Embora suas origens remontem à Idade Média, foi apenas no final do século XIX, com o aparecimento das primeiras tipografias, que a literatura de Cordel se fixou como expressão popular e oral no Brasil. O gênero, que se disseminou nos folhetos ilustrados em xilogravura, encontra hoje no Instagram um espaço de expressão protagonizado por jovens poetas, que espalham seus versos e traçam novos caminhos para a literatura de cordel para além das feiras e do Nordeste.
A rima criada no calor do improviso encantou o jornalista Ailton Mesquita, de Brasília e cuja família é cearense. Atualmente ele administra o perfil “Um repente por dia” (@umrepentepordia), em que aborda temas atuais para criar os conteúdos dos versos, prática já antiga entre os cordelistas. “Muita gente tem seu primeiro contato com a poesia de cordel por conta de um tema que estão falando nas redes sociais, às vezes com um tom bem-humorado, outras vezes de forma mais séria”, conta.
Luciano Melo, que é de Natal (RN) e administra o perfil Cordelize-se (@cordelize-se) considera fazer parte de uma nova geração que defende a difusão da literatura popular pela internet, como forma de atingir um público com novos perfis. “Fico muito feliz que o cordel esteja rompendo barreiras. Antigamente o lugar dele era somente nas feiras e também havia certo preconceito”, avalia.
Para a professora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ana Cristina de Moraes, a inserção do cordel nas redes sociais representa um passo importante para a difusão da cultura popular. “Considero muito importante a materialidade do cordel, o folheto, porque esse elemento carrega toda uma tradição. Mas também não podemos ignorar que hoje existe um universo virtual cuja presença é muito forte”, comenta.
Foi na Internet que Daniel Abreu, engenheiro natural de Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza, conheceu o cordel. Desde então, os versos rimados são parte do seu cotidiano com o perfil Poesia & Cordel (poesia.cordel.oficial). “Me encantei por sua maneira de privilegiar a cultura nordestina em forma de rimas e também por sua liberdade de expressão”, conta.
Rafael Vasconcelos, Fortaleza (CE)
"Minha relação com o Nordeste é uma paixão desde menino, sempre admirei tudo que envolve a nossa cultura, desde o forró, sotaque até a culinária", resume Rafael Vasconcelos, 31. A aproximação dele com a literatura de cordel começou com a música, quando percebeu sua paixão por rima. "Eu sinto que agrada muito falar do que a gente faz, de quem a gente é, da nossa identidade cultural", conta. Nos cordéis que publica diariamente no seu perfil, ele fala sobre vida afetiva e problemas sociais. "A melhor parte é saber que o cordel encontrou espaço em meio às redes sociais e vem se tornando cada vez mais conhecido", conclui.
Cássio Pereira, Ibó (BA)
O gosto pelo cordel despontou em Cássio Pereira, 19, quando conheceu o trabalho do poeta cearense Bráulio Bessa. "Fui tentar aprender a escrever os versos e quando fui ver já estava totalmente conectado com esse gênero único de poesia", recorda. Ele também enxergou no cordel a oportunidade de defender a cultura nordestina. "Um cordelista é sempre um defensor do sertão", comenta. Com quase oito mil seguidores em seu perfil, Cássio comemora o contato com diferentes públicos na rede social. "É legal ver que nordestinos fora do Nordeste se sentem mais próximos de suas raízes por meio do meu trabalho", conta.
Felipe da Silva, Cerro Corá (RN)
Felipe da Silva rabiscou o primeiro cordel aos 14 anos, embora ele só tenha começado a divulgar seus trabalhos no Instagram a partir de 2018. "Eu falo das coisas simples do nosso sertão, as delícias de morar no interior. Gosto de falar sobre a saudade, amor, respeito, igualdade", explica. Com seus versos, Felipe Lamparina, como é conhecido, gosta de exaltar a vida, com as agruras e as alegrias inerentes a ela. Em sua conta de Instagram, atualmente com quase 2 mil seguidores, ele vê no reconhecimento do público o ânimo para permanecer fazendo o que mais gosta: "valorizar e erguer a bandeira da nossa linda e encantadora cultura!"