"Aqui não se encontra nada do que se busca. Muito pelo contrário. Oferecemos apenas o inesperado". É com essa advertência que a escritora Marina Colasanti abre seu livro mais recente, Mais classificados e nem tanto, obra que inclui prosa, poesia, crônicas, contos e livros para crianças e jovens. Com uma abordagem leve e espontânea, o livro é, antes de tudo, um manual para quem procura coisas difíceis de achar - e celebra a versatilidade da escritora.
Para Marina, a nova publicação marca a continuidade de sua obra que sempre esteve, de algum modo, ligada a ideia de infância - vivida ou imaginada. "Pouco me afasto do público infantojuvenil, seja por meio dos livros, seja participando de congressos e eventos sobre a importância da leitura literária na formação dos pequenos e dos jovens", comenta a autora em entrevista ao O POVO. O rótulo de texto "infantil", como adianta Marina, é apenas uma das faces que muitos de seus textos ostentam nos catálogos de editoras, o que, muitas vezes, não representa a diversidade de caminhos possíveis para adentrar sua obra.
Com mais de 70 livros publicados, Marina Colasanti nasceu em Asmara, capital da Eritreia, na África. Chegou ao Brasil em 1948, quando sua família radicou-se no Rio de Janeiro. Com o livro Eu sozinha, vinte anos depois, iniciou sua carreira literária. Desde então, sua obra tem sido perpassada por muitos gêneros, experimentações e conquistado diferentes públicos. Aos 82 anos, ela prefere que seu amadurecimento como escritora não seja marcado através de suas obras. "Me parece pouco, prefiro ser lembrada pelo meu pensamento, meu olhar sobre o mundo", conta.
A escritora já ganhou sete prêmios Jabuti - o último deles em 2014 com o livro Breve história de um pequeno amor (FTD, 2013) - e dois Livro do Ano. "É através da literatura que as crianças e os jovens aprendem a vida. Não através de filminhos animados no celular da mamãe ou no próprio, e muito menos através das redes sociais", opina a escritora.
Com poucas linhas e muita rima, Mais Classificados e nem tanto é um livro que não promete dar conta das necessidades básicas da vida - imóvel para alugar, passagem de avião ou serviço de táxi. O que Marina promete com a ideia do "classificado" nas páginas, pelo contrário, é a surpresa e o encantamento de se encontrar aquilo que não se procura - um lençol usado de fantasma, uma torneira para a memória, um sorriso pouco usado. "Oferecemos somente o lado avesso das coisas, o mundo visto de ponta-cabeça. Os trilhos não são paralelos, os olhos enxergam sempre adiante dos óculos, e a linha reta dá voltas no imaginário", descreve a escritora.
Os 82 poemas curtos que compõem o livro são acompanhados de xilogravuras do mineiro Rubem Grilo, que interage com a ironia e o tom de brincadeira dos versos de Marina no papel. A técnica utilizada demarca, na intensidade da prática manual e do olhar, a experiência de Grilo com um livro que pode ser lido despretensiosamente, de trás pra frente ou pelo avesso. "Neste livro definitivamente não temos uma narrativa", conclui a autora.
Mais classificados e nem tanto
de Marina Colasanti
Ed. Galerinha
96 páginas
Quanto: R$ 49,90