Logo O POVO+
O presidente e sua obsessão fálica
Vida & Arte

O presidente e sua obsessão fálica

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

De Jânio Quadros a Itamar, a genitália sempre marcou presença na política brasileira. É de praxe. Jânio tinha fixação com saia. Mandava a polícia dos costumes às praias conferir se as barras estavam a um palmo do joelho. Itamar, com aquele topete superfálico, deixou-se fotografar ao lado da modelo sem calcinha num camarote. Fez sucesso e tal.

A diferença agora é de sexo: sai a vulva, entra o pinto. É uma "pintocracia", ou seja, o governo de homens brancos e héteros. Tudo é hétero com Bolsonaro, o protótipo do macho que nunca falha. O abraço é hétero. O namoro é hétero. O pão com leite condensado é refeição de hétero. O encontro reservado com deputado é hétero. O hétero é o passe-livre pra transitar entre as altas esferas de poder sem o risco de ser confundido com a bicha, o gay, a lésbica.

E bem nesse ponto entra a obsessão do pênis. Bolsonaro é prato cheio pra psicanálise porque elevou o falo à categoria de Estado. É um governo "pintocrático".

O cu, aliás, é um grande ausente-presente, como faz questão de lembrar o ideólogo Olavo de Carvalho, que repete a palavra sempre que pode. E ele pode o tempo inteiro, já que está aposentado, eu acho, e tem o dia inteiro livre pra se deliciar com a sonoridade do vocábulo.

Mas é Bolsonaro o pervertido, tenho certeza. Freud diz que a perversão está no olhar e não no objeto em si. Lembram daquela propaganda do Banco do Brasil que o presidente vetou? E da cartilha de educação sexual para meninas que o Ministério da Saúde barrou? Pois é. Ali tinha tudo que assusta o governo: afro, negra, lésbica, vulva, educação. Mandou cortar. O presidente só governa com o pinto, e todo pinto assustado é um mau conselheiro, principalmente com a conta nas redes sociais. Foi assim com a postagem do "golden shower" e a depravação da cultura no Brasil. Há muito recalque nisso aí.

O Jânio começou seu governo com a história das vassourinhas pra varrer a corrupção. Deu no que deu. Bolsonaro vai pelo mesmo caminho. Chegou forte, mas, como nas flexões de pescoço, simula o que não é. Sua preocupação excessiva com pênis é o retrato da fragilidade.

Joice M. de Andrada é escritora

O que você achou desse conteúdo?