Um dos mais importantes músicos da história, Chopin está presente em uma das salas de piano, da mesma forma que Mozart, Vivaldi e outros tantos compositores ilustres que decoram as paredes da Casa de Vovó Dedé. Aos 17 anos, Melquisedeque Pereira se inspira em Chopin e segue com o sonho de se tornar pianista profissional desde quando entrou na Casa, há quatro anos. "Quando entrei aqui eu já queria o piano. Falei com a tia Regina, mas na época não tinha vaga. Eu queria aprender e ela disse que eu tinha que esperar, nesse tempo eu me matriculei em teoria musical e fiquei seis meses esperando. Na primeira oportunidade que apareceu eu fui aprender o piano", recorda.
Dividindo seu tempo entre a escola, o inglês e o piano, Melquisedeque espera o final do ano letivo e responde sem dúvidas o que irá fazer na universidade: "vou cursar música". Morador do Pirambu, vizinho a Barra do Ceará, Melqui, como é conhecido na Casa, se dedica ao instrumento para conquistar a carreira de músico futuramente. "Eu venho aqui todas as tardes e no fim de semana aproveito pra compensar o que não dá pra fazer na semana. Eu sempre gostei de música, mas jamais imaginei como profissão, porque é muito difícil ter uma oportunidade na música clássica no Brasil. Aqui na Casa eu vi que tinha essa possibilidade e mergulhei de cabeça no projeto", conta.
Dos aprendizados e incentivos da tia Regina, que trouxe o primeiro piano para a Casa de Vovó Dedé, a relação quase familiar entre professores e alunos permite que a Casa seja considerada um segundo lar por quem a frequenta. "É uma relação muito boa com a tia Regina, ela não é aquela professora que chega, dá sua aula e vai embora. A gente conversa,
ela dá conselhos, orienta. Não é só ela, todos aqui se respeitam e se gostam, porque todo mundo tem o mesmo objetivo", afirma Melqui.
Assim como Melqui, Yamandú Capalbo, 14, também toca piano. Para ele, a união entre os jovens é um dos pontos importantes da Casa. "Aqui a gente tem essa base de outras pessoas que estão a mais tempo e que podem dar mais dicas, são referências que podemos nos comparar. E a gente aprende coisas muito mais importantes do que tocar, porque a gente está aqui o tempo todo. Tudo mudou depois que entrei aqui e eu gostei muito", explica Yamandú.
Do inglês, ao clube literário, para o violão e, então, o piano, Yamandú chegou na Casa em 2016, após saber do local enquanto ia à escola. Incentivado pelos pais desde o início, ele conta que sua rotina mudou após as aulas de piano. "Eu venho todo dia, chego da escola e vou direto para o piano. Tocar me fez pensar nos meus objetivos, no meu futuro e no que eu quero ser. O piano me trouxe isso, eu quero ser pianista".
Enquanto Melqui e Yamandú dedilhavam sobre o teclado, a pequena Sophia Paiva fazia amizade e posava para as cliques de Alex Gomes, o fotógrafo. Além de aprender a tocar flauta e violão, com 8 anos, ela também toca violino desde os cinco. "É fácil (tocar violino). Aqui eu aprendi muito rápido, onde eu fazia antes não aprendi quase nada. Eu fico mais livre, vou na biblioteca, tenho tempo para brincar e fico assistindo os outros se apresentarem", conta Sophia, que, assim como boa parte dos alunos, vai quase todos os dias para a Casa de Vovó Dedé.