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Escolha de "A Vida Invisível" para representar Brasil no Oscar reafirma força do cinema cearense
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Escolha de "A Vida Invisível" para representar Brasil no Oscar reafirma força do cinema cearense

| Análise| Escolhido para representar o Brasil na disputa ao Oscar de Melhor filme internacional, A Vida Invisível, do cearense Karim Aïnouz, reafirma a força da produção nacional
A vida invisível, filme de Karim Aïnouz  (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO A vida invisível, filme de Karim Aïnouz

O momento é de reafirmação de força do cinema cearense e brasileiro. O premiado A Vida Invisível, do fortalezense Karim Aïnouz, foi a obra escolhida para tentar uma vaga no Oscar 2020 na categoria de Melhor Filme Internacional. A escolha vem após uma carreira premiada em festivais internacionais. O primeiro dos prêmios foi o da mostra Un Certain Regard, segunda mais importante do célebre Festival de Cannes. 

Para a indicação ao Oscar eram 12 os concorrentes do cearense, mas a disputa desde o princípio estava entre A Vida Invisível e Bacurau, mistura de western e ficção científica, dos pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles - este também saiu premiado em Cannes, levando o prêmio do júri da principal mostra competitiva do evento. A escolha do representante do Brasil na disputa por uma das vagas finais no Oscar foi feita por comissão composta pelos cineastas Anna Muylaert, David Schürmann, Walter Carvalho e Zelito Viana, a diretora do Festival do Rio Ilda Santiago, o roteirista Mikael de Albuquerque, as produtoras Sara Silveira e Vania Catani e o curador Amir Labaki.

Os discursos tanto dos envolvidos com Bacurau quanto com A Vida Invisível, vale ressaltar, não eram de competição. Dois filmes de nordestinos foram premiados internacionalmente, repercutiram junto à crítica e público por onde passaram e chegaram à comissão com caráter de favoritos - ou seja, tudo que havia eram motivos para celebrar a produção da Região, fortificada a partir de uma construção histórica de políticas públicas que descentralizaram investimentos para descentralizar sotaques e olhares. Tanto A Vida Invisível quanto Bacurau tinham a seu favor as vitórias em Cannes, mas o filme do cearense pode ter tido favoritismo por poder ser considerado mais palatável - afinal, é um melodrama frente a uma distopia. A comissão pode ter imaginado que a obra se comunicaria melhor e mais universalmente com os votantes. Ajudou, também, o fato de que o longa tem Rodrigo Teixeira como produtor, já um insider da indústria norte-americana, e distribuição nos EUA garantida pela Amazon, também uma gigante por lá.

Ter em uma disputa deste tipo 12 filmes que tiveram carreira em festivais estrangeiros e nacionais, nas salas comerciais, apostando em temáticas importantes para a compreensão da sociedade brasileira e mostrando diversidades muitas, enfim, é motivo de celebrar o cinema brasileiro. Celebrar Los Silencios, de Beatriz Seigner, com seus protagonistas indígenas; Sócrates, de Alex Moratto, que já repercutiu anteriormente em premiações dos EUA; A Última Abolição, de Alice Gomes, que reconta e reflete sobre a importante trajetória da abolição no País; A Voz do Silêncio, de André Ristum, selecionado para festivais no País e com a grande Marieta Severo no elenco; Bio, de Carlos Gerbase, com sua proposta singular de ficção científica; Legalidade, de Zeca Brito, que narra passagem histórica importante do Brasil dos anos 1960; Humberto Mauro, de André Di Mauro, documentário baseado em obras de um dos grandes pioneiros do audiovisual no País; Espero Tua (Re)Volta, de Eliza Capai, retrato pulsante de movimentos estudantis; Chorar de Rir, de Toniko Melo, com sua proposta de aproximar comédia e drama; e Simonal, de Leonardo Domingues, falando de racismo, cultura e ditadura a partir da biografia do célebre cantor.

O escolhido, por sua vez, inspira-se no no romance A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da escritora Martha Batalha, para falar de emancipação feminina, família e laços a partir da trajetória de duas irmãs no Rio de Janeiro dos anos 1950. Nos papeis principais, Carol Duarte e Júlia Stockler interpretam as irmãs Eurídice e Guida. Em participação especial, Fernanda Montenegro, importante voz pela defesa da cultura.

No recorte local, o momento é mais especial pelas celebrações que viemos somando com o tempo, com vitórias como a de Pacarrete - filme de Allan Deberton gravado em Russas sobre uma figura do município -, que arrebatou oito prêmios no Festival de Gramado. A Vida Invisível terá exibição especial em Fortaleza já nesta sexta, 30, na abertura do 29º Cine Ceará, e no mês que vem, em 19 de setembro, chegará aos cinemas do Nordeste, alcançando o restante do País em outubro. Celebremos, então, apreciando essas obras, procurando ter contato com o que é produzido aqui, respeitando os trabalhadores da cultura e do audiovisual e cobrando juntamente deles que esse respeito se dê plenamente, em todas as instâncias, com liberdades garantidas.

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