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Viva o "povo da lona"!
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Viva o "povo da lona"!

Cine Ceará exibe hoje o filme Maria do Caritó e faz homenagem à protagonista da obra, Lília Cabral. A atriz conversou com O POVO sobre o longa, cultura e carreira
Foto: Selmy Yassuda / divulgação "Maria do Caritó", de João Paulo Jabur, é protagonizado por Lília Cabral, que interpreta uma mulher considerada santa que só quer poder ser humana

"Eu, na verdade, gostaria de fazer bem mais cinema do que eu fiz até agora. Tenho uma paixão desde criança. Tinha um cinema de bairro e passavam desde as chanchadas da Atlântida aos filmes do Zefirelli, Fellini, Mazzaropi, os desenhos da Disney. Isso alimenta", começa a atriz Lília Cabral em entrevista ao O POVO. Uma das figuras mais queridas da dramaturgia brasileira, a paulistana é reconhecida em especial pelos trabalhos na televisão. No entanto, foi pelo cinema que ela chegou à profissão - e é também por ele que ela chega hoje ao 29º Cine Ceará. Lília receberá o Troféu Eusélio Oliveira em homenagem à carreira e apresentará o longa ainda inédito Maria do Caritó, protagonizado por ela e dirigido por João Paulo Jabur.

A personagem-título da obra é uma mulher considerada milagrosa na pequena cidade de nascença. Ainda bebê, passou por complicações e, em troca de sua saúde, foi prometida pelo pai para o desconhecido São Djalminha. O problema é que esse trato celestial incluía a virgindade de Maria. Intocada ao longo da vida, a mulher, com o aproximar do envelhecimento, passa a buscar com ainda mais fervor o sonho de um amor verdadeiro. Neste processo, marcado por uma linguagem leve e ingênua, a chegada de um circo na cidadezinha é vista por Maria como a oportunidade de nova vida. "Receber essa homenagem é muito emocionante, arrebatador, principalmente através de um filme que nós lutamos tanto pra conseguir fazer - e conseguimos -, de um autor pernambucano e que trata da arte brasileira, da dramaturgia brasileira. É completamente cúmplice do Brasil e dos atores", celebra Lília.

A trama surgiu originalmente como peça de teatro, escrita especialmente para a atriz pelo dramaturgo Newton Moreno. Outra obra de destaque de Lília no cinema também foi uma adaptação: Divã (2009), de José Alvarenga Jr., que foi de livro à peça e, depois, a filme de sucesso. "Com Maria do Caritó, quando estreamos, por um bom tempo muita gente vinha me perguntar se eu não queria transformar em filme. Quando viajamos pelo Brasil é que eu entendi a popularidade, principalmente quando cheguei no Nordeste. Pensei: acho que dá para transformar essa obra tão brasileira, poética e divertida em cinema, sim", remonta Lília.

A história parte da santa que só queria ser humana para falar de diversos assuntos bastante atuais, como política - na figura do agressivo coronel interpretado por Leopoldo Pacheco -, o lugar da cultura - a partir da presença do circo e dos ataques que o coronel faz "ao povo da lona" - e o empoderamento de si - presente na trajetória pessoal da protagonista. "Ninguém aqui quer levantar bandeira, mas a gente quer deixar claro que somos atentos, lutadores, guerreiros, e acho que isso é muito importante de deixar bem claro no momento de hoje", considera a atriz. "Como é que a gente consegue sobreviver se a arte não está do nosso lado? A arte brasileira é o nosso sentimento real. Precisamos dela para sobreviver, passar aos nossos filhos e netos, para sorrir, chorar, escrever. Precisamos nos alimentar todos os dias, porque sem esse alimento não vamos a lugar nenhum", avança a atriz.

A expectativa, enfim, é que as pontes entre a história e o público se façam firmes. "O filme traduz os sentimentos mais simples, que todo mundo conhece. O público não só entende como acomoda, encaixa, protege, recebe. Espero que as pessoas deem muita risada, mas que fiquem com aquele nó na garganta no final. É ele que vai fazer o público dizer: 'Você tem que assistir Maria do Caritó! É tão divertido, mas às vezes dá uma peninha. Me identifiquei com tanta coisa!'", conclui.

 

Exibição de Maria do Caritó e homenagem à Lília Cabral

Quando: hoje, 31, a partir das 19 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 / Praça do Ferreira - Centro)

Entrada gratuita com distribuição de ingressos na bilheteria duas horas antes da sessão

Para ver a programação completa do festival acesse www.cineceara.com

 

Foto do João Gabriel Tréz

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