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Vozes que ecoam
Vida & Arte

Vozes que ecoam

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Conceição participou da agenda Bienal fora da Bienal na Escola pública Professor Aloysio Barros Leal, localizada no bairro Barroso, na Capital
 (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Conceição participou da agenda Bienal fora da Bienal na Escola pública Professor Aloysio Barros Leal, localizada no bairro Barroso, na Capital

"Na voz de minha filha / se fará ouvir a ressonância / O eco da vida-liberdade". Assim se encerra o poema Vozes-Mulheres, publicado no livro Poemas de recordação e outros movimentos da mineira Conceição Evaristo. De diversas maneiras, foi assim também que se norteou a presença da autora na Escola de Ensino Médio e Fundamental Aloysio Barros Leal, entre os bairros de Barroso e Jangurussu, na manhã do último sábado, 24. A ação ocorreu dentro da Bienal Fora da Bienal, que descentraliza o evento pelo Estado, com coordenação de Paula Geórgia.

A escola se relaciona já há quase dois anos com as escrevivências da autora a partir de atuação da professora de Literatura Camile Baccin. "Comecei a implementar os textos da Conceição Evaristo aqui na escola, trazia alguns contos e poemas. Foi a partir do poema Vozes-Mulheres que escrevi o projeto para os alunos do 3º ano. Mas os alunos das outras séries pediram. 'Quem é essa mulher, o que é esse poema?'", contextualizou ao O POVO a professora. Desde então, os alunos do Ensino Médio têm lido não apenas Conceição, mas também Djamila Ribeiro, Angela Davis e outras autoras negras, aprofundando temas e debates em seminários e apresentações artísticas. Ao projeto inspirado na escritora, deu-se o nome de Vozes Mulheres.

O Slam das Minas do ABL, performance de rap, jogral poético e música percussiva foram apresentadas ao olhar atento de Conceição por estudantes, muitos trajando camisas do projeto com os dizeres "Combinamos de não morrer" - frase do célebre conto da mineira. Papéis que levavam cartas e desenhos feitos por eles inspirados no livro de contos Olhos d'Água enfeitavam o ambiente em varal improvisado. A partir disso, a escritora celebrou a co-autoria dos jovens. "O livro em si é uma matéria morta. Se ficar na estante, dá poeira. Quem dá sentido ao livro é quem lê, que vira co-autor. O que toda autora quer é ver a multiplicação dos seus textos. Vocês são autoras e autores na medida em que trabalharam esses textos", celebrou.

Conceição ainda pediu que eles não se esquecessem que aparência não dita futuro. "Muitas pessoas vão olhar para mim e dizer que não tenho cara de escritora", exemplificou durante a fala, deixando naquela juventude a crença de que é ela quem tem o poder da mudança. Após o término da atividade, na sala do cafezinho, entre comidas, pedidos de selfies e autógrafos, Conceição falou ao O POVO sobre os encontros com os jovens. "As culturas africanas, principalmente as tradicionais, têm um princípio de respeito muito grande às pessoas mais velhas, porque são as que transmitem as experiências, as que, como já viveram, têm muito o que contar. Mas, ao mesmo tempo, têm um respeito pelo jovem, porque o jovem potencializa. A criança potencializa. A criança e o jovem significam o caminho futuro", ressaltou. "A minha experiência tem me permitido viver isso. Cada vez que estou com jovens, saio potencializada. Hoje, por exemplo, é um momento em que readquiro força, que me potencializo. Além do mais, percebo que minha vida fez sentido. Quando vejo jovens que tem a idade pra ser meus netos me acompanhando, se apropriando do meu texto e fazendo novas criações, isso me certifica que minha vida vale a pena. Me certifica que eu tô deixando semente, que a minha escrita faz significado. Cada encontro desse eu saio com mais potencialidade e com mais vontade de viver, acreditando que eu ainda tenho muito o que viver e tenho muito pra deixar pra essa juventude", ensinou, num eco da vida-liberdade. (João Gabriel Tréz)

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