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Novo livro de Isabel Allende chega ao Brasil
Vida & Arte

Novo livro de Isabel Allende chega ao Brasil

Inspirado em fatos reais ocorridos 80 anos atrás durante a imigração de espanhóis para o Chile, "Longa Pétala de Amar" chega ao Brasil pelo Grupo Editorial Record
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Isabel Allende, autora de Paula, que relata a morte da filha  (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Isabel Allende, autora de Paula, que relata a morte da filha

"Que a crítica apague toda a minha poesia, se achar por bem. Mas este poema, que hoje recordo, ninguém poderá apagar". O "poema" citado por Pablo Neruda em uma antiga entrevista não é uma de suas tantas obras literárias, mas, sim, a façanha humanitária que se tornou um grande marco da história do Chile.

Há exatos 80 anos, mais de 2 mil espanhóis desembarcaram em Valparaíso para escapar da Guerra Civil Espanhola que dividiu o país entre 1936 e 1939. Os refugiados fizeram a travessia com a ajuda do governo chileno e, em particular, de Neruda. Como diplomata, o poeta foi o responsável por viabilizar a complexa missão, realizada já com a Segunda Guerra Mundial deflagrada.

A saga dos espanhóis em fuga pela Europa e sua posterior acolhida no Chile é o tema do novo livro de Isabel Allende, Longa Pétala de Mar, lançado neste mês no Brasil. A escritora chilena se baseou nas histórias reais dos imigrantes e do poeta para recontar o episódio no ano em que completa oito décadas.

Com o fim da guerra civil e a ascensão do franquismo, milhares de republicanos estavam vivendo em campos de refugiados na França em condições precárias. O presidente do Chile na época, Pedro Aguirre Cerda, nomeou Neruda cônsul especial para a imigração espanhola com sede na França.

Neruda, que já tinha sido cônsul em Barcelona e Madri, se mostrou determinado a cumprir a missão. Antes de chegar à França, o poeta passou por Buenos Aires, Rosário e Montevidéu, onde pediu ajuda financeira de organismos de solidariedade argentinos e uruguaios.

O barco escolhido para a missão foi o Winnipeg, um antigo cargueiro que não transportava mais do que 100 passageiros bem acomodados. Com algumas alterações, a embarcação ampliou sua capacidade para transportar mais de duas mil pessoas.

"Desde o começo eu gostei da palavra Winnipeg", escreveu Neruda em setembro de 1969, quando comemorava os 30 anos da travessia. "As palavras têm asas ou não as têm. A palavra Winnipeg é alada. A vi voar pela primeira vez em um porto perto de Bordeaux. Era um charmoso barco velho, com essa dignidade que os sete mares dão ao longo do tempo. É certo que aquele barco nunca tinha levado mais de setenta ou oitenta pessoas a bordo. De resto, foi cacau, copra, sacos de café e de arroz, minerais. Agora, estava destinado a um carregamento mais importante: a esperança." Foi o próprio Neruda quem selecionou os passageiros.

A recomendação era que levasse trabalhadores, mas o poeta resolveu também incluir na lista intelectuais e artistas. Um dos escolhidos foi o engenheiro e jornalista Víctor Pey, que contou toda a história da travessia a Isabel Allende. ( Roberta Jansen/ Agencia Estado)

Longa Pétala de Amar

De Isabel Allende

280 páginas

Editora Bertrand Brasil

Preço sugerido: R$ 49,90

 

Bate Pronto

A senhora já conhecia bem a história do Winnipeg? Por que decidiu resgatá-la agora?

Isabel Allende - Para mim, o tema dos refugiados é muito presente. Minha fundação trabalha com migrantes na fronteira dos Estados Unidos com o México, onde há uma situação terrível, com milhares de pessoas vivendo em condições desumanas, esperando conseguir asilo. É gente desesperada, que foge de países da América Central, especialmente Guatemala, Honduras e El Salvador, onde impera a lei de gangues de bandidos e narcotraficantes.

Muitos dos personagens do livro, como o médico Victor, existiram de fato e vieram para o Chile a bordo do Winnipeg. A senhora conheceu alguns deles?

Isabel - Conheci alguns dos passageiros do Winnipeg e vários de seus descendentes. Víctor Pey era meu amigo e me contou a epopeia do Winnipeg. Ele também conheceu Pablo Neruda, que teve a ideia de levar os refugiados ao Chile, conseguiu que o governo chileno os aceitasse, comprou o Winnipeg, o preparou para a longa viagem e selecionou os passageiros. Sem ele, nada disso teria sido possível.

A senhora vive atualmente nos Estados Unidos e já viveu como imigrante também em outros países. Como é a sua experiência pessoal como imigrante?

Isabel - Sou uma imigrante privilegiada. Primeiro, fui refugiada na Venezuela, um país que, naquela época, era rico e generoso, onde fui muito bem-recebida e onde eduquei meus filhos. Lá vivem ainda meu irmão, vários sobrinhos e sobrinhas e alguns amigos muito queridos. Depois, fui imigrante nos Estados Unidos porque me casei com um americano, de forma que nunca fui indocumentada. Tampouco tive que pedir trabalho porque vivo dos meus livros. No entanto, através do trabalho da minha fundação, conheço de perto o drama dos imigrantes que vêm da América Central e do México. 

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