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O eco da moda
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O eco da moda

|SUSTENTABILIDADE| Livro publicado há dez anos pela jornalista Lilian Pacce, Ecobags: Moda e meio ambiente, chama atenção para iniciativas de impacto positivo até hoje urgentes
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Projeto Sustentável de bolsas Osklen recebeu reconhecimento internacional em Paris. No clique, o modelo com pele de pirarucu (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Projeto Sustentável de bolsas Osklen recebeu reconhecimento internacional em Paris. No clique, o modelo com pele de pirarucu

É preciso reconhecer. É preciso dar o primeiro passo. A sustentabilidade é algo que se constrói diariamente para ser colhida, com intensidade, ou melhor, leveza, no futuro. Há dez anos, Lilian Pacce, do site de mesmo nome e que é referência no jornalismo de moda, tomou o dever para si, a convite de um cenário, na época. Lançou o Ecobags: Moda e meio ambiente pela Editora Senac. Hoje ela reflete os rumos deste eco cada vez mais presente e ainda urgente, partindo de iniciativas simples, mas que gerem muito além disso. Vá com a moda e para depois da moda, esteja em uma mudança de comportamento onde a preocupação é de todos. Confira entrevista.

O POVO - Qual foi sua motivação para escrever o livro na época?

Lilian Pacce - O livro surgiu da exposição Eu Não Sou de Plástico, que começou em São Paulo e itinerou por 15 capitais brasileiras. A exposição foi ideia do Eduardo Jorge, então secretário do meio ambiente de São Paulo, que ia lançar a campanha proibindo o uso de sacolas de plástico descartáveis em supermercados e outros estabelecimentos. Ele sabia o poder mobilizador da moda e me pediu para reunir estilistas que criassem sacolas duráveis, as ecobags. Tivemos 120 estilistas e marcas participando, a editora Senac viu a importância do tema e topou registrar tudo em um livro.

OP - Há dez anos você falou em entrevista que sustentabilidade é um "novo luxo". Qual sua percepção hoje?

Lilian - Ao falar sobre "novo luxo" eu falava de sustentabilidade como objeto de desejo, que é o que vemos hoje, especialmente a geração milenial e Z. Eu dizia que não era mais uma onda apenas, era um tsunami que não teria volta. Os fatos estão aí para provar. Hoje acho que ser sustentável deveria ser default, ou seja, não deveria ser um valor agregado ao produto, mas uma obrigação de todos. Nos afastamos muito de princípios básicos de respeito à natureza e ao ser humano, é urgente reverter esta curva e mudar nosso mindset (mentalidade).

OP - Quais os avanços e desafios para a sustentabilidade? Como a moda tem caminhado para este presente e futuro?

Lilian - Sendo uma das indústrias mais poluentes do mundo e também com muita visibilidade, a moda acordou para o problema. Mas a questão é complexa, porque é preciso pensar na cadeia como um todo, em economia circular principalmente. Confunde-se muito também iniciativas veganas e cruelty free (sem crueldade com animais) com sustentabilidade, o que nem sempre é verdade. Trocar produtos de origem animal (que são naturalmente mais duráveis) por produtos à base de plástico gera grande impacto no meio ambiente também. São muitas questões que precisam ser equacionadas. A questão do lixo é uma das mais importantes. Acabou a era do "jogar fora" porque está claro que não existe uma lixeira atômica - o lixo em geral tem se acumulado nos oceanos, destruindo a vida marinha e envenenando os peixes, em aterros onde geram imensas emissões de gás carbônico, nos lençóis freáticos… Tudo isso volta para nós: da água que bebemos ao ar que respiramos.

OP - Como moda e meio ambiente se relacionam e são pautados hoje?

Lilian - Existe uma nova geração que já entra no mercado fazendo diferente, querendo mudar e repensar. Por isso vemos surgir novas formas de produzir e consumir, como armários compartilhados, bazares de troca, pacotes de assinaturas de aluguel de roupas e acessórios etc. Mas os grandes players já entenderam também a importância econômica de rever processos. De marcas de luxo como Burberry a marcas de fast fashion como H&M, que precisa equacionar o que fazer com um estoque avaliado em US$ 4 bilhões - incinerar seria queimar literalmente dinheiro, e gerar mais poluição. Uma das alternativas que eles estão adotando é o lançamento da loja Afound (espécie de outlet de todas as marcas do grupo e peças vintage de outras marcas) e na plataforma de e-commerce Sellpy (para venda de roupas usadas).

OP - Qual o impacto disso na imagem de moda brasileira?

Lilian - Há muitas iniciativas, desde a Osklen à Flavia Aranha, passando por várias outras marcas que buscam adotar processos sustentáveis. Como diz Oskar Metsavaht, da Osklen, o importante é ser "asap" (as sustainable as possible, ou seja, o mais sustentável possível).

OP - Dentro de todo este contexto, o que é ser sustentável?

Lilian - Ser sustentável não requer grandes sacrifícios. Incorporei hábitos cotidianos como apagar a luz quando você não está usando o ambiente, fechar a torneira enquanto lava a mão ou escova o dente, coleto água do chuveiro para reuso, separo lixo orgânico do lixo reciclável, procuro consumir menos e melhor, lavo menos roupa etc. Gostaria de propor a você e seus leitores que fizessem o desafio 1 Look Por Uma Semana (#1LookPorUmaSemana): escolha uma ou duas peças e use durante toda a semana sem lavar. Eu sei que é quente no Ceará, mas é possível. Ao chegar em casa, deixe a roupa arejando e, se precisar, passe um steamer (que ajuda a higienizar a roupa). O desafio é trabalhar seu estilo, sua personalidade e sua colaboração com o meio ambiente. Lavamos roupa mais do que o necessário (com isso a roupa estraga mais rápido, consumimos mais água, mais sabão, mais energia, mais tempo), passamos roupa mais do que o necessário. Repetir roupa é legal, e você exercita sua criatividade com outras peças e acessórios. Garanto que você vai "descobrir" várias peças perdidas no armário e dar nova vida a elas. A roupa tem memória afetiva - não subestime!

Desafio #1LOOKPORUMASEMANA

Lilian usou o mesmo vestido durante os seis dias de São Paulo Fashion Week (SPFW). No YouTube, onde reúne 120 mil inscritos, ela fala sobre sustentabilidade em uma seção chamada "Recicle-se"

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