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A sombra de John Ford nas pistas
Vida & Arte

A sombra de John Ford nas pistas

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Diante de um filme como este, a primeira reação é tentar alinhá-lo com a América conservadora que colocou Donald Trump no poder. Que outro sentido poderia haver na história de um empreendedor (Henry Ford II) que decide quebrar a invencibilidade italiana nas 24 horas de Le Mans?

Logo no começo, Mr. Ford faz um discurso para os operários da fábrica que herdou do pai. Está todo mundo com a cabeça a prêmio. Só restarão os criativos, que souberem enfrentar os desafios do mercado (nos anos 1960!). Logo segue-se a história do piloto e do designer de carros que vão aceitar o desafio, construindo o modelo para vencer a prova de resistência de Le Mans - 24 horas no volante.

E aí sente-se a mão do diretor. James Mangold subverte o que parece ser o próprio discurso. Substituiu um Ford, Henry, por outro - John. O Homero das pradarias. O mestre do western. O que John Ford tem a ver com Le Mans. Nada ou tudo. Christian Bale, o piloto, e Matt Damon, o sócio na construção do bólido, partem para o soco.

A luta é pela vitória, mas os motivos de Bale e Damon não são os mesmos do executivo a quem Henry Ford II dá a condução do programa. A vitória vem, claro, e não há nenhum spoiler. A novidade é que há um tapetão.

Quando os últimos tornam-se os primeiros, é tempo de, "fordianamente", celebrar a grandeza dos derrotados. Para apreciar o filme, o espectador não precisa ter nenhuma dessas referências. A história sustenta-se, mas está tudo lá. A relação pai-filho, de Bale com seu garoto, tão cara a Mangold, que já abordou o assunto em Logan e Os Indomáveis, também com Bale.

No ano em que parece que Joaquin Phoenix (Coringa) vencerá o Oscar - mas é preciso esperar pelas indicações -, Bale poderia ser o único a tirar-lhe o prêmio. Por que não? E, curiosidade, outro recente grande filme sobre automobilismo - Rush (Ron Howard) - também deve tudo a Ford, sendo a versão quatro rodas de O Homem Que Matou o Facínora. (Por Luiz Carlos Merten/ Ag. Estado)

 

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