Dez anos, quatro discos, um EP, bloco de Carnaval e muitos shows se passaram na vida dos Selvagens à Procura de Lei. Nesse percurso, a banda formada por Gabriel Aragão, Caio Evangelista, Rafael Martins e Nicholas Magalhães conta alguns bons momentos, vitórias e encontros importantes com David Corcos, Dinho Ouro Preto, Roberta Campos e muitos outros. Para celebrar essa primeira década, eles lançaram este ano nas plataformas digitais um disco ao vivo e tocaram pela primeira vez no Rock in Rio (no palco Supernova, onde também tocaram Vivendo do Ócio, Tássia Reis e Maglore, entre outros nomes da cena independente).
A celebração segue para o quarteto cearense com o lançamento de um novo álbum de inéditas. Produzido pelo veteraníssimo Paul Ralphes (que já trabalhou com Kid Abelha, Biquíni Cavadão, Skank, entre muitos outros), Paraíso Portátil é o quarto trabalho dos Selvagens e chega com uma proposta nova que nasceu nos estúdios e deve ser percebida na primeira audição. "Ele (Paul) tem uma maneira de gravar incrível. Ele puxa uma disciplina que até então a gente não tinha. É inglês, né? Tem tudo muito bem arquitetado", comenta Gabriel Aragão por telefone. "Foi muito bom pra gente aproveitar o tempo. A gravação do (disco anterior) Praieiro foi uma grandiosidade que quase a gente não termina".
O resultado dessa nova parceria com Paul Ralphes - também produtor do disco gravado na Maloca Dragão em 2018, diante de um público de mais de 20 mil pessoas - é um trabalho mais elaborado, que deixa de lado a crueza dos discos anteriores. "É um disco muito sincero, que a gente escreveu de uma maneira muito livre. Quando fomos ver sobre o que cada um estava escrevendo, tudo caminhava para a mesma direção. Dúvidas consigo mesmo, busca por autoconhecimento", explica Gabriel, apontando que a banda agora passa por um novo momento, "uma fase adulta".
Musicalmente, essa fase adulta fez de Paraíso Portátil um disco mais sério e nublado. Nem os comentários políticos dos primeiros discos, que refletiam muito do rock oitentista, nem o clima solar e tropical do anterior Praieiro. Esse quarto álbum vem com uma proposta mais pop, timbres mais limpos, batidas eletrônicas intercaladas ao pulso da banda, tudo soando muito bem arquitetado. "Na verdade, foi muito natural. Detesto a ideia de fazer outro disco só pra agradar os fãs. O que eu mais gosto, como fã de outros artistas, é me surpreender", justifica Gabriel, afirmando que as regras foram "deixar as portas abertas para o que vem" e "poder se reinventar".
Segundo Gabriel, Paraíso Portátil também reflete a atualidade do País, mas faz isso a partir de um olhar pessoal, íntimo. Composta ainda na época de Praieiro, mas só lançada agora, Sem Você eu Não presto é uma balada sobre insegurança, sinceridade e parceria. "Foi uma das primeiras feitas para o disco, quando ainda morávamos juntos. É uma que fala de se reencontrar com a ideia de Deus", explica o compositor que também escreveu Eu Não Sou Desse Mundo. A balada dramática foi inspirada numa matéria de jornal que falava de um garoto que foi um dos precursores da modificação corporal, que era muito sozinho e acaba cometendo suicídio. "A história tem uns dez anos. Isso ficou na minha cabeça e saiu agora. Acho que é a única música que fala de política. É meio que uma metáfora", supõe Gabriel.
Seguindo na ideia de todos se arriscarem em novas funções, o baixista Caio, além de tocar os sintetizadores da romântica Sonhos, assume - pela primeira vez - a voz principal da faixa Déjà Vu. Já o primeiro single do álbum, a balada Intuição, traz os vocais bem no "estilo Tim Maia" do baterista Nicholas Magalhães. "A gente, desde o começo, deixou cada um chegar com uma ideia. O Caio já tinha escrito e agora está cantando", comenta Gabriel, acrescentando que sabe que muitos fãs queriam que a banda se voltasse para a sonoridade dos primeiros discos, como um "Brasileiro parte 2". "Eu não faço música para os meus fãs e acho que é o melhor que eu faço por eles. Eu faço pra mim. É que a gente precisa muito botar pra fora essas coisas. A gente está num período de amadurecimento, era hora de olhar pra dentro da gente".
Lançamento Paraíso Portátil
Produção Paul Ralphes
11 faixas
Independente
Lançamento dia 8 de novembro