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Bob Wolfenson traz exposição ao Museu da Fotografia Fortaleza
Vida & Arte

Bob Wolfenson traz exposição ao Museu da Fotografia Fortaleza

Mostra Bob Wolfenson: Retratos apresenta mais de 150 obras de um dos mais renomados fotógrafos da América Latina
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Luiz Melodia
 (Foto:  Bob Wolfenson/Divulgação )
Foto: Bob Wolfenson/Divulgação Luiz Melodia

Garry Winogrand (1928-1984), renomado fotógrafo de rua norte-americano conhecido por retratar questões sociais em meados do século XX nos Estados Unidos, defendeu um lema: "Todas as coisas são fotografáveis". Nascido na São Paulo de 1954, a mais de 7 mil km da Nova York de Winogrand, Bob Wolfenson borda-se às artes do fazer do companheiro de ofício: "Winogrand dizia que fotografava para ver mundo fotografado. Eu me identifico completamente". Considerado um dos maiores fotógrafos da América Latina, Bob Wolfenson é especialista em breves — e poderosos — encontros. Suas lentes já retrataram personalidades como Chico Buarque de Hollanda (imagem que ilustra a capa desta edição do Vida&Arte), Hélio Oiticica, Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Taís Araújo, Marília Gabriela, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso e até o mestre Sebastião Salgado. "Nos meus 50 anos de fotografia, paralelamente às atividades que eu exercia, eu fazia retratos. A coisa mais permanente da minha vida são os retratos", partilha.

Reunindo mais de 150 registros iconográficos, a exposição Bob Wolfenson: Retratos aporta no Museu da Fotografia Fortaleza neste sábado, 5. Sob curadoria de Rodrigo Villela com assistência de Fábio Furtado, a mostra é uma edição da apresentada no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo, no ano passado. Durante a abertura, Wolfenson realizará uma palestra para o público no auditório do MFF às 10h30min e, às 11h30min, fará também uma visita guiada pela mostra.

Com fotografias de personalidades da cultura, do esporte, da política e da moda, Retratos é um passeio pela múltipla carreira de Wolfenson na fotografia: com apenas 16 anos, após a morte do pai, ele precisou trabalhar e ingressou na Editora Abril graças aos contatos de um cunhado. "Mas nem no meu sonho mais delirante eu achava que seria fotógrafo. Eu também me interessava por política e acabei indo estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, mas acabei por optar por fotografar. Ainda que a fotografia não tivesse sido uma vocação minha em primeiro momento — ela foi mais uma necessidade, uma contingência —, ela foi caindo sobre mim e eu fui me tornando fotógrafo. Uma hora eu larguei a faculdade e pensei: 'Agora eu estou fotógrafo'", relembra. Dos contatos com o fotógrafo cearense Francisco Albuquerque aos inspiradores internacionais como Richard Avedon, Wolfenson construiu um trabalho sólido e amplamente reconhecido.

Fernanda Young
Fernanda Young (Foto: crédito)

"Eu transito por muitas disciplinas da fotografia e em cada uma delas alguém me inspira. Eu passo de uma fotografia para outra, dos retratos aos nus. Eu nem hierarquizo, não digo que uma coisa é melhor que a outra: eu não seria nenhum desses fotógrafos se eu não tivesse todos esses outros me habilitando. Na hora que eu estou sendo aquele, eu preciso de todos os outros ali. Estou sendo aquele porque existem todos esses outros em mim", continua Wolfenson. Na multiplicidade do olhar atento, o paulista fotografou para veículos diversos, como Folha de Sao Paulo, Veja, Vogue, Elle, S/N, Playboy, Harper's Bazaar, Marie Claire e Rolling Stone.

A imponderabilidade do encontro com o outro, no entanto, é o que mobiliza Wolfenson. "O retrato obedece natureza dos encontros — ou seja, o retrato é uma entrevista fotografada: você dá estímulos, a pessoa responde com os estímulos dela e a gente vai chegando em uma coisa que não estava prevista, o encontro vai acontecendo. Eu acho que o resultado de um trabalho é a superfície, é estampado na bidimensionalidade da fotografia. Se há contundência no retrato, se ele interessante, se ele é belo ou se ele é ruidoso, depende da disponibilidade para o encontro". Dessa união entre fotógrafo e fotografado, muito escapa das lentes: "Fui a Paris fotografar Sebastião Salgado e ele foi muito generoso com o tempo dele. Foi muito mais do que uma sessão fotográfica", exemplifica.

"O que me provoca o olhar? Sou eu mesmo, a existência, as coisas que estão ao meu redor, a minha vida, para onde eu olho, o País que eu vivo, a cultura brasileira, o que eu ouço, as mulheres lindas, os homens lindos, toda sorte de coisa... A humanidade me provoca: o que o homem fez e o que o homem destruiu. O assunto da fotografia é ela em si", encerra Wolfenson. Enquanto existir mundo, os olhos do fotógrafo estarão atentos para capturá-lo com a mesma curiosidade daquele menino de 16 anos perdido entre os corredores da Editora Abril.

Bob Wolfenson: Retratos

Quando: até domingo, 16 de fevereiro.

Horário de funcionamento: visitação de quarta-feira a domingo, de 12h às 17h.

Onde: Museu da Fotografia Fortaleza (Rua Frederico Borges, 545, Varjota)

Gratuito

 

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