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Conheça a história do ator Denis Lacerda
Vida & Arte

Conheça a história do ator Denis Lacerda

Do Conjunto Ceará para o Brasil, Denis Lacerda prepara-se para estrear seu primeiro espetáculo solo. O artista é o criador da personagem Deydianne Piaf e também brilhou recentemente nas telas do cinema
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-11-2019: Denis Lacerda, ator, (Foto: Mauri Melo/O POVO). (Foto: MAURI MELO/O POVO)
Foto: MAURI MELO/O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-11-2019: Denis Lacerda, ator, (Foto: Mauri Melo/O POVO).

Parafraseando - e, claro, traduzindo para o bom 'cearensês' - a conhecida frase de Euclides da Cunha em Os Sertões... Denis Lacerda é, antes de tudo, um gaiato! "Eu sempre fui aquela bicha poc, que sempre quis organizar as coisas da escola", dispara ele, aos risos. Filho de dona Marilena, irmão de David e Denise - "minha mãe foi muito criativa!" - Denis é cria do Conjunto Ceará. "Não moro mais lá faz uns três meses, mas eu ainda sinto falta de lá. Sou muito apaixonado por aquele lugar! Amo aquele lugar!", revela o recente morador do Benfica.

Criador da personagem Deydianne Piaf, integrante do coletivo artístico As Travestidas e da Cia. Cearense de Molecagem, Denis Lacerda faz do humor cotidiano uma constante em sua trajetória de ator e drag queen, que já conta com um Prêmio Multishow de Humor (2014) e, mais recentemente, com o ingresso no cinema em produções locais como O Shaolin do Sertão (2016), de Halder Gomes, e Bate Coração (2019), de Glauber Filho. Egresso da Comunidade Católica Shalom, foi atuando em uma montagem da Paixão de Cristo que Denis - talvez sem prever - iniciou a carreira.

"Eu achava linda a Paixão de Cristo porque é muito bairro, né... É uma efervescência cultural muito grande que tem, de juntar a comunidade e tudo. Foi quando eu fui fazer Paixão de Cristo no meu bairro. Eu estudava em uma escola que não tinha teatro, e a outra tinha. Então eles abriram vaga para a comunidade, fiz o teste e entrei. Então minha estreia foi fazendo... Pilatos! (risos) E teve histórias hilárias porque eu era toda montada e eu adorava porque tinha uma capa enorme... Era babado!". Mas a gaiatice, embora natural e legitimada por amigos e familiares, nunca foi seu foco principal.

"Nunca foi um desejo meu ser comediante. Mas eu queria estar no palco! Queria fazer aquilo, trabalhar com aquilo... Eu nunca tive vontade de ser essa pessoa famosa! Nunca! Eu queria trabalhar. Era aquilo que eu queria fazer", reforça ele, revelando ainda que, quando criança, a brincadeira garantida em casa passava longe do futebol. "Pegava um pedaço de pau na rua, comprava um isopor, pintava com tinta guache e fazia um cenário!", detalha. O ano de 2007 foi decisivo para Denis Lacerda, pois marcou, dentre outras coisas, o surgimento de duas personagens marcantes, ambas no teatro.

"O coletivo foi que me colocou nesse meio e eu tenho a consciência de que a Cia. Cearense de Molecagem me dá uma base e As Travestidas me dão uma outra. E foi através dos dois que a minha família começou a entender aquilo que eu queria como profissão", explica. "Na época, já estava fazendo algumas coisas com o Carri e ele me salvou de trabalhar no telemarketing porque, no dia que eu ia desistir de tudo e disse "preciso trabalhar, preciso ter grana, preciso ajudar a minha mãe", eu ia ser contratado pela empresa, nem conhecia o Carri e ele me liga: "Denis, vamos fazer Tita&Nic?". Silvero Pereira, pela outra ponta, também chegou junto.

"Dentro daquele processo de eu estar no Fesfort, o Silvero tinha me visto em algumas coisas e disse: 'Ei, mulher, se monta e vai lá no Cabaré da Dama, que vai ter umas apresentações e tu se apresenta...' Eu falei (enfático): 'Caralho!' Eu tava, na época, no Shalom, saindo daquele negócio... (risos). Então, sabe naquele momento que você tá assistindo o espetáculo e ouvindo aquilo que você tava precisando, vendo o Silvero me chamar... Aí eu disse: É isso!". Surgia, assim, Deydianne Piaf, "a Sandy do agreste, a Ivete da caatinga, a Marylin do pau-de-arara", nas palavras do próprio Silvero.

Do nome, criado a partir da inusitada mistura de uma personagem da novela A Favorita ao sobrenome da diva francesa, falar de Deydianne Piaf é trazer à tona um Denis em sua essência. "Deydianne me fez me libertar de muita coisa. Eu consegui entender com ela sobre o lugar da mulher, sobre o meu lugar de fala, até onde eu tenho que falar e até onde eu tenho que ouvir as minhas manas, até onde eu tenho que entender a questão das mulheres trans, do empoderamento feminino, onde é que eu posso estar e onde eu não posso. Ela me ensina a me recolher e a me colocar numa posição de diversas formas".

O ator também não abre mão de colocar-se enquanto cidadão. "É muito surreal quando a população se cega pelo ódio, né? É muito surreal quando você leva a cultura pra galera e essa galera vira reacionária, vira fascista. Eu acho que a gente ainda está num lugar de sorte porque a gente está no Ceará... Mas esse atual governo, ele não tem diálogo: ele é contra a minha existência, ele é contra a minha vida, ele é contra o meu trabalho, a minha arte e a história da minha Cidade. É um governo que destrói a minha existência e destrói tudo aquilo que eu construí em 16 anos", analisa.

Fã de Elke Maravilha e Dercy Gonçalves, Denis - que não cogita sair da "terrinha" - adianta o que pensa de projetos para 2020. "No início do ano, eu vou lançar meu solo, que é um stand-up. O Moisés Loureiro vai estar junto comigo, vai ser de cara limpa, mas vai ter uma coisinha de Deydianne também. Quem vai produzir é a Peixe Mulher, que é uma produtora nova que cuida de artistas feministas, LGBT, negros e quer dar visibilidade a esses artistas da música alternativa, enfim... Não vou deixar de estar com As Travestidas e com o Carri Costa. Eu quero estar com o Carri sempre, mesmo que na correria do meu dia a dia. Acho que o Carri é o meu suporte".

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