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Filme cearense de horror, "O Clube dos Canibais", entra em cartaz no Cinema do Dragão
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Filme cearense de horror, "O Clube dos Canibais", entra em cartaz no Cinema do Dragão

O longa apresenta trama que mistura horror e questões sociais ao falar de uma elite que come os empregados
O horror cearense O Clube dos Canibais é protagonizado por Gilda (Ana Luiza Rios) e Otávio (Tavinho Teixeira), casal rico que se alimenta dos empregados (Foto: divulgação)
Foto: divulgação O horror cearense O Clube dos Canibais é protagonizado por Gilda (Ana Luiza Rios) e Otávio (Tavinho Teixeira), casal rico que se alimenta dos empregados

O ano de 2019 vem sendo um marco na história do cinema cearense. Filmes com DNA do Estado - seja na produção, direção, equipe ou elenco - vêm ganhando não apenas reconhecimento no circuito de festivais, mas também chegando comercialmente às salas de cinema do País. No primeiro semestre, por exemplo, estrearam longas distintos entre si como Cine Holliúdy 2, António Um Dois Três e O Último Trago. Em outubro, a lista cresce, assim como a diversidade de abordagens: hoje, estreia do horror cearense O Clube dos Canibais. Dirigido por Guto Parente, o filme apresenta o retrato de uma elite que, literalmente, come os empregados. A história, que aposta em violência gráfica, sátira e comentários sociais, é apresentada pelo ponto de vista do casal Gilda (Ana Luiza Rios) e Otávio (Tavinho Teixeira).

Entre festas da sociedade e visitas ao gabinete de um deputado amigo, há no cotidiano íntimo do casal o hábito do canibalismo. O filme não explicita, mas é possível inferir que a prática foi adicionada à rotina deles a partir da participação de Otávio num clube formado somente por homens - inclusive o deputado -, que dá título à obra. É esse o contexto da trama, que vai de um tom mais gráfico e violento a uma sátira dessa elite retratada. “O filme acaba sendo uma mistura de vários desejos. Tem uma vontade de fazer um filme de terror sobre esse casal sociopata da elite, e isso traz toda uma questão de classe. Eu achava, ao mesmo tempo, importante que o filme também carregasse uma auto-ironia. Para mim era importante que o mecanismo que ele tem de ridicularizar esses membros da elite, de alguma forma, se aplicasse a ele próprio”, estabelece Guto Parente, em entrevista ao O POVO.

A escolha por focar no ponto de vista do casal - ou seja, da elite - traz momentos narrativos e visuais que, em diálogo com o atual contexto sócio-político do País, causam incômodo, desconforto. A premissa básica da trama surgiu em 2013 e as filmagens ocorreram em 2016, culminando num lançamento comercial que chega um ano após o contexto das eleições de 2018. “A gente tá vivendo um momento horroroso, tá diante de muita violência no mundo real, no terror do cotidiano”, inicia Guto. “(O filme) é mais assustador (agora) porque a gente tá vivendo num momento em que a elite tá muito despudorada no desejo de voltar a um modelo escravagista”, avalia.

Em uma cena específica do longa, um personagem dá um discurso que se assemelha às falas conservadoras que ganharam força no último ano. “Quando o filme passou no Festival de Roterdã (em janeiro de 2017), um amigo brasileiro que viu me perguntou se eu tinha feito uma colagem de falas dos deputados no impeachment da Dilma - que aconteceu no dia que a gente começou a pré-produção”, ilustra. “A violência maior do filme, inclusive, está nesse olhar desumanizado que os personagens têm. Isso é muito mais violento que as cenas de gore, que são artificiais. Essa violência é gráfica, não realista. O que acabou se tornando realista são os discursos”, interliga Guto. “Só espero que daqui a alguns anos seja possível assistir e viver esse filme num terror cinematográfico, sem ser adicionado um terror real”, afirma o diretor.

Outro filme cearense lançado em 2019, Inferninho, tem co-direção de Guto, em parceria com Pedro Diógenes. Ele e O Clube dos Canibais foram filmados seguidamente em 2016 e trazem temas e abordagens opostas. Inferninho se passa inteiramente em um bar que serve de refúgio para personagens das margens, que podem, lá, ser o que são. “São filmes muito diferentes e hoje, olhando, é como se O Clube dos Canibais fosse o lado de fora do Inferninho”, estabelece. “O Clube é uma investigação do mal, uma pesquisa sobre os limites do cinismo e da hipocrisia. É um lugar importante olhar, também, nem que seja só essa vez”, atesta.

O Clube dos Canibais

Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)

Quando: sessões às 18h15min e 20 horas

Mais infos: www.facebook.com/oclubedoscanibais/

Foto do João Gabriel Tréz

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