Numa capital desigual como Fortaleza, as fronteiras entre as classes sociais muitas vezes não são marcadas por muros concretos, podendo coexistir num mesmo bairro, por exemplo, pessoas com condições financeiras distintas. Muros simbólicos entre elas, porém, persistem. Na intenção de demonstrar que essas separações não são intransponíveis, a série cearense Lana & Carol mostra a construção da amizade entre as personagens-título, duas meninas de 14 anos (interpretadas por Nicoly Mota e Marina Zonari) que vivem na mesma rua, mas não se conheciam por conta de pertencerem a classes sociais diferentes. A comédia adolescente - criada por Natália Maia, Samuel Brasileiro, Marina Morais e Daniel Filipe, com direção-geral de Natália e Samuel, participação de Luciana Vieira e Michelline Helena na direção e produção de Clara Bastos (Praia à Noite) e Allan Deberton (Deberton Filmes) - estreia nesta sexta, 27, na TV O POVO, marcando o lançamento do projeto O POVO Mais Telas.
O tema principal da série veio a partir de demanda do edital das TVs públicas de 2015, no qual Lana & Carol foi aprovado. "A partir da premissa, pensamos nos contrastes econômicos que temos em certas ruas de Fortaleza, onde coabitam prédios luxuosos e comunidades de baixa renda. Queríamos pensar, através da ficção, num encontro desses territórios", estabelece Natália Maia. "Percebemos, junto com elas, que esse espelhamento das vidas é assimétrico e que temos que perceber nossos privilégios. Para nós, era muito importante que a série tivesse um duplo protagonismo", avança a criadora. "A decisão por protagonistas femininas foi muito natural, dada a oportunidade de dar voz a mulheres, com mulheres na equipe de roteiro, e, principalmente, pela riqueza de temas relevantes que partem da vivência específica da adolescente - corpo, segurança, comportamento, oportunidades profissionais", explica Marina.
Focando no público adolescente, a obra se aproxima deste espectador a partir dos elementos que compõem o universo das personagens, como a relação com a tecnologia, cultura pop, amigos - interpretados por Jeff Pereira, Mayara Braga, Luana Cecília e Arthur Jurema - e família - na figura das mães das meninas, interpretadas por Cris Raséc e Vanessia Gomes. "Pensamos esse diálogo com o público jovem a partir do tom da série. Mesmo que aborde temas mais complexos, o que predomina é um tom de comédia", contextualiza Daniel Filipe. A partir disso, Lana & Carol atinge também outros públicos. "As mães também têm suas histórias, problemas. Há uma busca por uma empatia entre mães e filhas. Talvez esse seja um olhar que atraia um público mais velho pra série", prossegue.
Outro ponto de destaque é a identificação do público com o contexto em que acontece a série, sendo possível reconhecer lugares, situações e linguajar próprios da Capital cearense. "Estamos muito felizes em estrear na TV O POVO. Ela tem nosso sotaque e queríamos muito que o público fortalezense tivesse acesso logo", celebra Samuel. "Já que a maioria da produção audiovisual na televisão retrata contextos diferentes de nossa Cidade, a relação da série com a cidade e possibilidade de sua exibição em Fortaleza apontam para um acesso mais próximo entre o espectador, jovem ou adulto, com o que ele vai ver na tela", avança Daniel. Essa pluralidade de vozes e olhares acaba sendo, como afirmam os criadores, fruto direto do edital das TVs públicas, que aposta em conteúdos regionais. "Ele é muito importante para a política pública cultural brasileira justamente por perceber como investimento a produção de narrativas regionais, de temáticas diversas. Investir nas narrativas do nosso tempo é construir um futuro mais plural", aponta Natália.
Lançamento da série Lana & Carol, seguido de bate-papo com equipe e elenco
Quando: dia 27, às 19h30
Onde: Porto Iracema das Artes (rua Dragão do Mar, 160)
Entrada gratuita, mediante lotação
Para assistir: TV O POVO (TV aberta canal 48, Multiplay canal 23 e NET canal 24)