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O Brasil ficou chato
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O Brasil ficou chato

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O Brasil ficou chato pra caralho. Ofender negro agora é coisa grave, ofender gay é crime. Onde já se viu? Criminalizar a verdade. A ofensa tá fora de moda. No Vaticano a justiça é cega. E ninguém diz nada. Aqui não é diferente. Mas o país ficou chato. Anos oitenta é que era bom. Os noventa também. Meninada aprendia com Domingo Legal como era ser homem. Pleno meio-dia, a bunda na TV da sala. Agora é uma frescura de classificação etária pra tudo que é lado, nem marca de biquíni pode mais. Antigamente a gente carregava tijolo com o pai, batia o ponto na bodega, fazia o diabo pra ganhar grana e aprender. Mas aí o presidente defende trabalho infantil e o mundo cai? Vai pra frente um lugar assim? Não vai. Tem que ter lei, moral, cada um no seu lugar e todo mundo dando duro pra coisa funcionar. Sem putaria, sem discussãozinha nem Paulo Freire na escola ensinando a ler o mundo. Porra de mundo. Quero ver é o país crescendo a 7% todo ano, caramba! E aí vem neguinho (não pode mais dizer isso, esqueci) falar que criança não trabalha. Não trabalha mas pode fumar uma pedra de crack por dia, né? Pode. Não trabalha mas pode meter uma bala na cabeça do pai de família. Ora se pode. Vou te contar. O presidente tá sendo camarada ainda, porque, na real, o Jair Messias Bolsonaro que a gente quer e elegeu ainda nem começou a governar mesmo. Ele está lá, todo atrapalhado com aqueles militares feito o ridículo do Heleno querendo aparecer e aquele pavão do Mourão. O mito tá preso, cercado de bandido de terno. Quando ele se soltar, ninguém segura esse país. Não tem floresta, não tem índio ou militante no caminho da nossa nação sagrada. Não tem Freixo nem Haddad. Todo dia é grande dia, todo dia uma bastilha da esquerdalha caindo. E aí o Brasil deixa essa chatice pra trás e a gente pode voltar a fazer troça com todo mundo, que isso é democracia. Aquela história do Gilberto Freyre. Espetáculo das raças. Todo mundo integrado na santa paz do senhor, amém.

Carlos Cabral Jr. (CCJ) é escritor

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