Originária do latim 'mascus', a tradução de máscara, para Oswald Barroso, ultrapassa o sentido de mero acessório utilizado para cobrir o rosto ou mesmo o corpo. Desdobrou-se, a priori, em medo - ao mesmo passo que fascínio -, alimentado desde a época de sua meninice no Centro de Fortaleza. "O meu primeiro contato com as máscaras foi no Carnaval de Rua da Senador Pompeu. Eu morava na rua Pedro Pereira, quase esquina com Senador Pompeu, e o Carnaval passava e lá tinham os papangus e outros mascarados", reascende na memória o hoje pesquisador, jornalista e teatrólogo cearense com quase 72 anos.
"Quando você coloca a máscara, é como se você se tornasse outra pessoa. Você tem outro tipo de corpo, outro tipo de voz... A máscara pode ser só facial, mas também corporal. Mas de todo jeito, ela sendo só um tipo de pintura, ainda assim modifica o corpo todo e as suas ações", complementa ele que, há quase 40 anos, debruça-se nas nuances do teatro popular nordestino. O pontapé inicial de sua mais recente pesquisa, que resultou na feitura de Máscaras - Do Teatro Ritual ao Teatro Brincante (Ed. Expressão Gráfica/ 2019), deu-se no início da década de 1990.
"Estava em Paris fazendo um curso, quando assisti um festival de teatro oriental que tinham muitos grupos que usavam máscaras (kabuki, kathakali, etc). Comecei a compreender porque a máscara era um símbolo do teatro e vi que o uso delas fazia com que você desenvolvesse mais sua expressão corporal e um teatro mais requintado, mais bonito, mais profundo e isso me intrigou muito. A partir daí, direcionei o meu estudo em relação ao teatro - nessa época eu já era teatrólogo - e em direção às máscaras", explica.
Máscaras, que encerra uma robusta trilogia iniciada por Reis de Congo - Teatro Popular Tradicional (1997) e seguida por Teatro como Encantamento - Bois e Reisados de Caretas (2013), terá seu lançamento amanhã, 8, às 18 horas, no Theatro José de Alencar. Na ocasião, a apresentação da obra será feita pelo também ator, diretor e teatrólogo Paulo Ess. Já na publicação, as orelhas têm a assinatura do pernambucano Antônio Nóbrega e a apresentação de Zeca Ligiéro, coordenador do NEPAA - Núcleo de Estudos das Performances Afro-ameríndias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio).
"A máscara é um daqueles elementos que podem ajudar a devolver ao teatro brasileiro em geral o seu poder de encantamento e de jogo. O teatro em nossa época contemporânea se tornou excessivamente palavroso, existencial, cinzento. Anda faltando-lhe viço, o espírito da festa, da celebração, da sedução", escreve Nóbrega. Para Oswald, "a máscara não encanta só quem a vê, mas também quem a usa. E encantar é o quê? É tornar-se outra coisa, mudar sua aparência, virar outro".
Dividido em duas partes, "Máscaras Rituais e Mascaradas do Nordeste Brasileiro" e "A Máscara Brincante do Nordeste", o livro segue para além dos palcos e vai ao encontro dos rituais indígenas, ameríndios e do Carnaval propriamente dito, chegando aos folguedos, reisados, cavalos marinhos e bois - este uma das máscaras mais populares do País - com seus Mateus, Catirinas, caretas, cazumbás, carrancas e papangus. "Passo pelo mundo inteiro, mas o foco é o meu teatro porque toda essa pesquisa, ela não foi só em livro, mas também vivenciada em viagens e em exercícios, espetáculos, montagens", embasa o autor.
Ao final da pesquisa, a conclusão: "Vi que todos nós usamos máscaras. A máscara, ela não revela só questões relativas ao teatro, mas também relativas à vida. Porque na vida cotidiana nós usamos máscaras. Existem outras máscaras de defesa, que você disfarça a sua performance e usa na vida comum, mas tudo são máscaras. Ela é a chave para você entender o teatro e o próprio ser. O ser das pessoas. Quem sou eu. Quando uso máscara e quando não uso. Quando eu deixo de ser usando máscara e quando eu continuo sendo eu com ela", sintetiza.
Lançamento do livro "Máscaras - Do Teatro Ritual ao Teatro Brincante", de Oswald Barroso
Quando: Amanhã, 8, às 18h
Onde: TJA (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Quanto: R$ 35 (no cartão) - após o lançamento, a obra ficará à venda em três livrarias do Benfica: Lamarca, Arte&Ciência e Livro L