A frase "Compre menos, escolha bem, faça durar", de Vivienne Westwood, estilista famosa no mundo todo por sua voz à sustentabilidade e de engajamento político, dá as boas-vindas e, ao mesmo tempo, a dimensão de uma pesquisa, nascida no Ceará, mas de impacto global, voltada para moda e comportamento consumidor. Érica Maria Calíope Sobreira, administradora, é uma das autoras do olhar interdisciplinar inciado em 2018 no programa de pós-graduação da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (Feaac) da UFC. Seu interesse pelo slow fashion, totalmente oposto à moda rápida, a guiou, desde a graduação, a refletir sobre o tema no estudo desdobrado em mais dois termos.
"O empoderamento é um conceito amplo, mas para o nosso estudo, optamos por noções que tinham relação com 'uma forma de pensar fora dos sistemas que moldam o indivíduo' e preocupações com questões ambientais e sustentáveis e aspectos éticos da produção e consumo de roupas", explica sobre o primeiro. Para a pesquisadora, o slow fashion seria essa forma de pensar fora do sistema de fast fashion, dominante na indústria, além de associado com essas preocupações.
O materialismo também surge como um vetor para a compreensão do slow. Enquanto quem é mais envolvido com as tendências de moda adquire mais bens, o consumidor slow fashion, diz Érica, com base na pesquisa aplicada em Fortaleza, ele se afasta dessas tendências, típicas do fast fashion. "Aqui há valorização de peças de alta qualidade, com maior durabilidade e versatilidade, em menor quantidade, originadas a partir de uma produção mais artesanal, local e sustentável, com mais conexão e envolvimento com os produtores", relata a pesquisadora, que expõe o outro lado, não só negativo. "Mesmo indivíduos materialistas podem optar por produtos slow fashion quando isso representar a obtenção de peças exclusivas", diz.
A pesquisa, premiada em dois congressos internacionais este ano, na Academia Europeia de Administração e na Academia de Marketing, realizados em Lisboa e Londres, respectivamente, segue agora para a próxima fase. Quer identificar perfis de orientação ao slow fashion do consumidor cearense.
DESIGN AUTORAL
Criada há três anos, Gabriela Fiuza resgata o fazer manual em uma proposta, além de vestível, de ligação e afetividade. "O que me motivou a abrir a marca foi justamente o contexto slow fashion. Eu havia acabado de fazer a disciplina de slow fashion e via nesse contexto uma solução para trazer algo novo para o mercado e que realmente fizesse sentido para mim", conta a estilista de nome homônimo.
Ela une o slow ao crochê como carro-chefe. "Tudo começa no processo criativo. Dificilmente penso peças de crochê com modelagens 'da moda'. Procuro sempre desenvolver modelagens que passem de mãe para filha", exemplifica Gabriela, que vai no contrafluxo das tendências de massa. Deposita sentido e atemporalidade à marca, desenvolvida com artesãs do sertão cearense.
A atual indústria de vestuário
Comandada pelo sistema de fast fashion.
1 Tingimento e tratamento de têxteis provocam 20% da poluição das águas no mundo.
2 Mais da metade da oferta de roupas de fast fashion é descartada em menos de um ano.
3 Nos últimos 15 anos dobrou a quantidade de roupas vendidas no mundo, mas o número de vezes que se usa uma roupa caiu em 36% neste período.
Fonte: Relatório A New Textiles Economy: Redesigning Fashion's Future, elaborado pela Fundação Ellen MacArthur (2018).
SLOW FASHION
Surge como um movimento que desenvolve uma compreensão abrangente da moda sustentável.
1 Abordagem local
2 Sistemas de produção transparentes
3 Produtos sustentáveis
Fonte: Estudos de Clark (2008), Cataldi, Dickson e Grover (2010); Antanaviit e Dobilait (2015).