Laços artísticos e familiares fortificam a existência da Companhia Carroça de Mamulengos. Em cena, a família que é também grupo teatral faz do palco extensão do próprio lar. Formada por brincantes, atores, músicos, bonequeiros, contadores de histórias e palhaços, os artistas se apresentam ao mundo com diversas montagens inspiradas na cultura popular brasileira. Nesta sexta-feira, 6 de dezembro, a trupe familiar se reúne no palco do Cineteatro São Luiz, às 19 horas, com o espetáculo "A Ópera de uma Família Brincante". Metalinguística, a obra narra a trajetória dos 42 anos de história do grupo.

Carroça de Mamulengos nasceu em 1977 com Carlos Gomide. A união do artista com Schirley França resultou em oito filhos, que integram a companhia. Atualmente, netas, noras e genros também são parte do grupo. "Todos estão em cena. Sempre estiveram. Ninguém deixa de participar", comenta Maria Gomide, 34, primogênita de Carlos e Schirley. "Estamos agora com a terceira geração. No São Luiz vai ter presença da Ana, minha filha de 6 anos, e da Helena, minha sobrinha que tem apenas 10 meses", adianta.

"Tivemos origem muito presente na cultura popular. A partir daí, a maior dádiva do artista é a capacidade de criar. Temos um elo com o folguedo popular e brincadeiras de rua. Isso requer imaginação muito viva para fazer uma roda e despertar nas pessoas o desejo de ver a sua apresentação. Nós somos soma de memória e imaginação, eu vivo unicamente para esse trabalho", conta Carlos Gomide. O artista é mentor da linguagem estética e criações da Carroça.

O grupo de origem itinerante viveu na estrada por cerca de duas décadas, se apresentando em festivais, escolas, teatros, circos e ruas do Brasil. Hoje parte deles residem em Juazeiro do Norte, onde também atuam na escola de transmissão de saberes populares Centro de Artes do Cariri. "Imagine uma companhia de arte que vive viajando. E uma família que é uma companhia de arte. Cada filho nasceu em um lugar diferente, e os nossos espetáculos foram organicamente criados no decorrer dessa trajetória. As cenas, os bonecos, tudo era criado a partir do nascimento dos filhos e repassado dos mais velhos para os mais novos", conta Maria.

De acordo com a primogênita, o espetáculo que estreia amanhã no São Luiz traz cenas que existem há mais de 30 anos. E se denomina "estreia" mesmo que a obra já tenha sido apresentado outras vezes. Maria explica: "O Carroça não é grupo que tem estreia de fato. Cada espetáculo é uma estreia, tem algo novo. A apresentação desta sexta será a terceira de Helena, que só tem 10 meses, e ela já não é a mais mesma de quando se apresentou na primeira, com apenas 2 meses".

"Em A Ópera, há uma personagem que é uma burrinha, ela foi criada quando eu nasci. Brinquei com esses bonecos, meus irmãos também. Hoje quem brinca é minha filha; no próximo ano será minha sobrinha. O boneco continua vivo em cena, ele pertence ao repertório artístico de uma família", relata. "A Ópera de uma Família Brincante" percorre as várias linguagens em que o grupo atua.

Depois de quatro décadas de arte, a Carroça é uma companhia presente, um grupo de artistas que têm muita história para contar. "Quando que algo começa na vida da gente? O Carroça é uma companhia de vida. Ele começou quando cada um de nós começamos a existir. E hoje somos nós, no presente, minha filha com 6 anos, meu pai com 64. Cada um com seu tempo de vida e de arte. Não nos juntamos pra fazer o espetáculo, a gente nasceu para isso", define Maria.

Espetáculo "A Ópera de uma Família Brincante"

Quando: sexta-feira, 6, às 19 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)

Quanto: R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira) 

Vendas: bilheterias do Cineteatro e no site Tudus.com.br