Quem controla o passado, controla o futuro. A frase eternizada nas impressões do escritor George Orwell, conhecido pelo romance distópico 1984, representa a importância de manter a memória viva: não deixar que os erros do passado se repitam. Neste sentido, entrar no Memorial do Campo de Concentração de Dachau, o primeiro campo de concentração da Alemanha Nazista e modelo para outros que se construíram depois, é como se teletransportar para o ano de 1933, quando o local foi aberto pouco após a posse de Adolf Hitler como Chanceler do Reich.
A frase Arbeit macht frei - em alemão, o trabalho liberta - fixadas no portal, da mesma forma que o campo polonês de Auschwitz, é a porta de entrada para o silêncio. Mais a frente, entre os prédios do memorial, um monumento com várias letras grafadas na parede sobre aprender com o passado e unir os vivos em defesa da paz e dignidade humana. Em resumo, ao final, uma frase em cerca de cinco línguas: Nunca mais.
O local, que funcionou de 1933 a 1945 como prisão de 200.000 pessoas, entre judeus e seus descendentes, adversários políticos de Hitler e do partido Nazista e outros grupos, se estabelece na cidade alemã de Dachau, a cerca de 30 quilômetros do centro de Munique. A estimativa é que 41.500 prisioneiros foram mortos entre os 12 anos de funcionamento do campo. Neste sentido, dar o primeiro passo nos campos de pedras, nos prédios de jaulas e nas casas de câmaras de gás já indica o que se espera: o arrependimento. E não de um povo ou etnia específica, mas de toda a raça humana.
A caminhada é fatigante emocionalmente, e ler as descrições dos objetos e espaços é ainda mais demasiado, visto que o local não censura e não poupa descrições. De fato, a jornada é completa: as jaulas onde os presos “privilegiados” permaneciam, os alojamentos que ficavam lotados, os banheiros compartilhados, os bunkers e as áreas comuns aos prisioneiros são o primeiro passo para o aperto no peito. Cada sala carrega uma história, uma memória e uma desesperança diferente.
Entretanto, passar pelas câmaras de gás e pelas salas de incineração é testar a própria humanidade. Os espaços onde os prisioneiros eram mortos e onde seus corpos eram incinerados é remoto, vazio e ao mesmo tempo poderoso. O centro do imaginário do Holocausto se estabelece nessas salas, que de tão pequenas, pouco parecem que tiraram tantas vidas.
Nesse pedaço, o único som comum a todos é a melodia dos pássaros, que se contradizem com as memórias que ali, involuntariamente, tiveram de permanecer. E, por mais silenciosa que seja toda a visita - mesmo as guiadas com altos falantes -, não se pode calar todas as lembranças e memórias que se manifestam em todo o campo de cor cinza.
O caminhar é uma forma de redenção que produz questionamentos sobre o quão longe a raça humana está deste passado e como ela pode, e deve, definir seu encaminhamento para o futuro. Passar por Dachau é um desafio tão intenso que é recomendado aos visitantes a idade mínima de 12 anos, mas é um “mal” necessário que funciona como aula magna de história.
Ao final do campo, outro memorial, onde é possível deixar velas, mensagens, flores e, claro, a promessa do que parece ser a principal mensagem de toda a visita: nie wieder, never again, nunca mais.
Outros locais na Europa para conhecer sobre o nazismo:
Áreas de desfile do partido nazista - Nuremberg, Alemanha
Memorial aos Judeus Mortos da Europa - Berlim, Alemanha
Museu de Anne Frank - Amsterdã, Holanda
Museu da Insurreição de Varsóvia, em Varsóvia, Polônia
Kehlsteinhaus, o "ninho da Águia" - Berchtesgaden, Alemanha
Campo de concentração de Auschwitz - Owicim, Polônia
A fábrica de Oskar Schindler - Cracóvia, Polônia
Memorial da 2ª Guerra Mundial - Normandia, França
Matheus Janja
A visita é incrível e assustadora ao mesmo tempo e não importa quantos filmes, documentários e fotografias você veja sobre o que aconteceu, é impossível imaginar o que as pessoas que estiveram presas ali passaram de fato.
Rafaela Scherer
No momento que entrei no campo de concentração, me senti mal, não só por saber o que tinha acontecido lá no passado, mas por ter uma energia pesada. A cada sala e corredor que passávamos, líamos histórias. Acho que as piores foram as salas de cremação e as câmaras de gás. Fiquei sufocada lá dentro.