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Cinderela completa 70 anos com influências em diversas linguagens
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Cinderela completa 70 anos com influências em diversas linguagens

| atualidade | Conto da Disney celebra 70 anos e, em meio a releituras da personagem em vertentes da arte da cultura, surge discussão sobre o reposicionamento da princesa na sociedade
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Não é preciso ser fã de contos de fadas para conhecer a história de Cinderela. Tampouco ter assistido às diversas produções cinematográficas que têm a princesa como protagonista. Também não é necessário ser criança para ler, mais uma vez ou pela primeira vez, alguns dos contos literários nos quais ela aparece. A chegada de Cinderela à Disney, quando teve sua história popularizada no mundo todo, celebrou 70 anos no último dia quatro.

A data, contudo, é um convite para resgatar a trajetória de Ela, que cresceu com sua madrasta má como criada da casa. Até que, no dia do grande baile, aparece sua fada madrinha, transforma as roupas desgastadas em um luxuoso vestido azul, abóboras em uma elegante carruagem e a entrega uma missão: retornar para casa antes da última badalada do relógio, quando o feitiço iria acabar. O sapatinho de cristal é esquecido na escadaria do palácio e torna-se, então, um imã que une Cinderela ao seu príncipe encantado.

Ao longo dos anos, a história ganhou releituras em diversas vertentes da arte e da cultura. Na moda, para citarmos algumas, o vestido da atriz e cantora Zendaya no Met Gala do ano passado fez uma representação - à la conto de fadas - da princesa. A  produção assinada pelo stylist Law Roach e desenvolvida pela Tommy Hilfiger ganhou inclusive luzes de led que acenderam durante a caminhada da americana pelo tapete vermelho. Outros elementos como a clutch em formato de carruagem e uma breve encenação na subida da escadaria, com direito a esquecer o sapatinho de cristal, foram incorporadas por Zendaya.

Ainda na moda, o estilista Randy Fenoli, referência no mercado de noivas, buscou inspiração em Cinderela para um de seus modelos, que fez parte de episódio da última temporada do reality O Vestido Ideal. Marcas como Melissa, Alexandre Birman e Repetto também trouxeram referências para suas coleções.

Em produções cinematográficas, a personagem surgiu diversas vezes. Temos A Nova Cinderela: Para Sempre Cinderela (1998), A Nova Cinderela (2004), Outro Conto da Nova Cinderela (2008), A Nova Cinderela: Era Uma Vez Uma Canção (2011) e, na última releitura assinada pela Disney, Cinderela (2015). Mais recente, em 2019, Cinderela Pop, produção brasileira, trouxe Maysa como protagonista e levantou questões sociais na trama. A princesa enfeitiçada com vestidos e carruagens de luxo foi esquecida para entrar uma menina casual, descontraída e que, nem sempre, vai ter um final feliz.

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Sete décadas após do lançamento do conto, talvez, encontrar um príncipe encantado ou usar um sapato de cristal não sejam o desejo da mulher atual. Ana Luiza Palhares, criadora do Instagram Cinderela de Mentira, com mais de 119 mil seguidores - até o fechamento desta edição - levanta a questão por meio da plataforma digital, que também se estende no Youtube e blog de nomes homônimos. Beleza e autoestima são os segmentos que vão ao encontro do discurso da mineira.

"Eu levanto a bandeira da liberdade para cada uma de nós mulheres sermos quem a gente quiser ser. Por isso vem o contraponto do 'de mentira' no nome. Não necessariamente precisamos ser princesas o tempo todo, só se a gente quiser e quando a gente quiser", comenta.

Escolher Cinderela como referência para dar voz à sua causa foi estrategicamente pensado: "Eu escolhi a Cinderela porque eu acredito que ela foi a princesa mais bem resolvida da minha geração. Ela só queria um belo baile com um vestido bonito e um sapato perfeito. Sem ter medo de voltar para a realidade", explica a criadora de conteúdo digital.

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Na contramão, a perspectiva de Olívia Tavares, historiadora e educadora, acredita que Cinderela não é listada como uma boa história para representação da causa feminista dentro do mundo Disney. As característica de conto de fadas e o desfecho do casamento com o príncipe encantado, para ela, caminha de encontro com a desconstrução retratada nos dias de hoje.

"Eu acredito que, na última releitura do filme assinado pela Disney, principalmente, não aconteceu qualquer tipo de desconstrução em relação a padrões de 70 anos atrás, por conta da falta de receptividade do público com essas modificações. Mudar algo na história original ainda não é bem aceito por boa parte das pessoas. Então, eles fazem com muita cautela. Os relacionamentos continuam sendo representados de uma mesma forma. A felicidade vem com o final feliz no desfecho do casamento", pontua Olívia.

A mensagem do filme, num modo geral, pelo olhar da educadora, incentiva a mulher a sempre ser gentil e ter boas maneiras. Fora isso, a profissional analisa a falta de multiplicidade de finais felizes que poderiam surgir para a personagem. Por que não ser feliz sem reencontrar o príncipe encantado?

"A Cinderela renova muito pouco e não traz uma perspectiva de se desvencilhar. É uma mensagem de um filme que precisa avançar muito enquanto sociedade, principalmente quando temos questões sendo tratadas de uma maneira que tenta ser cada vez mais clara sobre feminismo", esclarece.

Passadas as reflexões, te convidamos a pensar: qual Cinderela devemos mostrar para o mundo?

 

No cinema

A americana Lily James foi a escolhida para viver Ela na última produção assinada pela Disney, na companhia de Cate Blanchett, que interpretou a madrasta má. Há especulações de que um novo filme, sem assinatura da Disney, promete ser lançado em 2021. Com nome homônimo, a trama será um musical de comédia romântica americana. Mais informações ainda não foram confirmadas.

Releituras

Atriz Zendaya, foto da esquerda, cruzou o tapete vermelho no Met Gala em 2019 de Cinderela. O impacto de releituras na moda foi ainda mais forte no ano de 2015, quando a Disney produziu o último filme da princesa, até então. Nesta época, o design Alexandre Birman lançou coleção de sapatos e a grife francesa Repetto de bolsas - todas com referência em Cinderela (nas fotos)

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