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Terror explora vício da juventude em aplicativos de celulares
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Terror explora vício da juventude em aplicativos de celulares

Misturando demônios, tecnologia e discurso contra assédio, "A Hora da Sua Morte" é terror formulaico e despretensioso. O longa é escrito e dirigido pelo estreante Justin Dec
Tipo Análise
Personagem do prólogo do filme, Courtney é a primeira vítima do aplicativo Countdown em A Hora da Sua Morte
 (Foto: STXfilms / divulgação)
Foto: STXfilms / divulgação Personagem do prólogo do filme, Courtney é a primeira vítima do aplicativo Countdown em A Hora da Sua Morte

Depois de fitas VHS, telefones fixos e webcams funcionarem como pontos de partida para a criação do horror no cinema, é a vez do aplicativo de celular tomar o posto. A Hora da Sua Morte, longa estadunidense dirigido e escrito pelo estreante Justin Dec e protagonizado por Elizabeth Lail (das séries Era Uma Vez e Você), traz como mote principal um app chamado Countdown ("contagem regressiva") que promete dizer exatamente quando o usuário morrerá. Com premissa inicial interessante, o filme prefere se aliar a clichês do gênero - mas o faz, pelo menos, de forma honesta.

Em um prólogo didático, o "funcionamento" do aplicativo é ilustrado: um grupo de amigos baixa o Countdown numa festa para se divertir, sem ler os "termos e condições" de uso, e cada um recebe distintas contagens regressivas. Uns riem e fazem troça, enquanto a jovem Courtney fica receosa por "ter" poucas horas. No término da festa, ela opta por não voltar para casa de carona com Evan, seu namorado embriagado, numa tentativa de "burlar" o possível destino. Recebe, então, uma notificação de que o "acordo" com o app foi violado e passa a ser perseguida por figuras demoníacas - até morrer na hora que se encerra a contagem. Em paralelo, descobre-se que Evan sofreu um acidente de carro que teria vitimado a jovem.

É quando surge a protagonista, Quinn Harris, enfermeira do hospital onde o rapaz fica internado. Confidente do jovem, descobre sobre o destino de Courtney e também que a contagem dele é de horas. Sem acreditar realmente no relato, baixa o app com os colegas de trabalho e descobre que lhe restam dias de vida, apenas para, pouco depois, saber que Evan realmente morreu. A partir daí, Quinn passa a tentar deter o que o destino a reserva. Apesar da premissa com potencial - afinal, fazer de um aplicativo um dispositivo de maldições tem algo de engenhoso no contexto contemporâneo -, A Hora da Sua Morte não abre espaço para criar maiores mistérios ou mesmo uma "mitologia" em torno do Countdown. Frontal, assume-se desde o princípio como uma trama de demônios e, sem maiores explicações, parte para o que se conhece por "jumpscare" no terror - ou seja, aqueles sustos mais abruptos. É uma escolha que revela a opção do filme pela falta de sutileza, seja estética ou narrativa.

É justamente por conta dessa opção que é possível até ver o longa como um comentário bem-humorado - mesmo que raso - sobre a relação com a tecnologia. Afinal, quem lê todos os termos e condições de um aplicativo? E quantos usuários não já baixaram o app "da moda" que promete qualquer graça aleatória e, enquanto isso, pega vários dados para grandes corporações? Há, ainda, as pinceladas sobre as fake news, como quando Quinn vê num fórum de internet que vários usuários encaram o aplicativo como uma farsa ou até mesmo numa rápida aparição de um personagem conspiratório que defende o terraplanismo.

Outra abordagem de discussão sobre o "real versus falso" que tem espaço no filme é uma inspirada no movimento #MeToo, que surgiu nos Estados Unidos como uma campanha contra o assédio e a violência de gênero. Nele, mostra-se um embate de versões de uma acusação de assédio no trabalho. Apesar deste ser um tema também contemporâneo e importante, encontra pouco aprofundamento e razão de ser, destoando até mesmo do restante da trama - ainda que este seja um emaranhado de abordagens das mais distintas entre si.

Entre tramas do gênero que são mais comprometidas em refletir questões sociais e históricas e outras que existem quase que em modelo "industrial", pegando carona em fórmulas que se provaram bem-sucedidas, podemos dizer que se encontra A Hora da Sua Morte. Com potencial para mais, acaba contentando-se em cumprir clichês da fórmula do terror sem maiores ousadias, surpresas ou pretensões - a não ser, é claro, a de dar início a, quem sabe, uma futura franquia.

 

A Hora da Sua Morte

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