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Novo filme da cineasta japonesa Naomi Kawase traz a francesa Juliette Binoche em trama mágica
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Novo filme da cineasta japonesa Naomi Kawase traz a francesa Juliette Binoche em trama mágica

"Vision" é costurado por mistérios e sugestões que não se sustentam
Tipo Opinião
O filme
Foto: divulgação O filme "Vision", da diretora japonesa Naomi Kawase, é estrela pela atriz francesa Juliette Binoche

A construção inicial de Vision, décimo filme da carreira da premiada diretora japonesa Naomi Kawase, sugere que algo interessante pode acontecer no decorrer dos minutos que se seguirão. As belas imagens da natureza são simultaneamente imponentes e delicadas, criando junto da paisagem sonora uma atmosfera um tanto suspensa. Aos poucos, começamos a acompanhar a visita que a francesa Jeanne (Juliette Binoche), que trabalha viajando e escrevendo sobre as experiências vividas, faz a uma floresta japonesa. Este destino, porém, parece ter sido escolhido por mais do que motivos profissionais. A protagonista está naquela floresta japonesa na intenção de encontrar a mágica planta Vision, que tem o poder curativo de dissipar a dor humana.

A proposta fantástica é tratada com seriedade e convence pelo menos de partida. Somam-se à busca de Jeanne a tradutora e amiga Hana (Minami) e, de maneira mais relevante, o solitário Satoshi (Masatoshi Nagase) - que, ao ser questionado pela protagonista sobre em que trabalha, responde "guardo a montanha" - e a sensitiva e misteriosa Aki (Mari Natsuki) - senhora cega que afirma ter nascido "há mais ou menos mil anos". São inserções que reforçam a estranheza e o caráter fantástico da obra.

A busca pela Vision que Jeanne empreende aos poucos começa a ser contextualizada quando a montagem abre espaço para flashbacks pouco claros, mas que sugerem que há algum trauma pregresso na vida da protagonista. Além desses momentos de flashback, o longa também tem outros elementos relacionados ao tempo que acabam dando a impressão de que há algo no escopo da história que tenha ligação com linhas narrativas temporais entrecruzadas. São tanto falas das personagens quanto a própria montagem do filme, que traz também cenas que aparentam estarem temporalmente no futuro - ainda que não haja nenhuma indicação que dê certeza da impressão.

Até por volta dos primeiros 45 minutos, Vision consegue envolver porque ainda está justamente neste momento de sugestionar, o que faz com que o espectador tenha curiosidade pelos desdobramentos e até mesmo pela própria construção do mistério. A magia da planta desejada, a dúvida em relação ao tempo, as atitudes de Aki, as cenas de natureza que seguem ao longo de toda a duração do filme, são muitos os elementos de interesse. Para além da parte fantástica, também é interessante acompanhar a relação entre Jeanne e Satoshi, pautada em uma cumplicidade bastante natural.

A partir desses elementos, infere-se que a jornada pela Vision, ou seja, pela dissipação da dor, pode ser uma metáfora - fácil, porém justa - da busca pela felicidade plena. No entanto, quanto mais tempo de filme se passa, menos claro ele se torna. O problema, porém, não é porque a obra tem caráter hermético ou se distancia do público. O filme perde força porque tanto sugere e tanto promete que, no momento de começar a concretizar, se esvai em acontecimentos desconexos, se perde em relações de causa e efeito pouco entendíveis e se torna, enfim, confuso. Esbarrar em algumas passagens cujo tom se aproxima daquele adotado em discursos de auto-ajuda também não faz muito pela obra.

A obra, enfim, é quase uma ficção científica, quase uma jornada de redenção pessoal, quase uma obra que medita sobre espiritualidade. Ao longo dos mais de 100 minutos de Vision, fica a sensação de que o filme nunca se cumpre de fato.

"Vision"

Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81)

Quando: sessões nesta quarta-feira às 15 e 20 horas

Mais informações: @cinemadodragao

 

Foto do João Gabriel Tréz

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