Logo O POVO+
Curta cearense "Aqueles dois" entra na programação de mais de 30 festivais
Foto de João Gabriel Tréz
clique para exibir bio do colunista

João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Curta cearense "Aqueles dois" entra na programação de mais de 30 festivais

Prestes a completar um ano no circuito de festivais, o curta cearense Aqueles Dois, de Émerson Maranhão, soma presença em 31 seleções oficiais e 13 prêmios
Tipo Notícia
Kaio Lemos, um dos protagonistas, é pesquisador acadêmico em Fortaleza
 (Foto: Breno César / divulgação)
Foto: Breno César / divulgação Kaio Lemos, um dos protagonistas, é pesquisador acadêmico em Fortaleza

Uma história cearense sobre dois homens trans vem dialogando nos últimos 11 meses com uma amplitude de públicos e segmentos de todo o Brasil e, ainda, de outros cinco países. O curta Aqueles Dois, dirigido pelo cineasta e jornalista do O POVO Émerson Maranhão, estreou oficialmente em 18 de novembro de 2018 no circuito de festivais, selecionado no 26º Mix Brasil, e, neste quase um ano, acumula 31 presenças em seleções de festivais competitivos - sendo 19 já ocorridos e 11 futuros - e 13 prêmios conquistados. Só nesta semana, o curta chegará a mais seis eventos: Curta Cinema - Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, Curta O Gênero (no próximo sábado, 2, no Dragão do Mar), 24º LesGaiCineMad (Madri), 1º Festival de Cinema no Meio do Mundo (Diadema/SP), 18º Primeiro Plano - Festival de Cinema de Juiz de Fora e 3ª Mostra Sesc de Cinema (Paraty/RJ).

O filme, que marca a estreia do realizador como diretor de cinema, segue as jornadas de dois homens, Caio José e Kaio Lemos, que se ligam, além do nome, pela identidade de gênero. A primeira semente veio em 2015, quando Maranhão realizou com a repórter Ana Mary C. Cavalcante uma pauta natalina para O POVO que focava em pessoas que estavam passando por recomeços. A história de Kaio Lemos, que à época começava o processo de transição, foi uma das que foram narradas. "Ele morava com o Caio José, dividiam um apartamento num bairro da periferia. Era um condomínio antigo, cheio de senhorzinhos e senhorinhas aposentados. Tinham dois homens trans morando ali e as pessoas não sabiam da condição de gênero deles. Eram dois homens trans num lugar com potencial transfóbico enorme, mas onde se ignorava a condição deles. Entrei em 2016 com essa ideia na cabeça", contextualiza o diretor.

Naquele ano, Maranhão inscreveu um projeto para o Edital de Cinema e Vídeo da Secretaria da Cultura do Ceará, mas não houve aprovação. Pouco depois, a pasta lançou o edital de cultura LGBT. "O Allan Deberton, que é o produtor-executivo, disse que a gente inscrevesse (o projeto). O edital de Cinema e Vídeo dava R$ 100 mil, (o valor d)o LGBT era R$ 35 mil. 'Tu topa refazer os custos todos?'. 'Eu topo', e o Allan conseguiu a mágica de fazer o filme com um terço (do valor)", ressalta. Com a aprovação, Maranhão foi procurar os protagonistas e se deparou com outra situação. "Caio José voltou pra Quixeramobim, Kaio Lemos estava morando num abrigo para pessoas trans em Fortaleza - que ele mesmo criou - e eles não se falavam. O roteiro que escrevi pro projeto foi jogado fora, era outro filme", avança o cineasta. "(Então) falei que a história ia ser o reencontro dos dois, era a minha viagem. A primeira vez que eles sentaram para conversar foi no filme - numa cena que inclusive não entrou", revela Maranhão. "Foi bacana porque eles se reencontraram e hoje são amigos novamente".

O curta de 15 minutos se baseia em depoimentos dos protagonistas e também de familiares. Apesar da duração comedida, foram mais de 15 horas captadas. O final das filmagens foi em setembro de 2017, mas o processo de montagem correu por seis meses. "O primeiro corte do filme teve 50 minutos, eu quis fazer um longa, (mas) o Allan tinha determinado que ia ter 15 minutos. Foi pra 40, 30, 20… e aí 15", relembra. Após a pós-produção, o filme estreou no Mix Brasil. "A gente quis estrear lá, achava importante, apostamos e deu certo. Emendamos três festivais em uma semana: o Mix, o For Rainbow e o Recifest, três temáticos", contextualiza Maranhão, referindo-se ao fato de que os três eram voltados para a temática LGBT.

Como destaca o diretor, porém, o filme não ficou só neste circuito. "Ele tem passado tanto em festivais temáticos quanto não-temáticos. Dos internacionais, metade eram temáticos e metade não. No Brasil, passou mais em festivais não-temáticos. E ele é premiado nos dois (tipos)", celebra. Entre os países por onde passou o curta estão Eslováquia, Chile, Panamá, Argentina, República Dominicana e, no começo de novembro, o curta chega à Espanha. "Estamos em 31 festivais, (com) alguns ainda para ter resposta. 31 festivais em competição e mais seis mostras convidadas. É um número que eu acho muito expressivo. Já fomos para 19 e tem mais 11 pela frente. Temos 13 prêmios nesses 19, com chances de aumentar. É uma porcentagem boa, bem boa. Fico assustadíssimo", ri-se o cineasta.

Exibição de Aqueles Dois no Curta o Gênero

Quando: sábado, 2, às 17 horas

Onde: Cinema do Dragão (rua Dragão do Mar, 81)

Entrada gratuita.

Foto do João Gabriel Tréz

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?