Heber Stalin, ex-aluno de Valéria e criador da Cia. dos Pés Grandes - companhia cearense exclusiva para homens -, explica que o Ceará é "o terreno dos sapateios" e também referência brasileira na modalidade por conta da qualidade dos seus profissionais. Entretanto, apesar da qualidade técnica, há cada vez menos aulas disponíveis e acessíveis de sapateado, o que resulta no seu "desaparecimento".

"A arte é esquecida porque vez ou outra ouvimos lançamentos de cursos de balé, hip hop, jazz… Mas de sapateado é muito difícil. Acredito que porque somos poucos sapateadores. Se você colocar em uma balança, o pessoal do sapateado é o que vai 'pesar' menos no prato", lamenta o dançarino, que considera a dança mais do que um hobbie, e sim uma prática de mover sentidos. "O sapateado para mim é uma maneira de agregar pessoas, é uma desculpa para o encontro, para se fortalecer no outro. É a produção da alegria mais genuína, é suspiro, é alívio, é discurso", manifesta.

O discurso de Heber entra em harmonia com o de Pedro Júlio, dançarino e professor de sapateado e participante da Cia. dos Pés Grande. Ele declara que, apesar de trabalhar no ramo, percebe uma desvalorização do sapateado em Fortaleza em relação a outras categorias, o que reduz o número de professores e alunos. "Além de ser uma dança cujo investimento é um pouco mais caro, por conta do sapato específico, há uma dificuldade na Cidade de encontrar professores de sapateado", lamenta.

Ele explica que a modalidade foi a ponte entre ele e a arte, e que ela se distingue de outras danças devido à movimentação em harmonia com o próprio som. "É um estilo em que o visual e o auditivo se juntam em um só. Nossos sapatos, na verdade, se transformam em um som a mais, um instrumento a mais e isso me encanta", ressalta Pedro.