Fausto e Moraes não sabem precisar, mas desconfiam que foi entre 1977 e 1978 quando conceberam a primeira música juntos, Prosando com Maria."Ele ia gravar um disco na Som Livre e teve a ideia de fazer outra música. E esse disco acabou sendo a inauguração da nossa parceria", narra Fausto. "Se não me engano, do total das músicas, tem umas seis que são minhas com ele. E, entre essas, fizemos Alto Falante, fruto dessas conversas comuns, de lembranças sertanejas - de cidade, não é rural. Das nossas conversas surgiu o Alto Falante, que é uma letra que usa expressões que, aqui (em Quixeramobim), pelo menos, eram muito usuais", conta o poeta. O letrista e arquiteto Fausto Nilo e o músico e ex-Novo Baiano Moraes Moreira são amigos desde então.
Diversas composições depois, a dupla de grandes amigos nunca havia preparado um show todo pensado para os dois, até domingo passado, dia 28, na cidade natal de Fausto, Quixeramobim, onde, cerca de duas horas antes, eles conversaram com O POVO sobre parcerias. O show Corações Democrata mudou esse histórico dos amigos e chega hoje a Fortaleza, sendo a segunda apresentação (a primeira foi no domingo, na Praça da Prefeitura de Quixeramobim, durante o emocionante encerramento da Mostra Sesc de Culturas do Sertão Central). Pode-se dizer que o show é inédito, considerando que será em um formato diferente do que ocorreu no domingo. Desta vez, despidos de banda, Fausto e Moraes irão conversar e cantar a amizade e as parcerias, em um formato intimista. "A ideia é essa mesmo: cantar e contar", resume Moraes. "Os tempos atuais, eles mudaram a maneira de se comunicar e tudo. Eu acho que isso (o encontro no palco) não era pensável tempos atrás, essa coisa inusitada de você ver dois parceiros, um que identifica a parceria cantando e o outro que é letrista, e botar no palco. Era uma ideia temerária, isso não era comum. Hoje há um espaço maior para isso", acredita Fausto.
Até domingo passado, Fausto e Moraes haviam apenas se encontrado formalmente em pequenos momentos em palcos e apresentações. Anos atrás, em 2014, eles foram convidados do bloco carnavalesco Luxo da Aldeia para festa no Kukukaya. Moraes adianta que a dupla vai "abrir o jogo" durante o show no São Luiz. "Vai ser assim, 'olha como a gente plagiou todos os compositores e ninguém nota?' (risos)", adianta. "Depois, quando a gente cantar, vai ser assim: 'agora vamos mostrar para vocês como é que foi (o processo de compor)' e a gente começa a mostrar os retalhos da canção. Como é que essa canção foi costurada. Eu acho uma das maneiras mais interessantes, até hoje, que a gente fez música", brinca o baiano, referindo a inspirações que sugiram a partir de outras músicas e compositores.
Durante entrevista no Quixeramobim, pode-se perceber a forma, digamos, complementar com que flui o diálogo entre Fausto e Moraes, uma forma bonita de se presenciar uma amizade longa, sincera e produtiva para música brasileira. Eles puxam na memória o primeiro encontro, quando Fausto já conhecia o trabalho dos Novos Baianos, mas não o Moraes pessoalmente, um dos fundadores e compositores do grupo. O encontro ocorreu numa noite em Botafogo, Rio de Janeiro, na casa do médico e ex-jogador de futebol Afonsinho (o Afonso Celso Garcia Reis), no fim dos anos 1970. "Craque revolucionário, que se revelou contra as malvadezas do futebol com os jogadores", define Fausto. Enquanto a dupla de futuros amigos conversava, deu um estalo quando descobriram que ambos nasceram em cidadezinhas do interior nordestino, sendo Fauto em Quixeramobim e Moraes em Ituaçu (na Bahia).
Deste encontro e de outros que vieram nestes mais de 40 anos, a dupla compôs clássicos do cancioneiro brasileiro, como Pão e Poesia, Bloco do Prazer, Chão da Praça, Meninas do Brasil, Coisa Acesa, Chão da Praça, De noite e de dia, Eu também quero beijar (ao lado de Pepeu Gomes), A Lua e o Mar (também com Pepeu). Músicas menos conhecidas, mas igualmente poderosas, são algumas como Eurídice, Pedaço de Canção, Que Papo é Esse (em parceria com Capinan), 1978 (Revolta) e a lista segue, para nossa sorte.
Show Corações Democratas
Quando: hoje, 1º, às 19 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). À venda no site Tudus (www.tudus.com.br) e no local
Classificação indicativa: livre
Telefone: 3252 4138