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A praça, a "pipoca" e seus muitos povos
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A praça, a "pipoca" e seus muitos povos

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Do velho e saudoso "Fobicão" ao atual trio elétrico e, deste, a toda uma indústria mercadológica por trás, cordões de isolamento, abadás, circuitos fechados... O Carnaval brasileiro, definitivamente, não é mais o mesmo. "Existe uma evolução natural muito boa. Existem artistas baianos que cresceram, tiveram o trio como escola e estão aí pelo mundo. Isso é bom. Mas a indústria, essa coisa comercial, ela atropela as tradições", opinou Armandinho.

"Quando a indústria começa a fabricar artistas, como a gente vê, aí fica aquele negócio descartável, né? Algumas pérolas ficam, mas outras... Já teve um boom dos blocos, mas hoje 60% deles já acabaram. Mesmo assim, o trio também serviu para manter muitas das tradições culturais daqui. Você pode ver que todos os blocos afro têm um trio", pondera Aroldo Macêdo.

Moraes Moreira, o primeiro cantor a comandar um trio elétrico, relembra essa estreia. "Quando saiu o Chão da Praça, o povo começou a cantar embaixo e, praticamente, me obrigou a cantar em cima. Mas Dodô não gostava muito, não, porque dava microfonia. Então eu cantava meio escondido dele", relembra o autor de clássicos carnavalescos, como Pombo Correio, Eu sou o Carnaval, Bloco do Prazer, dentre outros.

"Vieram outros depois de mim, mas é importante dizer que eu fui o primeiro cantor de trio, mas que fazia um repertório novo, falando sobre o trio e tendo a ver com o trio. Eu não fui pra lá cantar Mamãe, eu quero", enfatizou o baiano, que até hoje retorna à mesma praça. "Eu fico só na Castro Alves, parado, não entro naquele bolo dos sertanejos... É ótimo lá, fica maravilhoso".

A cantora Verônica Sobreira, por sua vez, também tem do que se orgulhar: em 1992, foi a primeira mulher a subir em um trio elétrico e puxar o primeiro bloco de Pré-Carnaval de Fortaleza. "É indescritível essa alegria, essa energia. Na época da mortalha, da mamãe-sacode, do início quando tudo começou... E eu te digo que o Carnaval, ele não vive sem o axé, sem as marchinhas, sem o frevo... Tem que ter essa magia toda e tem que ter respeito", celebra.

Para Ary Dias, o Carnaval sem o trio seria bem diferente. "Seria uma outra coisa. O trio, ele abrange uma coisa muito grande, por isso que eu falei da 'pipoca'. Nós sempre tocamos na 'pipoca' porque não tem abadá pra você pagar o ano inteiro. Seria outro Carnaval, mas não consigo imaginar como seria", conclui. "Além da coisa do caminhão, o mais importante pra gente é fazer essa música trioeletrizada, o instrumento que a gente oficializou. A guitarra baiana é como uma filha", conclui Armandinho. (TM)

 

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