos combinar, a era asno "bolsomínia" e o "lulismo Maria Madalena" já teriam rendido entrevistas explosivas (e armadas até os dentes), charges, piadas prontas, colunas antissociais e escárnios merecidos.

Já imaginou a charge do dia sobre o avião da cocaína da comitiva de Jair Bolsonaro? Em vez de fumaça invisível das turbinas, pó até Europa. Já pensaram na grande reportagem investigativa sobre a grande descoberta, o pulo do gato dessa gestão presidencial (além da primeira exportação de abacate para a Argentina), o "nióbio"? Menino, esse País está mesmo uma balbúrdia.Entenda-se por "balbúrdia santa" a reunião de milhares de pessoas nas praças e ruas e em outros lugares defendendo a caretice repaginada de uma classe média sem máscaras e de um bando de empresários fazendo os abestados de patos da Fiesp.

Pensando bem, o Pasquim teria uma mina muito mais rica de "nióbio" para explorar do que nos anos da ditadura urdida por generais e civis patriotas (1964-1985). Pensei que esse povo tivesse outra coisa na cabeça, mas deve ser nióbio mesmo. Não é titica de Gallus galus domesticus.

Jair Bolsonaro é um governo "bijuteria", talvez escrevesse Marta Alencar. Daquelas mais ordinárias, destinadas a transas de carnavais e com a volúpia de um "golden shower" a enferrujar os dentes de personagens ressuscitados.

Daria no Pasquim: "Bolsonaro é bicha, e daí?". Porque o ex-capitão do Exército tem uma obsessão pelo bráulio dos outros e dos japoneses. Porque não quer turismo friendly no Brasil. Porque precisa afirmar de arma em punho que é macho pra "caraca" e, por causa de uma fraquejada, gerou uma filha em vez do quinto varão. E que homens!

"Confiem", "creiam", "tenham fé" e "aceitem", estamparia hoje o mais controverso jornal alternativo dos anos de chumbo para ironizar com a promessa de uma terra prometida no Brasil a uma leva de zumbis, misturado com fundamentalistas religiosos e militares Lázaros.

"Lula, livre!". Taí outra puta manchete para o "jornaleco" odiado por Figueiredo, o SNI, Geisel e Fleury Filho. E Ziraldo desenharia assim o diálogo de dois brasileiros: "A esperança é a última que morre", diz um apaixonado militante para um Zé Mané. No que ele responderia na lata: "E qual é a vantagem?" Nem Lula, nem Bolsonaro.

Tenho certeza que o remédio para o governo Bolsonaro não seria um impeachment, uma mão de peia, uma guerrilha urbana, um dia de parada gay nacional ou uma educação freiriana para os mal criados filhos do capitão reformado. Não. Falta o Pasquim no encalce dele.

Falta um Pasquim até para nós da imprensa que, até aqui, só reproduzimos o que o Moro e Dallagnol quiseram fazer crer. E ainda não aprendemos e já elegemos outro herói para o Brasil: o jornalista "Glim".

"Pasquim neles" e em todos que acreditam piamente no jornalismo investigativo sem lados e sem fontes oficiais ou bandidas!

Jaguatirica da Silva é escritor

O que você achou desse conteúdo?