A premissa do seriado Daybreak, nova produção original da Netflix, não é exatamente inovadora. Pelo contrário. Grupos de adolescentes em um cenário pós-apocalíptico, que se encontram no topo de uma nova hierarquia devido a algum mistério. Adultos desaparecem ou, no caso da série, se transformam em espécimes de zumbis. Roteiro quase de uma receita pronta. Mas a repetição, neste caso, não foi obstáculo para a primeira temporada do seriado, lançado no 24 de outubro na plataforma e baseado na graphic novel de mesmo nome do cartunista americano Bran Ralph.
Uma bomba biológica explode, atingido os adultos e os transformando em criaturas que se assemelham a zumbis caricaturados, os posteriormente chamados de Ghoulies. A cena caótica utiliza de diversas referências a diferentes produções, como Mad Max, Trono Manchado de Sangue, Star Wars e Zumbilândia, mas também a outros elementos, como a família Kardashian e o grupo musical Wu-Tang Clan.
Em uma linha parecida com a série The Society, também da Netflix, os adolescentes remanescentes se dividem em grupos, que dominam espaços da cidade, dividindo-a em diversas tribos. Entre elas estão as líderes de torcida - que se tornam amazonas -, os esportistas - que parecem acreditar que a terra virou uma espécie de Mad Max -, os nerds - que se juntam em uma espécie de organização inteligente - e o protagonista Josh Wheeler (Colin Ford), que descobre em si um talento para viver por entre o caos, sozinho, na cidade de Glendale, Califórnia (EUA).
Em busca da namorada, Sam (Sophie Simnett), o garoto se mantém vivo e muito bem no apocalipse, com carros esportivos, estoques de comida, remédios e aparatos clínicos e uma katana, "a melhor arma para o apocalipse".
Tratado de forma irônica e em um humor sarcástico, o seriado tem grande parte de seu valor nos recursos narrativos, visto que são diferentes vozes que compõem os pontos de vista. A história é contada por meio de flashbacks, efeitos sonoros e trocas constantes de linguagens. Dessa forma, o roteiro acaba com incoerências, mas que parecem propositais e se tornam divertidas.
Os personagens, carismáticos e originais, frequentemente quebram a quarta parede (quando o público olha e conversa com o telespectador) e a referência clássica ao longa Curtindo a vida adoidado se torna mais icônica porque Ferris Bueller (Matthew Broderick) faz participações de peso na temporada.
Josh conta com a companhia (muitas vezes indesejada) de Angelica (Alyvia Alyn Lind), uma criança vândala e genial, Wesley (Austin Crute), um samurai que busca redenção por seus erros do passado, e a Mrs Crumble (Krysta Rodriguez), antiga professora que não se zumbifica completamente, pairando entre momentos insanos e de racionalidade. O elenco também conta com outros personagens tão promissores quanto, mas a menção honrosa vai para Eli (Gregory Kasyan), talvez o mais hilário do programa.
O seriado também não faz cerimônia para cenas violentas, que por vezes acabam sendo exageradas - com sangue e cenas explícitas -, e também desnecessárias, visto que a proposta não é de discurso narrativo, como os clássicos de Tarantino. Entretanto, são poucas a cenas que acontecem neste sentido, e podem ser ignoradas.
Apesar deste pecado, a série é divertida e conta com várias cenas cômicas, principalmente relacionadas à Mrs Crumble, personagem que, após ser transformada em uma espécie de humana irracional/zumbi defeituosa, protagoniza pelo menos metade das melhores situações, formando uma dupla harmônica com Angélica, da mesma forma que o par Steve e Dustin, de Stranger Things, que também parece ser referência da série.
O final é imprevisível e deixa claro as intenções para uma segunda temporada, dessa vez com uma nova motivação e trama e uma possível busca por uma explicação clara sobre o que, de fato, está acontecendo com aquele mundo.
Netflix no Spotify
A série Daybreak parece ser a aposta da Netflix, visto que a plataforma anunciou que a série será a base para seu primeiro podcast, já intitulado de The Only Podcast Left (o único podcast restante), marcado para 7 de novembro no Spotify. O programa, de seis episódios, funcionará como um spin-off do programa e será sobre um grupo de adolescente que decidem fazer um podcast em meio ao apocalipse. As informações são do portal Variety.