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Cinema cearense se consagra em festivais com filmes de diretores estreantes
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Cinema cearense se consagra em festivais com filmes de diretores estreantes

Vida&Arte discute com os premiados o significado do fato para a produção local contemporânea
Nascido em Russas, Allan Deberton é diretor de "Pacarrete", longa de estreia do diretor que levou oito prêmios no Festival de Gramado de 2019 (Foto: ALEX GOMES EM 12/9/2019)
Foto: ALEX GOMES EM 12/9/2019 Nascido em Russas, Allan Deberton é diretor de "Pacarrete", longa de estreia do diretor que levou oito prêmios no Festival de Gramado de 2019

Os cineastas Allan Deberton e Armando Praça se sagraram, em intervalo de duas semanas, os grandes vencedores de dois dos principais eventos de cinema do Brasil: respectivamente, o Festival de Gramado, onde Pacarrete levou oito prêmios em 24 de agosto, e o Cine Ceará, no qual Greta ganhou três troféus no último dia 6. Entre as láureas, os filmes levaram os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção de cada evento. Tanto Allan quanto Armando são nomes com carreira em curta-metragem já reconhecida, mas estreantes em longas. As vitórias ocorreram em meio a um positivo contexto do audiovisual cearense, que vem se destacando em termos quantitativos e qualitativos com produções estreando comercialmente e em festivais como nunca antes.

Greta - selecionado inicialmente para o 69º Festival de Berlim - e Pacarrete - que estreou no 22º Festival de Xangai - foram realizados a partir de editais públicos: o primeiro pelo antigo Prodecine 05, da Agência Nacional do Cinema e do Fundo Setorial do Audiovisual, e o segundo pelo Edital de Baixo Orçamento, do hoje extinto Ministério da Cultura. "É importante informar que os editais, com objetivo de fomentar a produção de obras, são fundamentais para a existência destes filmes, formando mão de obra e também público para cinema brasileiro, através da circulação dos filmes. Além de (trazerem) uma série de benefícios: eternizar a diversidade cultural brasileira, repercutir no exterior a nossa cultura", ressalta Allan.

Os prêmios conquistados também falam do papel relevante da formação. Armando é formado pelo Instituto Dragão do Mar, escola dos anos 1990 que era financiada pelo governo estadual, onde fez cursos de dramaturgia e direção e realização em audiovisual. Já Allan se formou na Universidade Federal Fluminense porque, quando prestou vestibular, não existiam - diferentemente de hoje - faculdades de cinema no Ceará. "(O momento de vitórias) aponta para a qualidade do cinema que é feito aqui e também para uma maturidade que advém dos processos de formação, tanto dos cursos do Instituto Dragão do Mar - agora a gente tá colhendo o que foi plantado -, mas também dos cursos universitários, da Federal e da Unifor, e do Porto Iracema e outros processos de formação", aponta Armando.

Tanto os editais quanto os processos de formação, enfim, são diferentes braços de investimento e, como atestam as conquistas recentes, deram resultados. Allan e Armando, porém, reforçam que processos culturais demandam tempo. "Ambos os filmes eram projetos antigos, muito particulares de seus realizadores. Pacarrete, por exemplo, tem gênese em 2007", ilustra Allan. "Este momento que vivemos hoje é reflexo de bom investimento e iniciativas, como a regionalização, que deram certo", completa. "O mais importante em relação à produção cultural, não só de cinema, é entender - e não só os governantes, mas a sociedade de maneira geral - que não adianta querer que os resultados surjam imediatamente. Investir em arte, cultura e educação é, como a palavra diz, um investimento. A gente tem que saber que vai colher frutos, mas não necessariamente em curto prazo. Um processo de formação consistente não se dá em um, dois, três anos, mas dura praticamente a carreira inteira desse cidadão ou cidadã", defende Armando.

Como forma de reafirmar e fortalecer o momento positivo para o surgimento de ainda mais novos nomes, é importante, afirmam os cineastas, que haja continuidade das políticas públicas - o que, no atual cenário federal de cortes e críticas, é algo incerto. "É importante que esses investimentos aumentem e tenham continuidade. O grande problema que temos nesse âmbito é que, a cada governo, esses investimentos sofrem cortes, retaliação, eventualmente deixam de existir. Isso atrasa muito o processo de consolidação de um mercado de produção, no audiovisual ou em outras áreas da cultura e educação", elucida Armando. "Somos um setor da economia que se auto-sustenta e um dos mais bem-sucedidos. Ainda assim querem desmantelar a nossa atividade. Resta a nós apelar aos governos estaduais e municipais para que a produção local não se paralise. Sugiro que haja um diálogo urgente com o setor audiovisual cearense e lideranças políticas, no sentido de incentivar fomento, formação e difusão, para que não andemos para trás quando o cinema cearense parecia estar dando pulos à frente", sugere Allan.

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