A Amazônia está a um passo de sua completa destruição. O que ainda resta da floresta mal pode abrigar os kaajapukugi, uma isolada tribo da qual só restam 40 membros. Com um cenário marcado por segredos ancestrais, questões indígenas e uma trama sanguinolenta por lugares desconhecidos, a inquietação diante do futuro serve de tema para A morte e o meteoro, novo romance de Joca Reiners Terron, que será lançado no próximo dia 24, a partir das 20h, no Porto Iracema das Artes. O evento, que é aberto ao público, terá sessão de autógrafos e um bate-papo mediado por Júlio Camilo.
"A Morte e o Meteoro surgiu de um conto que eu comecei a escrever para uma revista de Literatura, cujo tema era a existência de um povo indígena que vivia isolado na Amazônia e que pede asilo ao país estrangeiro para fugir da extinção", conta o escritor. O livro, relata Joca, dialoga com o cenário catastrófico criado por um governo que negligencia as políticas voltadas para a conservação do meio ambiente e a proteção dos povos indígenas. "Logo no início do ano passado, fomos bombardeados com notícias nada animadoras sobre o desmatamento da Amazônia, e de que a questão indígena havia estava sendo muito fragilizada por conta das declarações do atual presidente. Isso vinha me preocupando muito", conta.
Atravessado por temas como devastação ambiental, aniquilação da história, extrativismo, subjugação cultural, a narrativa de A morte e o meteoro trata dos remanescentes da etnia indígena kaajapukugi (uma criação do autor), cujos membros são enviados ao México como refugiados para escapar da extinção. A busca por esse asilo fica a cargo de um antropólogo chamado Boaventura, que em parte remete a algumas figuras históricas que atuaram na área no Brasil, como os irmãos Villas-Bôas e Chico Mendes.
Joca Reiners Terron, considerado um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea, considera que a história de seu novo livro carrega em si um teor alegórico que reflete, em parte, sua própria visão do Brasil e sua preocupação com um possível e "inescapável" futuro para o país. Seu livro tem sido reconhecido por alguns leitores como uma história de horror distópico. O escritor, em parte, discorda da afirmação. "A desigualdade social tão brutal que vemos todos os dias é a prova de que nós já representamos a mais verdadeira distopia desde a fundação deste País", reflete.
Joca Terron estreou na ficção com Não há nada lá (2001) e publicou, entre outros livros, os romances Do fundo do poço se vê a lua, que ganhou o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional em 2010, A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves (2013) e Noite dentro da noite (2017). Até sexta, 24, Terron estará no Porto Iracema em mais uma edição do projeto Fábulas de Janeiro, com a oficina de escrita ensaística "Viagem ao redor do meu banheiro".
Uma das principais discussões apresentadas na narrativa ficcional é a preocupação do autor com a questão indígena. "Tem muito a ver muito com uma preocupação pessoal, tem a ver com minha história, porque onde eu nasci, no Mato Grosso, a presença indígena é algo muito marcante. Então, sempre me afetou a maneira como a história brasileira enxerga a presença dos povos originários, sobreviventes de um extermínio massivo", comenta. Para ele, a ficção carrega o papel de interromper silêncios. "O papel da literatura é incomodar, despertar questões que talvez não se queira nem saber a resposta", conclui.
A morte e o meteoro
de Joca Terron
Ed. Todavia
120 pág
Quanto: R$ 49,90