É da mistura da massa do feijão-fradinho com outros ingredientes certeiros, como cebola, sal, pimenta, camarão seco, vatapá, caruru, tomate verde e azeite de dendê, que nasce o acarajé. Palavra africana que tem suas raízes fincadas na língua iorubá – àkàrà significa “bola de fogo” e je, “comer” – o acarajé encontra-se intrinsecamente ligado à religião do candomblé, sendo a comida preferida de Iansã, orixá dos ventos e das tempestades. Também chamada de Oyá, é ao lado de Xangô (orixá da justiça) que Iansã forma o chamado “casal do dendê”.
“O acarajé foi trazido ao Brasil pelos negros que foram escravizados e ganhou bastante projeção na Bahia. Mas também é muito popular em Recife, em algumas regiões do Maranhão e, na própria Bahia, onde é muito difundido, possui uma organização que tem a ver também com a luta contra o racismo. Eles (baianos) conseguiram condensar a comida com a dança, a beleza negra e, com isso, se fortaleceram, se organizaram e resistiram”, esclareceu Adriana de Maria, baiana de acarajé há 11 anos, nascida na cidade de São Gonçalo (RJ) e residente na capital cearense há 30 anos.
Para colocar esta iguaria tão popular e saborosa ainda mais em evidência, a Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivos e Similares (Abam-CE) promove hoje, 15, das 14h às 22 horas, no Estoril, o I Festival de Acarajé do Ceará. Com acesso gratuito, a programação irá reunir shows de grupos culturais e Feira Negra para a comercialização de produtos africanos, sendo o ponto alto a distribuição de 1.500 acarajés. O evento integra as celebrações referentes ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e ainda presta homenagens ao Dia Nacional das Baianas de Acarajé (dia 25 de novembro).
Pérola de Oyá responde pela coordenadoria municipal da Abam-CE, enquanto Ricardo Muniz (pai de santo da umbanda) coordena a associação no Estado. “Desde que cheguei a Fortaleza, sempre vi o carinho, o amor e até a admiração que o fortalezense tem com o povo da Bahia. Tanto que montei o (restaurante e espaço cultural) Ajeum de Oyá (Benfica). Em 2016, quando trouxemos a Abam pra cá, a ideia era realmente de tudo que acontecesse na Bahia, acontecesse aqui também. Aí quando começou o festival lá, já comecei a maquinar em como trazer pra cá, mas até então não tinha dado certo”, explicou a soteropolitana.
Para a edição de estreia, o Festival de Acarajé do Ceará – que já realiza edições no Rio de Janeiro, Sergipe e Recife – contará com o apoio das secretarias de Cultura e Turismo, bem como da própria Abam de Salvador (BA). A expectativa de Pérola é das melhores. “Espero que o evento seja um sucesso e o primeiro de muitos. E que eu consiga estar trazendo não só o festival - que é uma coisa rica da nossa cultura baiana e, consequentemente, africana - mas também outras coisas para cá”, avalia. “É importante também que se alie a ideia do acarajé à desconstrução do racismo e da intolerância. O acarajé faz parte da economia do negro e isso na Bahia é também muito forte”, frisou Adriana.
Ela chama a atenção ainda para a deturpação em relação à iguaria. “O acarajé não pode – e não deve – receber o nome de ‘Bolinho de Jesus’. É acarajé, sim! Quem for vender, precisa estar devidamente uniformizado(a). A indumentária da baiana e o acarajé são dois patrimônios distintos: ali está o ofício e a comida em si. Daí a importância de se defender, de se proteger. A gente está protegendo uma cultura negra e uma luta antirracista que tem por trás de tudo isso. Estamos defendendo a mulher negra, a nossa negritude, a nossa expressão, a nossa estética, os saberes que têm a ver com o nosso povo”, conclui Adriana.
I Festival de Acarajé do Ceará
Quando: hoje, 15, das 14h às 22 horas
Onde: Estoril (Rua dos Tabajaras, 397 - Praia de Iracema)
Acesso gratuito
ONDE COMER:
ACARAJÉ DA IÊDA
Onde: Praça do Ferreira (em frente ao Leão do Sul - Centro)
Funcionamento: de segunda a sábado, a partir de 12h30min
ACARAJÉ EXPRESS
Onde: Bairro de Fátima (Praça Argentina Castelo Branco) / Carlito Pamplona (rua Consul Gouveia, ao lado do Bradesco da Pracinha) / Cidade dos Funcionários (av. Des. Gonzaga, 1851, próximo à AMC)
Funcionamento: terça a sábado, das 18h às 22h
ACARAJÉ DA ADRIANA
Onde: na entrada do Hiper Bompreço da Bezerra de Menezes (av. José Jatahy, 1012)
Funcionamento: de segunda a sábado, a partir das 18h
Info: 98659 7897 (WhatsApp) / 99960 7897 (Tim)
ACARAJÉ DO ASSIS
Onde: Av. das Flamboyantes, 100 (Praça Leonan Onofre - Cidade 2000)
Funcionamento: de quarta a segunda-feira, das 18h às 23h
Info: (85) 98198 7467
ACARAJÉ DA NEGA PÉROLA
Onde: avenida Beira Mar (aterro da Praia de Iracema, em frente ao Boteco Praia, das 18h às 22h) / Box 12 do Mercado dos Pinhões (praça Visconde de Pelotas, às sextas e sábados, das 16h às 22h)
Info: (85) 99735 4421
O MAR MENINO
Onde: avenida Barão de Studart, 1043 - Aldeota
Funcionamento: primeira terça-feira de cada mês, das 19h às 23h
Info: (85) 3039 5359
ACARAJÉ & CIA
Onde: rua Dr. José Lourenço, 2543 - Joaquim Távora
Funcionamento: diariamente, das 16 às 22 horas
Info: (85) 3246 2405 / 985115992
ABAETÉ BOTECO
Onde: rua Castro Alves, 513 - Joaquim Távora
Funcionamento: de terça a sábado, a partir das 18 horas
COZINHA DO ACARAJÉ
Onde: rua Dom José Lourenço, 850 - Parquelândia
Funcionamento: de terça a sexta e domingos, das 18h às 23; aos sábados, das 12h às 23h
Info: (85) 3879 0986 / 99853 0987 (Tim) / 98651 5524 (Oi)