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Aprender e ensinar fazendo
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Aprender e ensinar fazendo

| AUDIOVISUAL | Em conversa com o V&A durante o Festival de Cinema de Brasília, onde participou de mostra competitiva, equipe do curta cearense Marco falou sobre questões relevantes na construção da produção local
Foto: Mayangdi Inzaulgarat / divulgação "Marco" foi apresentado na competição de curtas da 52ª edição do Festival de Brasília

O calendário dos grandes eventos do audiovisual deste ano foi encerrado pela 52ª edição do Festival de Brasília, ocorrida no final de novembro, onde a participação cearense foi de destaque - assim como ocorreu em Gramado, Vitória, Tiradentes, Cannes, São Paulo, Lisboa, Xangai, na própria Capital e em diversas outras cidades. No evento da Capital Federal, o representante cearense na mostra competitiva foi o curta Marco, de Sara Benvenuto, gravado no município de Iguatu, onde a cineasta nasceu e trabalha. A obra, que já passou por festivais como o Cine Ceará e o For Rainbow, dialoga com diversas questões e reflexões sobre a produção feita no Estado.

"O cinema cearense está em desenvolvimento há muito tempo. Cada vez mais potente com cursos de cinema, faculdades, incentivos. Isso trouxe um boom. Ao mesmo tempo, a gente vem enfrentando um cenário político nacional pesado e aí acho que isso tende a dar mais potência a esse cinema que já vinha com muita força", atesta a cineasta e roteirista do filme. "2019 tem, para além do desenvolvimento da área que já existia e era forte, um local de resistência. Todos os locais estão se transformando em pequenos redutos. Não só de produção e pesquisa estética, mas de como o cinema traz também a força da discussão política. Isso sempre esteve nas obras do Ceará, mas agora é a força motriz das narrativas", aprofunda.

Marco, direta e indiretamente, é fruto conjunto de políticas públicas diversas e também diferentes apoios, de empresas a pessoas. "O filme teve dois fomentos: o da Secretaria de Cultura do Ceará, pelo Edital de Cinema e Vídeo, e a gente conseguiu a pauta na Vila das Artes para equipamento. Ajudou bastante. Além disso, a gente também teve várias parcerias na cidade de Iguatu - a Uece, hotéis, as pessoas, a secretaria da cultura de lá. E nós. Nós nos achamos", destaca Sara. Ela e a assistente de direção Isabela Damas, formadas em Letras, são professoras da Universidade Estadual onde coordenam o projeto de extensão Cine Alicerce. No elenco, Ana Luiza Rios, protagonista do curta, é formada em Artes Cênicas pelo Instituto Federal do Ceará e passou pela Escola Pública de Teatro da Vila, além da "formação de vida" que é o grupo Teatro Máquina. "No cinema, tem a experiência das produções, de estar sempre - ainda bem - fazendo desde 2010. Fui me formando como atriz e o cinema no Ceará também foi se formando", ressalta. Já o ator Rafael Nog, administrador por formação, flertava com as artes fazendo cursos e oficinas até decidir viver profissionalmente disso. "Foram importantes na minha formação o Porto Iracema, a Vila das Artes, o Theatro José de Alencar", destaca.

O Cine Alicerce é central não somente para o filme, mas para a atuação profissional da própria diretora. O projeto tem atividades que vão da realização de cineclube a processos formativos em cinema. "A gente tem essa relação e parceria no processo do cineclubismo no interior, no trabalho de formação com alunos e alunas. É muito especial o desenvolvimento desse projeto. O cinema é um espaço no interior que é difícil de acessar, fazer, produzir, e essa é a proposta do Cine Alicerce", explica Isabela. "Fui escrevendo (o roteiro do curta), coloquei no edital e entrou. Nesse momento, percebi que era uma coisa profissional. Foi até quando comecei a entender onde mora meu cinema. Lógico que fico muito honrada de participar de um festival desse tamanho, mas fico pensando que a sala de aula é o meu lugar. É como se eu fizesse filmes para as minhas alunas, sobretudo. Aos alunos também, mas àquelas mulheres que estão ali no interior. O filme estreou lá, na Universidade, inclusive. O meu fazer hoje vai muito de aprender e ensinar fazendo", reflete Sara. "Quando a gente, mulher, realiza um filme no interior, isso coloca as nossas alunas num local de perceber que é possível realizar. Mesmo que daqui um tempo não seja no cinema, elas aprendem que é possível ser mulher de outra forma, que existem outros espaços e caminhos para onde podem ir", avança Isabela.

O repórter viajou a convite do evento

 

Foto do João Gabriel Tréz

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