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Dilson Pinheiro comemora o crescimento da diversidade do Carnaval de Fortaleza
Vida & Arte

Dilson Pinheiro comemora o crescimento da diversidade do Carnaval de Fortaleza

Criador do bloco Num Ispaia Senão Ienchi, Dilson Pinheiro comemora o crescimento da diversidade do Carnaval de Fortaleza e segue dando vez a frevos, marchinhas, confetes e serpentinas
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FORTALEZA, CE, Brasil. 17.02.2020: Dilson Pinheiro, criador do bloco Num Ispaia Senão Ienchi. (Foto: Deísa Garcêz / Especial para O Povo) (Foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO)
Foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO FORTALEZA, CE, Brasil. 17.02.2020: Dilson Pinheiro, criador do bloco Num Ispaia Senão Ienchi. (Foto: Deísa Garcêz / Especial para O Povo)

Trazer à tona o Carnaval de Rua de Fortaleza e não citar Dilson Pinheiro nesse contexto é mesmo que falar de frevo e não cantarolar a Marcha nº 1 do clube pernambucano Vassourinhas ou, quem sabe, tirar do povo baiano a autoria do axé. Em outros termos... Não dá! Compositor, produtor cultural e apresentador de TV, o cearense é, acima de tudo, um apaixonado pela folia. Tanto que, por quase 15 anos, subiu e desceu ladeiras de Olinda atrás de suas inúmeras troças, cordões e demais agremiações. Antes, ainda menino, acompanhava com a mãe e um dos irmãos os desfiles pelo Centro. "Meu pai era repórter fotográfico e cobria o Carnaval na Senador Pompeu", lembra.

A década de 1990, no entanto, tornou-se marco na capital cearense pelo surgimento de dois blocos criados por ele: o saudoso Quem é de Bem Fica e o Num Ispaia Senão Ienchi. "O Ispaia tem dois momentos. Ele foi fundado em 10 de janeiro de 1998, na mesma época do Quem é de Bem Fica. Ele estava começando a ficar muito cheio de gente, aquela falta de educação do povo, carro de som, mil coisas... Aí ficou chato, ficou ruim e nem eu, nem a comunidade, queríamos aquilo. Então eu disse brincando: 'Olha, eu vou fazer um outro bloco lá na Praia de Iracema, mas num ispaia senão ienchi, senão vai encher...'", explica. "O Quem é de Bem Fica saía ali do lado do Caicó. No Benfica, eu fazia o Pré e o Ispaia era no Carnaval. Saía lá da esquina da casa da minha mãe, por ali na Mocinha, e ia lá para a Ponte", detalha Dilson.

De início sob o formato de cortejo, foi há cerca de dez anos que o Ispaia passou a concentrar-se de forma fixa no chamado Polo Mocinha, nome dado em homenagem a Iraci de Souza Batista (1935-2011), proprietária do bar homônimo na Praia de Iracema. "Durante três anos, o bloco descia para a praia e, como tinham muitos blocos lá embaixo, a Prefeitura perguntou se não poderia ser fixo ali. Aí eu entendi a dificuldade de atravessar duas avenidas - a gente descia pela João Cordeiro e subia pela Ildefonso Albano - e fazia esse quadrado. Fora que ficava um hiato: enquanto a gente saía, que demorava cerca de uma hora, ficava assim (sem programação). Eu gostava de desfilar, mas depois ficou tão bom (parado)!", reconhece.

A marca registrada do Num Ispaia Senão Ienchi é, de fato, o repertório: a banda Som da Lira, exclusiva do bloco e que o acompanha desde a época do Quem é de Bem Fica (alguns integrantes, inclusive, participaram do extinto Que Merda é Essa?) é a responsável por animar os presentes nos quatro sábados de Pré-Carnaval e mais quatro de Carnaval. Oito metais, duas percussões, duas cordas (baixo e guitarra) e uma dupla de cantores executam marchinhas e frevos clássicos, além de algumas releituras irreverentes de nomes como Messias Holanda, Wando, entre outros. "Eu digo sempre que é um baile de Carnaval a céu aberto!", resume. As blusas do bloco também se destacam por sempre estamparem as máscaras do Carnaval de Veneza.

"Inclusive tem até uma correção que eu faço também. As pessoas chegam a mim e dizem: Dilson, teu bloco é conhecido pela beleza das camisas e pela orquestra tocando músicas antigas, né? Aí eu digo: não, são músicas eternas! Mamãe, eu quero, por exemplo, ela foi feita em 1937, ou seja, tem 83 anos! Até quanto tempo essa música vai tocar ainda, né? A cara do Carnaval é Vassourinhas, e é o que a gente faz aqui. A gente prima pela música de qualidade, que tem tudo a ver com Carnaval. Tá certo que esse formato da diversidade de ritmos é muito rico, é muito bom. Mas cada um tem o seu estilo", explica.

Os foliões também não deixam por menos, prestigiando o Polo devidamente à caráter. "Tem um casal lindo, que sempre vai, e eu me sinto realmente lisonjeado porque eles sempre aparecem com fantasia: eles estiveram agora com uma roupa preta, cheia de bichinhos, onde estava escrito 'Coroavírus' na blusa dele e ela, com uma plaquinha, tinha 'Só eu que pego!'" (risos). O que ainda falta para melhorar, na opinião de Dilson, é a verba. "O dinheiro, infelizmente, ainda é muito pouco. Pra você ter ideia, só a minha orquestra é R$ 14 mil! Eu contrato uma empresa pra fazer o edital e aí eu faço até um apelo para o próximo prefeito: Vamos aumentar (o valor)! Têm outros custos, né...", enfatiza.

Apesar disso, Dilson vê com otimismo o crescimento do Carnaval local. "Não tem mais como retroceder. É daqui pra melhor. Você sabe como a qualidade de hoje está: os equipamentos de som, estrutura, segurança... Está muito legal. Claro que em todo canto tem sua faísca, mas, se for contabilizar, é um Carnaval seguro", credita. "Eu digo até que foi um trabalho de catequese porque consegui abolir a espuminha no bloco. Dizia no microfone: 'Papai, vamos trocar por confete e serpentina!' Não é saudosismo besta, não. É coisa do Carnaval, adereço. O tempo bom é agora. O tempo é hoje!".

 

Bloco Num Ispaia Senão Ienchi

Quando: de 22 a 25 de fevereiro, das 18h às 22 horas

Onde: Rua Padre Climério, 140 / em frente ao Bar da Mocinha - Praia de Iracema

 

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