Muito além dos grandes shows no Marco Zero do Recife e das ladeiras fervilhantes dos blocos em Olinda, o Carnaval de Pernambuco é repleto de ícones tradicionais e históricos. Fantasias de papangus, trajes de La Ursa, caboclos de lança do maracatu e, claro, os queridos bonecos gigantes. Estes itens povoam o imaginário de quem vive em Pernambuco e de quem vem de fora.
Um dos maiores Carnavais do País, disputando protagonismo com Rio de Janeiro e Salvador, para 2020 Pernambuco espera 95% de ocupação hoteleira durante o período momino, 5% a mais do registrado em 2019.
Na semana passada, O POVO percorreu terras pernambucanas para acompanhar de perto os preparativos que levam ao mais importante período turístico no Estado. De 12 a 15 de fevereiro, pudemos ver uma movimentação de blocos e ensaios nas ruas. Partindo de Recife, seguimos de van para vasculhar as cidades de Nazaré da Mata, São Lourenço da Mata e Bezerros.
As origens das vestimentas e das expressões culturais são as mais diversas, como de povos originários do Brasil, africanos e europeus. Um recurso une muitas destas fantasias utilizadas: itens que cobrem rostos/cabeças dos brincantes. Mostramos aqui para vocês alguns destes acessórios que viraram parte da cultura tradicional carnavalesca pernambucana.
A jornalista viajou a convite da Secretaria de Turismo de Pernambuco
1ª parada: Bonecos Gigantes
Nossa viagem pelo Carnaval começou nas ladeiras de Olinda, por onde o fino do frevo arrebenta. Por lá, no Alto da Sé, é onde está a Casa dos Bonecos Gigantes e Mirins de Olinda, na rua Bispo Coutinho, 780. Ao entrar, o público encontrará Ariano Suassuna, Luiz Gonzaga, Naná Vasconcelos, Maestro Forró e outras tantas figuras representativas da cultura brasileira. Todos bonecos gigantes. O maior é o de Gonzagão, com 35 kg, explica André Vasconcelos, mestre bonequeiro e um dos responsáveis pelo espaço.
No local há ainda os bonecos voltados para crianças de 10 a 14 anos, que pesam entre 1kg e 2 kg. É uma forma de passar para as novas gerações a arte dos bonecos gigantes. "A cultura não pode parar, ela sempre tem de estar em movimento. A gente que é carnavalesco gosta de fazer cultura, fazer a alegria do povo, a democracia", defende. Quem quiser ver os bonecos é só percorrer as ladeiras olindenses durante o Carnaval ou visitar o espaço cultural durante o ano. Nas terças-feiras de Carnaval o público pode apreciar o tradicional desfile de bonecos gigantes, historicamente organizado por Silvio Botelho, pai de André.
Casa dos Bonecos Gigantes de Olinda
Onde: rua Bispo Coutinho, 780 - Carmo, Olinda
Visitação: diariamente, de 9h às 18 horas
Quanto: R$ 10 por pessoa
2ª parada: Frevo
Nos caminhos de nossa viagem, que fizemos ao lado de colegas jornalistas de outros cantos do País, pudemos compreender um pouco mais sobre o frevo (mesmo depois de tantas férias curtidas em terras pernambucanas). Ele se divide em três os tipos: o de rua (todo instrumental, com base de metais), o frevo-canção (um ritmo mais lento, todo orquestrado) e o frevo de bloco (cantado, parecendo muito com as tradicionais marchinhas). Para conhecer melhor a trajetória do ritmo, que incorpora passos da capoeira, o viajante pode ir ao Paço do Frevo.
Paço do Frevo
Onde: Rua da Guia, s.n - Recife
Funcionamento: de terça a sexta, de 9h às 16h30min. Sábado e domingos, de 14h às 17h30min. Fecha às segundas
Quanto: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia). Gratuito às terças
3ª parada: Maracatu
Seguindo nossa viagem, fizemos uma parada na cidade de Nazaré da Mata, distante 66 km da Capital. A localidade é considerada o berço do maracatu rural (baque solto), que surgiu no século XIX como brincadeira de "homens que se vestiam de mulheres". No antigo matadouro da cidadezinha está o Centro Cultural de Nazaré da Mata, que narra a história do maracatu rural.
O grande destaque deste maracatu é o "caboclo de lança", que usa adereços coloridos por todo o corpo, cravo branco na boca (para proteção), chocalhos, óculos escuros, uma cabeça (um tanto pesada) com tiras coloridas e, claro, uma lança nas mãos. A brincadeira agrupa recursos de outros folguedos, como pastoril, cavalo-marinho e reisado.
Diferentemente deste estilo, há ainda o maracatu nação (baque virado), manifestação mais comum na região metropolitana do Recife, que tem suas origens em Portugal (com a coração de reis negros) e se firmou nas senzalas no tempo da escravatura. É possível encontrar apresentações destes ritmos durante o Carnaval do Recife. Na segunda-feira, 24, por exemplo, a Avenida do Forte receberá Concurso de Agremiações, a partir de 10 horas.
4ª parada: La Ursa
"La Ursa quer dinheiro, quem não der é pirangueiro". É comum ouvir estes dizeres vindos de pessoas usando uma máscara artesanal de papel machê colorida. É a La Ursa, um ícone do Carnaval pernambucano, com origem italiana, trazida para o Brasil. A cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife, quer se firmar no roteiro carnavalesco e fazer com que o público conheça os cinco blocos de ursos que há na cidade. "São Lourenço chegou a ter 35 agremiações de La Ursa. Hoje não passam de cinco que conseguiram resistir", conta Antônio Mendes, secretário de Cultura, Esporte e Juventude do município. Temos o projeto "Dê um Pulo em São Lourenço", com a (empresa de transporte) 99. A gente quer criar um turismo de experiência, para as pessoas virem conhecer São Lourenço confeccionar máscaras, roupas, instrumentos. Existe toda uma maquinária própria. Queremos perpetuar a tradição". Além do Carnaval, é possível encontrar cortejos durante todo o ano.
5ª parada: Papangus
A cidade de Bezerros, no agreste pernambucano, não é conhecida apenas por ser a terra do artista J.Borges. É lá onde os papangus se fazem fortes na tradição. A brincadeira ainda mete medo em muita gente e virou coisa séria, participando de Carnavais na Sapucaí, inclusive. A tradição parte de uma brincadeira centenária de pessoas que saiam mascaradas por entre as festas e comiam angu (daí o nome papa-angu). Em Bezerros, o público pode encontrar o Memorial do Papangu. Uma dica é conhecer o ateliê de Lula Vassoureiro, que abre seu espaço para turistas, com exposição das máscaras e demonstração do processo de feitura dos objetos.
Ateliê de Lula Vassoureiro
Onde: rua Otávia Bezerra Vilanova, 64, Santo Amaro
Visitação: aberto diariamente, das 8h às 12h e das 13h às 16h
Informações: (81) 99102 0665.