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No rastro de Nã Agotimé
Vida & Arte

No rastro de Nã Agotimé

| LANÇAMENTO | Terceiro livro da escritora cearense Patrícia Matos, Nã Agotimé - Uma Rainha Africana no Brasil narra a trajetória de luta da fundadora da Casa das Minas (MA)
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Patrícia Matos (escritora) (Foto: Luiz Alves/ Divulgação)
Foto: Luiz Alves/ Divulgação Patrícia Matos (escritora)

Integrante da família real de Abomey, capital do antigo reino de Daomé (estado africano onde atualmente corresponde ao Benim), Nã Agotimé tem sua trajetória intrinsecamente ligada ao Brasil por ser, segundo pesquisadores como o francês Pierre Verger, a fundadora da Casa das Minas, em São Luís (MA), isso em meados do século XIX. De rainha, a segunda esposa do rei Agongolo passou a escrava e, justamente por conta desses entremeios e de sua vinda abrupta ao Brasil, chamou a atenção de Patrícia Matos, autora já dos livros Adjokè e as Palavras que Atravessaram o Mar (2015) e Baú Ancestral: Histórias de Bisavó (2018).

Pedagoga, cantora do grupo percussivo D' Passagem e assessora pedagógica da Coordenadoria de Igualdade Racial de Fortaleza (Ceppir), a cearense tomou conhecimento da relevância da rainha Nã Agotimé após uma viagem/imersão à África, no ano de 2012. "Vivi uma experiência de Restauro do Patrimônio Afro-Brasileiro no Benim. Era meu desejo maior ir a um país africano e fui exatamente para o antigo Daomé, local onde reinou meu orixá Obaluayê", relembra. "Lá, conheci a história de Nã Agotimé através de um memorial em homenagem a seu filho, o príncipe Guezo", complementou.

Buscando livros e outras referências, Patrícia soube que Nã Agotimé havia sido acusada injustamente e, logo na sequência, deportada com sua corte para as Américas, desembarcando inicialmente em Itaparica (BA). "O que mais me encantou e ainda me encanta é como essa grande mulher transformou a dor em luta e resguardou o patrimônio histórico e cultural de seu povo, patrimônio esse reconhecido e tombado pela Unesco no centro da cidade de São Luís (MA)", revelou. A viagem, assim, resultou na feitura de Nã Agotimé - Uma Rainha Africana no Brasil (Ed. Nandyala).

A publicação, em edição português/francês, conta com tradução da professora doutora Sandra Petit e ilustrações da arquiteta Márcia Sampaio. Seu primeiro lançamento oficial, no entanto, ocorreu no início do mês de junho, durante a Bienal Internacional de Percussão, organizada pela Caravana Cultural na cidade francesa de Rennes, capital da Bretanha. "Posso dizer que foi um sucesso. As pessoas na França, africanos, cubanos, brasileiros, guadalupenses estão estudando e valorizando histórias e culturas negras na África e nas Américas. É lindo de ver e nós, brasileiros, precisamos saber disso", destacou a autora.

A partir de sua narrativa, destinada ao público infantil, Patrícia Matos trouxe à tona outras mais que, segundo ela, revelam a força e a beleza da ancestralidade negra que no Brasil é tão negada. "Penso que contar uma história de tanto sofrimento, separações familiares e injustiças é fazer o que Nã Agotimé fez: com a resiliência da arte e da poética, deu voz a um legado de resistência da mulher que se agregou a outras em contextos semelhantes, mantendo seu legado vivo", ressaltou.

Por outro lado, apesar da existência de outras autoras que dialogam com o universo das matrizes africanas, Patrícia coloca a questão do mercado como um empecilho para novas publicações do gênero. "Posso citar aqui escritoras como Kiusam de Oliveira, Heloisa Pires, Geranilde Costa, Rebeca Alcântara e muitas outras. Contudo, o mercado editorial não dá vez, nem voz a essas narrativas. O currículo escolar, um dos maiores geradores de demandas literárias para o mercado editorial, também não colabora. Apesar de uma significativa mudança nos últimos dez anos, considero que ainda falta muito a avançar", afirmou.

"Acho importante ressaltar que, quando fui procurar editoras aqui no Ceará para publicar minha primeira obra literária (Adjokè e as Palavras que Atravessaram o Mar), as que procurei disseram que não havia demanda para a temática. Geralmente elas preferem publicar livros de escritores muito afamados, o que dificulta revelar outras escritas. Por isso publiquei pela (mineira) Nandyala. Mas seguimos na luta: escrever, publicar é um ato revolucionário", finalizou a autora, que já têm agendados o lançamento de sua obra na Bahia (Vitória da Conquista e Salvador), Minas Gerais (Bienal do Livro em Contagem) e, em Fortaleza, por ocasião da Bienal Internacional do Livro do Ceará, que acontece entre 16 e 25 de agosto.

Nã Agotimé - Uma Rainha Africana no Brasil, de Patrícia Matos

Editora Nandyala / 2019

Edição bilíngue português/francês

24 páginas

Preço: R$ 35

Outras informações: (85) 9 98835 1130 ou pelo email patriciamatos_ce@hotmail.com

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